terça-feira, 16 de dezembro de 2025

New Dublin Voices — Uma descoberta recente que merece atenção

Entre as boas descobertas que fiz nessas semanas, encontrei o New Dublin Voices, um coro irlandês fundado em 2005 e que rapidamente se firmou como um dos conjuntos mais refinados da cena coral europeia. A primeira impressão já diz muito: um som limpo, organizado, com afinação exemplar e uma atenção constante ao texto. 

Mas, o que mais me chamou minha atenção foi a capacidade de transitar entre repertórios muito diferentes sem perder identidade. A mesma coerência aparece tanto em Victoria quanto em Stanford, ou em arranjos contemporâneos de tradição celta. A estética do coro é definida: transparência, equilíbrio e escolhas interpretativas sempre muito conscientes.

Deixo aqui três vídeos que representam bem esse universo sonoro e que foram, para mim, a porta de entrada:

 🎧 It Don't Mean a Thing by Duke Ellington, arr. by A. Edenroth. NEW DUBLIN VOICES at IBSCC 2025 GPC

Homem de terno e gravata e pessoas ao fundo

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🎧 New Dublin Voices - "Blackbird/I Will" arr. Rathbone

Grupo de pessoas posando para foto

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🎧 New Dublin Voices - "Wade in the Water" by Allen Koepke

Pessoas de terno e gravata

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E para quem quiser explorar mais: 🔗 Página oficial: https://www.newdublinvoices.com


 

 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Rebecca Dale: Uma Compositora Precoce

Descobrir The Cloths of Heaven me levou inevitavelmente ao nome por trás da obra: Rebecca Dale, compositora britânica que, apesar da juventude, já ocupa um lugar relevante na música coral e sinfônica contemporânea. Seu trabalho chama atenção pela forma como transforma poesia e afetividade em textura sonora.

Nascida em 1985, em Londres, começou a compor muito cedo e estudou em Oxford. Transita entre a música de concerto e a composição para cinema, sempre com uma escrita tonal, clara e emocionalmente direta. Sua linguagem combina delicadeza, narrativa e uma compreensão precisa da voz humana.

Em 2018, tornou-se a primeira compositora mulher a assinar com a Decca Classics. Seu álbum Requiem for My Mother alcançou o topo das paradas clássicas britânicas. Desde então, sua música vem sendo interpretada por orquestras e grupos como a Philharmonia, a Royal Liverpool Philharmonic, o London Mozart Players e o Voces8, que difundiu The Cloths of Heaven.

Além do repertório coral, Dale atua intensamente no audiovisual, compondo para BBC, Disney, Working Title e Sky. Em 2023, uma obra sua foi escolhida para a coroação do Rei Charles III, um indicativo da amplitude de seu trabalho.

Conhecer Rebecca Dale é perceber que a música contemporânea pode ser profunda sem ser hermética. Sua escrita trata o íntimo com seriedade e o simples com respeito. Talvez, por isso, soe tão bem.

Se tiverem curiosidade, visitem a página dela em: HOME | Rebecca Dale


E mais uma peça para ouvirem: 🎬 Rebecca Dale: Panis angelicus – Reimagined

 





 

 


domingo, 14 de dezembro de 2025

Uma nova descoberta: The Cloths of Heaven, de Rebecca Dale

The Cloths of Heaven, de Rebecca Dale. Essa é mais uma descoberta que me pegou desprevenido. Encontrei a peça por acaso no YouTube, na interpretação do Voces8, e imediatamente reconheci ali uma delicadeza que merece ser compartilhada.

A música me levou ao poema original de William Butler Yeats, Aedh Wishes for the Cloths of Heaven. Trata-se de um texto curto sobre amor, humildade e entrega. O eu-lírico começa oferecendo “os tecidos do céu”, bordados de ouro e prata, mas logo admite que não os possui. O que tem, e o que oferece, são seus sonhos, colocados aos pés da pessoa amada, com o pedido para que ela pise leve. Lindo por si só.

