quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Cem anos em canto - Concerto do Centenário da Escola de Música da UFMG

No dia 9 de abril de 2025, tive a honra de reger o Ars Nova - Coral da UFMG no concerto comemorativo dos 100 anos da Escola de Música da UFMG, realizado no auditório da própria Escola.

Como professor de Regência desta instituição, participar dessa celebração foi mais do que conduzir um concerto: foi testemunhar a continuidade de um legado que atravessa gerações.

Cada gesto naquele palco parecia carregar algo que vinha de longe — ecos de mestres, memórias de sons, traços de uma história construída por tantos.

Regia o coro, mas também sentia que fazia parte de uma mesma corrente, uma linhagem que mantém viva a tradição de ensinar e aprender através da música.

O texto a seguir foi escrito para introduzir a apresentação do Ars Nova naquela noite. Ele marcou o início do concerto e, de certo modo, também expressou o sentido do que vivemos: uma celebração da arte, da memória e do tempo que continua a nos conduzir.

 

Senhoras e senhores, boa noite!

Esta noite celebramos uma travessia: cem anos de música, de histórias e de memórias que ecoam das paredes deste prédio e do velho Conservatório. Cem anos de mãos que ensinam e aprendem, de vozes que se encontram, de corações que batem ao compasso da criação musical.

Esta noite é um rito.

E como todo rito, tem um chamado, uma construção e uma celebração.

Começamos com o chamado: Exsultate Deo, de Alessandro Scarlatti.

Uma tradição que carrega a memória de Carlos Alberto Pinto Fonseca, nosso mestre maior, que tantas vezes escolheu essa peça para abrir os concertos do Ars Nova. Hoje, ela ressoa como um convite à exultação — ao júbilo que inaugura não apenas esta noite, mas também um novo ciclo para a nossa Escola.

Em seguida, percorremos o caminho da construção com The Making of the Drum, de Bob Chilcott.

Esta obra conta como nasce o tambor: a pele, a madeira, os bastões, as cabaças, e o som que só existe porque alguém o faz vibrar.

Como o tambor, a Escola de Música foi feita da matéria viva da dedicação de cada pessoa que a construiu. Sacrifícios, ofícios, talentos e paixões que, juntos, formaram este grande instrumento coletivo que pulsa até hoje.

Porque, como o tambor, a Escola só vive se for tocada — e se permitir ser tocada — por todas as vozes, mãos e corpos que insistem em permanecer, criar, ensinar, aprender e transformar.

Para encerrar celebrando, damos voz à nossa música popular.

Pra Machucar Meu Coração e Lata D’água nos lembram que a música pulsa também nas ruas, nos quintais, nas comunidades que constroem, todos os dias, sua própria resistência e beleza.

E a imagem da lata d’água na cabeça fala profundamente: simboliza o peso das responsabilidades, a força necessária para sustentar o lar, e a coragem de Maria subindo o morro — como tantas mulheres brasileiras.

Mas também reflete a construção e a permanência da nossa Escola: sustentada por quem carrega, dia após dia, o peso e a honra de manter viva a tradição e a esperança.

Que esta noite seja mais que uma lembrança.

Que seja uma promessa: a de continuarmos construindo juntos o som que atravessará os próximos cem anos.

E que a música, sempre ela, nos conduza.

Clique aqui para assistir: 09.04.2025 - Coral Ars Nova nos 100 anos da Escola de Música da UFMG


A apresentação começa no minuto 4:35.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo texto, imagino a emoção.

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