terça-feira, 12 de abril de 2016

Novas peças corais: I Cannot Dance


O compositor, regente e cantor canadense Larry Nickel escreveu, em 2015, a peça I Cannot Dance para ser estreada pelo Salt Lake Vocal Artists. A obra impressiona pela maneira como explora os registros vocais sem estressá-los, o que é marca daqueles que sabem escrever bem para o instrumento coral.

Mais de uma vez, escrevi sobre esse impressionante coro e seu diretor, o maestro Brady Allred. Além de se apresentar em várias partes dos Estados Unidos, realizam regulares turnês à Europa, onde apresentam novas obras do repertório coral.


Também, muitas vezes ao me referir ao Salt Lake Vocal Artists, chamo a atenção ao posicionamento ideal dos microfones para a gravação de coros. Observem a sonoridade plena captada.


segunda-feira, 11 de abril de 2016

Fotos do 4 Cantos BDMG


Uma bela noite. Uma bela cantoria coral.
Não podia ter sido melhor o início da temporada de apresentações do Coral BDMG, abrilhantada pela participação especial dos Corais: Copasa, Melodia e São Tiago.
Um retorno ao coreto, lugar correto para apresentações musicais na praça.

Aqui, algumas fotos tiradas pelo Vinícius Peroni.






quinta-feira, 7 de abril de 2016

Quem sabe cantar o Hino?


Descobri que vários alunos dos cursos superiores de música não sabem cantar o Hino Nacional Brasileiro. Como assim, não sabem cantar o Hino? Isso mesmo. Não sabem. (Estou reafirmando porque esse “óbvio” é extensível a vários que estão lendo este post, pois sei que muitos também não sabem)

Lá pelos idos de 1970, 1980, a gente era obrigado a aprender utilizando a contracapa dos cadernos escolares. Lembram-se? A gente não podia errar. É certo que não entendíamos nada do “se o penhor dessa igualdade” ou “o lábaro que ostentas”, mas a gente tinha que fazer certinho.

Aí vieram os 1990 e 2000 e o glorioso ficou démodé. Os novos passaram a acreditar que não valia a pena aprender aquela música enorme, com aquele texto maior ainda e sem sentido nenhum. “Não nos diz nada”, dizem até hoje. E talvez vários que estão lendo vão confirmar esse pensamento.

Então, que venha o pensamento do músico professor. Meus caros, essa música continua sendo ensinada pelo Brasil a fora, por muitos que não sabem cantar direito, nem explicam do que se trata. Dessa mesma forma, várias outras músicas são ensinadas, sem um devido respeito à partitura, ao texto, à afinação, à dinâmica, etc. E entendam que esses alunos são futuros professores que terão que ensinar como se faz.


Para que os novos aprendam a estudar uma partitura e ensiná-la direito, me propus a trabalhar com eles o Hino Nacional completinho. Será um modelo para o processo de aprendizado de partitura. Daqui a algumas semanas, cantarão para toda a Escola de Música, de cor. E para que provem que sabem fazer mesmo, o regente será um aluno argentino que é da mesma turma. Filmarei e mostrarei a todos. Aguardem.


terça-feira, 5 de abril de 2016

Ah, esses jovens...


Noutro dia, ouvi um jovem músico dizendo: estou desanimado. Já estudei tanto e não consigo nada na minha área.

Quanto anos tem o mancebo? 18.... e por isso aqui reflito:

Sou de um tempo (ah! Em outros tempos eu achava que jamais diria isso) em que nós, alunos músicos, lutávamos para, simplesmente, frequentar a aula, ou participar do trabalho do professor X, ou Y.

Sou de um tempo em que o aprendizado era visto como essencial para uma escalada numa profissão ainda tida como supérflua e excêntrica.

Sou de um tempo em que a paixão pela música nos movia de uma maneira tal que enfrentávamos o mundo inteiro para sermos aceitos como respeitáveis dentro da profissão que escolhemos. Tínhamos que merecer um lugar junto a um conjunto de músicos que, para nós, eram o supra-sumo de um conhecimento e que almejávamos, um dia, chegarmos perto do que eles eram e significavam.

Ah! Mas os tempos são outros. Passados. E hoje, que poderíamos nos considerar herdeiros daquela geração que nos preparou, nos vemos no meio de uma nova geração que, por si só, são músicos qualificados e que assumem o mercado de uma maneira voraz e impura. Impura porque, despreparados, se julgam capazes de serem marqueteiros, propagandistas, administradores e... músicos.

Chamam-nos de camaradas, colegas, e se dizem muito bons no que fazem (e são mesmo). Mas se esquecem de que os maravilhosos cachês de um começo não significam muito numa trajetória musical, e aí eu vejo vários caindo pelo caminho, sem perspectiva, sem objetivo. Seria isso porque se esqueceram da paixão que os impulsionou a seguir o caminho da música? Ou seria um modismo de produção de “artistas” no nosso tempo. Meu Deus!!! Como temos artistas nesse nosso tempo!!!

