Aprendi, ao longo do tempo, e com alguns
bons mestres, que determinadas obras musicais são como fontes de água pura, na
qual se deve buscar um gole sempre. Ali, não se mata somente a sede, mas é
possível se enxergar no reflexo, e se os olhos estiverem de fato abertos,
notar-se-á as modificações de sua fisionomia ao longo do tempo.
Certamente, o Requiem de Brahms é
daquelas “fontes” que não servem para todos, mas para aqueles que quiserem, de
fato, sorver de uma água pura e miraculosa.
Estou aqui dizendo que somente alguns
podem bebê-la? Não. Todos podem usufruir do precioso líquido, mas somente aqueles
que estiverem verdadeiramente dispostos a apreciar o seu sabor aproveitarão, de
fato, o presente.
Empáfia? Claro que não. O que acontece
no nosso tempo é que muitos querem ter pronto e mastigado aquilo que foi
processado com muito esforço por outros. A compreensão de determinados símbolos
humanos demanda um esforço, um estudo, um agregar de informações, de viver situações,
e uma busca de um crescimento interior que, no final, nada mais é do que o
desenvolver da sensibilidade.
Contextualizando a fonte: um compositor,
maduro aos 33 anos, retira dos mais profundos pesares (perdeu o melhor amigo e
depois a mãe) a inspiração para compor uma obra que falasse da transformação do
homem através da morte. Escolhe, ele próprio, os textos representativos do seu
pensamento e sentimento, mas com o invulgar cuidado de não se expressar como um
crente, mas como um ser humano. Essa é a informação básica para mergulhar na obra.
O que acrescentar a essa história?
Simples. As outras histórias... a vivência de cada um e as suas experiências.
E quando, mais uma vez, busco essa fonte
me vem a pergunta: Alimentado? Sim. Saciado? Não. Ainda demando muitos goles, e
por muito tempo...
Madrigale apresentando o Requiem de Brahms Auditório do Conservatório da UFMG Belo Horizonte - MG |