Na peça, o poema ganha corpo: a leveza dos versos vira textura vocal; a simplicidade do gesto se traduz em tessituras acessíveis e em frases que exigem atenção ao detalhe e ao respiro coletivo. Não é um canto de ostentação, mas um canto de cuidado. É uma música que convida à escuta interna, ideal para coros que trabalham expressividade e precisão, e, por isso, imagino que funcione bem em formações diversas, inclusive coros com vozes mais maduras, em que a musicalidade depende mais da intenção do que da virtuosidade. 

O que mais me impressionou foi a coerência entre poema e música. Assim como Yeats oferece seus sonhos, Dale oferece à voz um espaço para entregá-los também, com simplicidade e sobriedade. É uma obra curta, luminosa, e que diz muito, mesmo dizendo pouco. Exatamente como os bons poemas, e as boas músicas, costumam ser.

Para acompanhar o post, deixo aqui a gravação que ouvi, e que recomendo: Voces8 – The Cloths of Heaven (Rebecca Dale)

🎬 https://www.youtube.com/watch?v=UPhb0OYVeGw

  



 The Cloths of Heaven

William Butler Yeats

Had I the heavens' embroidered cloths

Enwrought with golden and silver light

The blue and the dim and the dark cloths

Of night and light and the half-light,

 

I would spread the cloths under your feet:

But I, being poor, have only my dreams;

I have spread my dreams under your feet;

Tread softly because you tread on my dreams.

 

Tradução livre:

Os Tecidos do Céu

William Butler Yeats

Se eu tivesse os tecidos bordados do céu,

Tramados com luz dourada e prateada,

Os tecidos azuis, tênues e escuros

Da noite, da luz e da meia-luz,

 

Eu estenderia esses tecidos sob os seus pés;

Mas eu, sendo pobre, tenho apenas meus sonhos;

Estendi meus sonhos sob os seus pés;

Pisa suavemente, pois pisas nos meus sonhos.

 


sábado, 13 de dezembro de 2025

Riu Riu Chiu - Viva Amin Feres!!!

Ouvir Riu Riu Chiu na apresentação do Coro da Nova, dias atrás, foi como abrir uma janela para o passado. A peça, um villancico (canção natalina tradicional em espanhol) anônimo do Cancionero de Upsalla (1556), é conhecida pelo seu caráter rítmico, pelo refrão onomatopaico e pela ligação direta com o repertório natalino ibérico do século XVI. 

Mas, para mim, ela carrega também um significado muito particular: foi uma das obras marcantes do repertório do Madrigal Renascentista, especialmente nos primeiros anos do grupo sob a direção de Isaac Karabtchevsky. O Madrigal cantou Riu Riu Chiu repetidas vezes, e, naquele período inicial, o solo era interpretado por uma figura que deixou marca profunda no canto coral e na música brasileira: Amin Feres.

 

Amin Feres (1934–2006) foi um dos grandes nomes da música vocal no Brasil no século XX. Barítono-baixo de timbre firme e presença marcante, atuou intensamente como solista em obras sinfônicas e camerísticas. Foi professor da Escola de Música da UFMG e formou gerações de cantores.

Sua atuação com o Madrigal Renascentista, ainda jovem, compõe um capítulo importante da construção estética do grupo. Amin tinha exatamente o tipo de voz que dá corpo ao estribilho de Riu Riu Chiu: firme, rítmica, estilisticamente apropriada ao caráter popular-renascentista do villancico, e capaz de sustentar o colorido percussivo da linha vocal.

Ao ouvir a peça com o Coro da Nova, a memória veio inteira: o timbre do Amin, a condução de Karabtchevsky, e aquela maneira muito particular que o Madrigal tinha de lidar com repertórios ibéricos: com clareza, energia e rigor estilístico.

 

Riu Riu Chiu é um exemplo típico da circulação musical do século XVI: recolhido no Cancionero de Upsalla; composto anonimamente na tradição espanhola; e reinterpretado séculos depois por coros de todo o mundo. Ou seja: uma peça que atravessa geografias e gerações.