Magnani fazia uma distinção entre um instrumentista e um músico. Para ele a diferença entre um e outro estava na busca constante, por parte do segundo, de uma formação intelectual, humana e espiritual, que possibilitasse a ele uma compreensão do universo musical, e que o tornasse independente de outro músico (professor) na elaboração do discurso musical. A música para além da técnica. A técnica a serviço da música, e do que de melhor se pode buscar nela.

Ser instrumentista é relativamente fácil comparado com o ser músico, e aqui, só quem é músico sabe do que estou falando. Mas, como algo inerente à juventude, paciência é uma palavra que está cada vez menos na mente, e no coração, daqueles que escolheram uma profissão extremamente difícil e que exige um aprimoramento diário, para além das escalas e arpejos.

Jovens, vocês que começam, sigam um conselho precioso: na nossa profissão é necessário termos sabedoria. Acalmem-se. Progridam. Amadureçam. Tenham paciência. Aprimorem-se tecnicamente, mas aguardem um amadurecimento que só vem com o tempo e com muito, muito estudo. Vocês querem tudo muito rápido e não é assim que se faz música.


Você que tem os seus 18 anos, acalme-se, pois não falta muito. Quem sabe aos 78 tudo se resolve? Ou na próxima encarnação? Tenha calma.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Mais uma edição do 4 Cantos


E lá se vão 22 anos que o Coral BDMG promove esse evento de importância para o cenário da música coral: o 4 Cantos – Coral na Praça. Comigo, são 12 anos.

A fórmula é simples: de abril a setembro, por causa do período de chuvas, outros três corais se juntam ao BDMG para uma noite de canto coral na Praça da Liberdade. 4 Corais, 4 peças musicais de cada um. E ao longo desses vários anos, vários grandes grupos se apresentaram, grandes maestros e solistas, pianistas acompanhadores. Mas também, lá vimos surgir novos grupos, pois foram muitos que no projeto fizeram a sua primeira apresentação. E também novos regentes, que hoje já não são jovens se analisarmos a idade do evento.

Nem sempre aconteceu na Praça da Liberdade, pois em alguns anos ela esteve fechada para reformas. E a Praça da Assembléia e a Basílica de Lourdes nos ajudaram no intermezzo. Mas sempre ali no entorno, chamando a atenção para a bela praça e seu belo coreto.


E para mais um ano de corais na praça, lá estaremos no dia 07 de abril, às 19:30. Venham nos prestigiar!!!


sexta-feira, 1 de abril de 2016

Disney a cappella para o fim de semana

Bons cantores, bons arranjos, bom equipamento de gravação e, sem esquecer, um bom engenheiro de gravação. Que resultado se pode ter de uma boa combinação?

Que tal ouvir The Magic of Voices nesse fim de semana e se embevecer um pouco com suas versões de peças musicais da Disney?


Divirtam-se!!!


Disney Fly Medley



A whole new world



Disney Love Medley



Once upon a dream



When you wish upon a star


Um ótimo fim de semana a todos!!!


terça-feira, 29 de março de 2016

Batalha de coros


Evito emitir opiniões sobre os concursos vocais tão em voga na TV brasileira, pois não acredito, sinceramente, na completa integridade dos mesmos. Na verdade, entendo que em todas as partes do mundo o show business tem que fazer valer o investimento dos muitos patrocinadores e proporcionar um espetáculo que prenda as pessoas em casa à noite (ou nas tardes de domingo). No entanto, é possível observar que os “The Voices”, ou “The Choirs”, são diferentes onde há uma tradição que valoriza o trabalho vocal em conjunto.

Um exemplo? Vamos lá. Que tal a final de uma competição na Austrália? Os coros finalistas se unem na interpretação de Bohemian Rhapsody.



Mas, aqui vai um post no estilo “síndrome de vira-lata”? Negativo. Meu trabalho é melhorar e incentivar a formação e capacitação de grupos corais. Viso o futuro, e estamos melhorando. Certo?

Bohemian Rhapsody - Freddie Mercury

segunda-feira, 28 de março de 2016

Irei ao Requiem

Amanhã, dia 29 de março, teremos o Requiem de Verdi aqui em Belo Horizonte, no Palácio das Artes. E eu estarei lá, não para apreciar o som da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, que eu gosto muito, nem do Coro Lírico, tão bem trabalhado pelo Maestro Lincoln Andrade, mas para assistir à combinação dos dois, além dos solistas, nas mãos do Maestro Sílvio Viegas, esse bom filho que retorna aos palcos mineiros, trazendo, além da esperança de novos e brilhantes sons, a experiência adquirida em outras casas, através de orquestras e coros.

Talvez alguns não entendam o por que da escolha de um Requiem, por parte do maestro, para uma estréia, já que se poderia esperar obras musicais de caráter brilhante e apoteótico. Mas, para mim, nada seria mais natural. Conheço o maestro desde os tempos de escola, e se uma palavra resume bem Sílvio, essa palavra é dedicação. Dedicação à música partindo do que há de mais essencial nela.

