quarta-feira, 15 de outubro de 2025

The Making of the Drum — 5. The Gong-Gong

Depois de nascer da pele, da madeira, dos bastões e das cabaças, o tambor está completo. Em The Gong-Gong, Bob Chilcott encerra a obra com uma celebração: o tambor em sua forma total, agora vivo e sagrado.

O texto  é breve, mas poderoso. Ele começa com uma imagem arrebatadora: “God is dumb until the drum speaks.” Deus é mudo até que o tambor fale. Aqui, o tambor é mais do que instrumento, é voz da criação. Tudo o que antes foi moldado, o corpo, o som, o gesto e a alegria, converge neste momento final. O tambor se torna símbolo de comunicação entre o humano e o divino, e o Gong-Gong, feito de ferro, guia essa fala sagrada, como se abrisse caminho para a voz de Deus.

O poema invoca Odomankoma, a força criadora na tradição Akan, símbolo da criatividade infinita e do poder de gerar vida. Ao citar esse nome, Brathwaite reconhece que o tambor é o meio pelo qual o sagrado se manifesta no mundo: a batida humana que desperta o divino. O som do tambor, então, não pertence mais à terra, ele atravessa o limite do humano e toca o eterno.

Chilcott traduz isso em música com uma energia vibrante e luminosa. A escrita coral é ampla, pulsante, feita de contrastes entre poder e silêncio. Há momentos de chamada e resposta, de vozes que se alternam como se fossem a comunidade dialogando com o espírito. As texturas rítmicas são densas e resplandecentes, e a percussão assume um papel quase litúrgico. Em The Gong-Gong, o tambor fala, e quando ele fala, Deus responde.

A obra termina não com um ponto final, mas com uma reverberação. A música se expande para além do palco e do tempo, como se dissesse que o som da criação nunca cessa, apenas muda de forma. Aqui, um círculo sagrado se fecha. O tambor, que começou como matéria, torna-se agora espírito e palavra. Tudo vibra junto: o humano, o divino, o som e o silêncio. A obra termina com uma afirmação simples e profunda:

a música é a voz do criador que habita em nós.


Vou sugerir a audição da bela interpretação Taipei Chamber Singers, sob a regência de Yun-Hung Chen. Esta primeira peça vai do minuto 9:40 até o fim. E que tal ouvirem, em algum momento, a peça completa? 

🎧 https://youtu.be/wfFiHKXQ1dg?si=WTtlG5k0I0_bl2S8&t=580


The Gong-Gong

(Edward Kamau Brathwaite / Bob Chilcott)

God is dumb

until the drum

speaks.

The drum

is dumb

until the gong-gong leads

it.

Man made,

the gong-gong’s iron eyes

of music

walk us through the humble

dead to meet

the dumb

blind drum

where Odomankoma speaks.

 

Tradução livre:

Deus é mudo

até que o tambor

fale.

O tambor

é mudo

até que o gong-gong o guie.

Feito pelo homem,

os olhos de ferro

musicais do gong-gong

nos conduzem pelos humildes

mortos até encontrar

o tambor mudo

e cego,

onde Odomankoma fala.

 


 

Grupo de pessoas com terno e gravata

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