Karabtchevsky e o Madrigal tiveram papel importante em introduzir esse repertório ao público brasileiro, e o solo de Amin, sempre bem-humorado, ritmado e seguro (como ele era), consolidou a obra no imaginário do grupo. Faz parte daquela memória que, à distância, se torna ainda mais nítida.

Para ilustrar esta lembrança, incluo uma gravação histórica do Madrigal Renascentista cantando Riu Riu Chiu, com o solo de Amin Feres. Não é apenas um registro musical: é um documento afetivo e estético de um momento fundamental na trajetória do coro. Apreciem:

🎬 Madrigal Renascentista - Riu, riu, chiu (1959)

 


sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Encontro de Corais do NMC (final): Música Como Comunidade

(Por Bambis e Arnon Oliveira)

Encerramos esta série sobre o Encontro de Corais do NMC com uma reflexão que atravessa tudo o que vivemos naquele domingo: o papel do Núcleo como espaço de formação, pertencimento e comunidade.

O NMC nasce de uma premissa simples e profunda: oferecer à universidade e à cidade um ambiente em que pessoas possam cantar, aprender e se reconhecer por meio da música coral.

O encontro mostrou isso com nitidez. Cada coro, Litterarum, Engenharia e FALE, trouxe ao palco sua identidade, seu percurso e sua maneira de viver a música. E, ao fazê-lo, evidenciou que o NMC não é um projeto isolado: é uma rede de relações que se fortalecem a cada ensaio, a cada apresentação, a cada gesto de cuidado entre os grupos. A plateia respondeu da mesma forma. Participou, cantou, ouviu, integrou-se ao ambiente artístico que se formou. A música, ali, não era espetáculo distante: era convivência.

E talvez por isso a imagem final de “Noite Feliz”, cantada por todos, tenha sido tão marcante. Coros misturados, vozes entrelaçadas, ausência completa de fronteiras entre grupos. Um único corpo vocal ocupando o palco, não como demonstração técnica, mas como demonstração de comunidade.

Para nós, que trabalhamos diariamente para sustentar o NMC, aquele instante sintetizou algo fundamental: quando a música encontra pessoas dispostas a partilhar, ela se torna maior do que qualquer grupo. É esse espírito que desejamos cultivar.

E é por isso que seguimos: para que encontros como este continuem sendo possíveis, transformadores e acessíveis a todos.

Ah! E aqui só falamos de 3 coros que constituem o NMC. Com o passar do tempo, nos verão falando dos demais, pois novos eventos já estão programados. Até lá!!! 



Ah 2!!! E pra quem não conhece a Bambis...



E, aqui, o Noite Feliz:






 


quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Encontro de Corais do NMC (4): Coral da FALE - A Força de uma Comunidade que Canta Junto

(Por Bambis e Arnon Oliveira)

Entre os coros do Núcleo de Música Coral, há um que se impõe naturalmente, não pela grandiosidade vazia, mas pela soma rara de organização, entrega e maturidade musical: o Coral da FALEÉ o maior grupo, tanto em número quanto em nível técnico, e assistir à sua apresentação é sempre perceber o quanto um coro amador pode ser, quando é guiado com cuidado, estrutura e visão artística.

Sob a regência de Phill Rezende, o grupo encontrou um horizonte firme. Phill sabe ler o potencial humano da FALE com lupa: identifica os talentos, respeita as limitações, cria espaço para que todos se reconheçam como parte de algo maior. Apesar de não ter um pianista oficial, o coro sustenta sua excelência por meio de um modelo interno que impressiona: há diretoria ativa, chefes de naipe atentos, assistentes formais e uma cultura de responsabilidade compartilhada.

Nada disso é burocracia, é método de cuidado. A seleção das músicas refletiu a inteligência artística do grupo: Jangadeiro; Ai, que saudade d’ocê; Locus Iste; Adeste FidelesHá aqui uma travessia entre o sacro e o popular, o erudito e o afetivo, e o coro percorre essa ponte com segurança e naturalidade.

