(Por Bambis e Arnon Oliveira)
Entre os coros do Núcleo de Música Coral, há um que se impõe naturalmente, não pela grandiosidade vazia, mas pela soma rara de organização, entrega e maturidade musical: o Coral da FALE. É o maior grupo, tanto em número quanto em nível técnico, e assistir à sua apresentação é sempre perceber o quanto um coro amador pode ser, quando é guiado com cuidado, estrutura e visão artística.
Sob a regência de Phill Rezende, o grupo encontrou um horizonte firme. Phill sabe ler o potencial humano da FALE com lupa: identifica os talentos, respeita as limitações, cria espaço para que todos se reconheçam como parte de algo maior. Apesar de não ter um pianista oficial, o coro sustenta sua excelência por meio de um modelo interno que impressiona: há diretoria ativa, chefes de naipe atentos, assistentes formais e uma cultura de responsabilidade compartilhada.
Nada disso é burocracia, é método de cuidado. A seleção das músicas refletiu a inteligência artística do grupo: Jangadeiro; Ai, que saudade d’ocê; Locus Iste; Adeste Fideles. Há aqui uma travessia entre o sacro e o popular, o erudito e o afetivo, e o coro percorre essa ponte com segurança e naturalidade.
O Coral da FALE tem técnica, sim, mas tem também algo mais raro: unidade de intenção. Canta com orgulho. Canta com propósito. É possível sentir que cada obra foi escolhida para revelar uma nuance do grupo: a precisão harmônica, o vigor rítmico, a ternura brasileira, a ressonância que se abre no corpo inteiro.
Enquanto alguns coros brilham pela espontaneidade e outros pela invenção, o Coral da FALE se destaca pela elegância, aquela elegância que não faz barulho, mas impõe respeito. O som é limpo, o fraseado é cuidado, as entradas são seguras. E, acima de tudo, há uma consciência estética que parece atravessar todos os cantores. É inspirador ver um grupo amador operar com esse nível de maturidade. E é gratificante saber que essa excelência vem de um espaço de afeto e pertencimento, não de pressão.
No encontro daquele domingo, 30/11, a presença do FALE serviu como testemunho vivo do propósito do Núcleo: formar comunidade, promover arte acessível, criar ambientes de transformação.
O Coral da FALE é a prova de que, quando estrutura, afeto e música se alinham, um coro universitário deixa de ser um projeto e vira um organismo vivo, pulsante, inspirador. Eles cantam como quem sabe que está construindo um legado. E nós, do NMC, cantamos com eles, e aprendemos, a cada apresentação, que excelência e humanidade podem caminhar juntas.
