terça-feira, 10 de outubro de 2017

Bebendo na fonte

Aprendi, ao longo do tempo, e com alguns bons mestres, que determinadas obras musicais são como fontes de água pura, na qual se deve buscar um gole sempre. Ali, não se mata somente a sede, mas é possível se enxergar no reflexo, e se os olhos estiverem de fato abertos, notar-se-á as modificações de sua fisionomia ao longo do tempo.

Certamente, o Requiem de Brahms é daquelas “fontes” que não servem para todos, mas para aqueles que quiserem, de fato, sorver de uma água pura e miraculosa.

Estou aqui dizendo que somente alguns podem bebê-la? Não. Todos podem usufruir do precioso líquido, mas somente aqueles que estiverem verdadeiramente dispostos a apreciar o seu sabor aproveitarão, de fato, o presente.

Empáfia? Claro que não. O que acontece no nosso tempo é que muitos querem ter pronto e mastigado aquilo que foi processado com muito esforço por outros. A compreensão de determinados símbolos humanos demanda um esforço, um estudo, um agregar de informações, de viver situações, e uma busca de um crescimento interior que, no final, nada mais é do que o desenvolver da sensibilidade.

Contextualizando a fonte: um compositor, maduro aos 33 anos, retira dos mais profundos pesares (perdeu o melhor amigo e depois a mãe) a inspiração para compor uma obra que falasse da transformação do homem através da morte. Escolhe, ele próprio, os textos representativos do seu pensamento e sentimento, mas com o invulgar cuidado de não se expressar como um crente, mas como um ser humano. Essa é a informação básica para mergulhar na obra.

O que acrescentar a essa história? Simples. As outras histórias... a vivência de cada um e as suas experiências.


E quando, mais uma vez, busco essa fonte me vem a pergunta: Alimentado? Sim. Saciado? Não. Ainda demando muitos goles, e por muito tempo...

Madrigale apresentando o Requiem de Brahms
Auditório do Conservatório da UFMG
Belo Horizonte - MG