O Coral da FALE tem técnica, sim, mas tem também algo mais raro: unidade de intenção. Canta com orgulho. Canta com propósito. É possível sentir que cada obra foi escolhida para revelar uma nuance do grupo: a precisão harmônica, o vigor rítmico, a ternura brasileira, a ressonância que se abre no corpo inteiro.

Enquanto alguns coros brilham pela espontaneidade e outros pela invenção, o Coral da FALE se destaca pela elegância, aquela elegância que não faz barulho, mas impõe respeito. O som é limpo, o fraseado é cuidado, as entradas são seguras. E, acima de tudo, há uma consciência estética que parece atravessar todos os cantores. É inspirador ver um grupo amador operar com esse nível de maturidade. E é gratificante saber que essa excelência vem de um espaço de afeto e pertencimento, não de pressão.

No encontro daquele domingo, 30/11, a presença do FALE serviu como testemunho vivo do propósito do Núcleo: formar comunidade, promover arte acessível, criar ambientes de transformação. 

O Coral da FALE é a prova de que, quando estrutura, afeto e música se alinham, um coro universitário deixa de ser um projeto e vira um organismo vivo, pulsante, inspirador. Eles cantam como quem sabe que está construindo um legado. E nós, do NMC, cantamos com eles, e aprendemos, a cada apresentação, que excelência e humanidade podem caminhar juntas.









quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Encontro de Corais do NMC (3): Coral da Engenharia - A Elegância do Essencial

(por Bambis e Arnon Oliveira)

Alguns coros encantam pela grandiosidade, pela quantidade de vozes, pela densidade sonora. O Coral da Engenharia encanta por outra via: pela elegância do essencial. 
É um grupo menor, amador, que enfrenta desafios muito concretos, especialmente a divisão em quatro vozes, mas que transforma esses limites em potência criativa. Sob a regência de Gustavo Paiva, o coro encontrou uma identidade que não tenta imitar nenhum modelo idealizado. Pelo contrário: o grupo floresce exatamente onde está, com os recursos que tem, e cria a partir disso uma expressão muito própria.

Trabalhar com poucos cantores exige precisão, escuta próxima e humildade artística. Cada entrada conta, cada respiração se torna estrutural. Cada voz individual precisa compreender o desenho do todo. E é justamente aí que o Coral da Engenharia se destaca: na capacidade de fazer muito com pouco, de oferecer um resultado musical que surpreende pela naturalidade. Nada soa forçado, nada soa maior do que pode ser. O coro faz sua música dentro da sua verdade, e isso chega ao público com nitidez. Canta um repertorio elegante, e consegue entregar com qualidade o que propõe, principalmente considerando todas as limitações.

A escolha do repertório para o encontro revelou o cuidado do Gustavo em dar ao grupo uma paleta musical variada e significativa:
• When Jesus Wept
• Sanctus
• Cantata Louvação para Irmãs Clarissas (Frei Joel – Louvores de São Francisco)
• Dois Rios
É um leque que atravessa o sacro e o popular, o introspectivo e o expansivo. E o coro respondeu a essa variedade com uma musicalidade tocante, encontrando caminhos para interpretar cada obra de modo coerente, simples e verdadeiro. Não se trata de exibir virtuosismo, mas de servir a música. E essa postura, no contexto de um coro amador universitário, é uma conquista rara.

O Coral da Engenharia é feito por estudantes de um curso intensamente técnico, pesado, exaustivo. E talvez por isso mesmo, cantar se torne ali um ritual de respiro, uma pausa que reorganiza o mundo. E esse ritual/canto é honesto, limpo e coerente. E essa honestidade musical, quando encontra um bom regente e um repertório escolhido com inteligência, produz algo que talvez seja a verdadeira essência do canto coral universitário: a arte feita de encontro, de tentativa, de alegria simples e de compromisso com o que é possível. E, como sabemos, o possível, quando iluminado, vira belo.









New Dublin Voices — Uma descoberta recente que merece atenção

Entre as boas descobertas que fiz nessas semanas, encontrei o New Dublin Voices , um coro irlandês fundado em 2005 e que rapidamente se firm...