No dia 9 de abril de 2025, tive a honra de reger o Ars Nova - Coral da UFMG no concerto comemorativo dos 100 anos da Escola de Música da UFMG, realizado no auditório da própria Escola.
Como professor de Regência desta instituição,
participar dessa celebração foi mais do que conduzir um concerto: foi testemunhar
a continuidade de um legado que atravessa gerações.
Cada gesto naquele palco parecia carregar algo que vinha de
longe — ecos de mestres, memórias de sons, traços de uma história construída
por tantos.
Regia o coro, mas também sentia que fazia parte de uma mesma
corrente, uma linhagem que mantém viva a tradição de ensinar e aprender através
da música.
O texto a seguir foi escrito para introduzir a
apresentação do Ars Nova naquela noite. Ele marcou o início do concerto e,
de certo modo, também expressou o sentido do que vivemos: uma celebração da
arte, da memória e do tempo que continua a nos conduzir.
Senhoras e senhores, boa noite!
Esta noite celebramos uma travessia: cem anos de música,
de histórias e de memórias que ecoam das paredes deste prédio e do velho
Conservatório. Cem anos de mãos que ensinam e aprendem, de vozes que se
encontram, de corações que batem ao compasso da criação musical.
Esta noite é um rito.
E como todo rito, tem um chamado, uma construção e uma
celebração.
Começamos com o chamado: Exsultate Deo, de
Alessandro Scarlatti.
Uma tradição que carrega a memória de Carlos Alberto
Pinto Fonseca, nosso mestre maior, que tantas vezes escolheu essa peça para
abrir os concertos do Ars Nova. Hoje, ela ressoa como um convite à exultação —
ao júbilo que inaugura não apenas esta noite, mas também um novo ciclo para
a nossa Escola.
Em seguida, percorremos o caminho da construção com The
Making of the Drum, de Bob Chilcott.
Esta obra conta como nasce o tambor: a pele, a madeira, os
bastões, as cabaças, e o som que só existe porque alguém o faz vibrar.
Como o tambor, a Escola de Música foi feita da matéria viva
da dedicação de cada pessoa que a construiu. Sacrifícios, ofícios, talentos e
paixões que, juntos, formaram este grande instrumento coletivo que pulsa até
hoje.
Porque, como o tambor, a Escola só vive se for tocada — e
se permitir ser tocada — por todas as vozes, mãos e corpos que insistem em
permanecer, criar, ensinar, aprender e transformar.
Para encerrar celebrando, damos voz à nossa música popular.
Pra Machucar Meu Coração e Lata D’água
nos lembram que a música pulsa também nas ruas, nos quintais, nas comunidades
que constroem, todos os dias, sua própria resistência e beleza.
E a imagem da lata d’água na cabeça fala
profundamente: simboliza o peso das responsabilidades, a força necessária para
sustentar o lar, e a coragem de Maria subindo o morro — como tantas mulheres
brasileiras.
Mas também reflete a construção e a permanência da nossa
Escola: sustentada por quem carrega, dia após dia, o peso e a honra de manter
viva a tradição e a esperança.
Que esta noite seja mais que uma lembrança.
Que seja uma promessa: a de continuarmos construindo
juntos o som que atravessará os próximos cem anos.
E que a música, sempre ela, nos conduza.
Clique aqui para assistir: 09.04.2025 - Coral Ars Nova nos 100 anos da Escola de Música da UFMG
A apresentação começa no minuto 4:35.
Um comentário:
Lindo texto, imagino a emoção.
Postar um comentário