E, mais uma vez, por que o Requiem? Porque significa muito para aqueles que tiveram na sua formação o Senhor Magnani, figura da qual falo tanto. Na minha humilde visão, não se trata apenas de uma homenagem, mas também da afirmação perante uma sociedade, leiga e musical, que uma lição foi aprendida e apreendida. Assisti um pequeno vídeo promocional do concerto, na última semana, que me trouxe um sorriso aos lábios. Lá, o maestro dizia ser o Requiem uma obra acima de tudo humana. Ah!!! Frescor de palavras humanistas de um músico que sempre amou o universo operístico, mas que entende na obra de Verdi um testamento maior de um compositor de gênero que soube trazer ao mundo, através de um texto essencialmente sacro, uma ópera na melhor concepção de oratório. Impossível ouvir o Requiem sem imaginar as cenas da Divina Comédia, de Dante Alighieri, trazidas ao palco pelo compositor italiano. E quem lhe ensinou isso? Um outro italiano.

Feliz e torcendo muito, eu digo: Vá lá, Sílvio! Mostre-nos estas cenas todas, tão repletas de uma profundidade humana que entende a música como uma extensão de paixões intensas e cheias de esplendor. Cenas de um compositor que se dizia anti-religioso, mas que era, acima de tudo, capaz de se emocionar com a morte de Manzoni e não conseguir, a não ser através de um Requiem, mostrar o tamanho de sua emoção acerca da perda. E que, além disso, essa obra musical abra os caminhos para uma temporada especial e uma seqüência de trabalho profícua e sincera.


E que o melhor sorriso de Magnani lhe diga: SALVE, SÍLVIO!!!


sexta-feira, 25 de março de 2016

Paixão (Fim) (10)


Espero que este passeio pela Paixão segundo São João tenha sido, em primeiro lugar, um bom motivo para a ampliação do conhecimento das obras deste grande mestre, e, em segundo lugar, uma preparação para a vivência deste momento de reflexão íntima, que é a Semana Santa e, especificamente, a Sexta-Feira da Paixão.
Que a reflexão sobre o motivo do sacrifício conduza a todos a uma excelente Páscoa.



ARIA (soprano): Funde-te, coração meu, em rios de lágrimas, em honra do Altíssimo!
Proclama ao mundo e ao céu a tua desgraça: Morto estás Tu Jesus!

EVANGELISTA: Então, os judeus, como era a véspera da Páscoa, para que os corpos não ficassem sábado nas cruzes (pois esse sábado era uma festividade grande), pediram a Pilatos que quebrassem as pernas dos mesmos e que os corpos fossem retirados. Vieram, então, os soldados e quebraram as pernas do primeiro e depois do outro que tinha sido crucificado com ele. Mas, quando chegaram a Jesus, ao ver que estava já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados trapassou o seu peito com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água. Quem o viu, assim o declarou, e o seu testemunho é verídico; sabe que diz a verdade para que assim o creais. Estas coisas sucederam para que se cumprissem as Escrituras: “não serão quebradas as suas pernas”. E também as Escrituras dizem: “Eles verão quem traspassaram”.

CHORAL: Socorre-nos, Cristo, Filho de Deus, pelos teus amargos sofrimentos, para que, submetidos sempre a ti, evitemos qualquer má ação; reconhecendo fecunda a tua morte e a sua razão, ainda que pobres e débeis, oferecemo-te os nossos sacrifícios.



EVANGELISTA: Depois disto, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus (mas em segredo, por temos aos judeus), rogou a Pilatos que o deixasse levar o corpo de Jesus. E Pilatos o permitiu. Então, veio e levou o corpo de Jesus. Foi também com ele Nicodemus, que antes, de noite, tinha visitado Jesus, levando-lhe umas cem libras de mirra e ales misturados. Pegaram o corpo de Jesus e envolveram-no com lençóis perfumados, como os judeus costumavam fazer para enterrar. Junto do lugar onde foi crucificado havia um horto e nele um sepulcro novo, em que ninguém tinha ainda sido enterrado. Nele colocaram, pois, Jesus, por ser dia de preparação dos judeus, já que se encontrava próximo.

CORO: Repousai em paz, restos sagrados, que já não chorarei mais, repousai e dai-me também o repouso! Que a tumba que para vós foi preparada, e que não conhece o sofrimento, abra-me o céu e feche-me o inferno.


CHORAL: Ai, Senhor, faz com que o teu Anjo, no último momento, leve a minha alma ao seio de Abraão; que o meu corpo, no seu lugar de repouso, descanse docemente e sem pesares até o dia do juízo final! Quando da morte acorde, que os meus olhos te vejam com toda a alegria, ó Filho de Deus, Salvador meu e Trono de Graça! Senhor Jesus Cristo, atende-me, louvar-te desejo eternamente!

quinta-feira, 24 de março de 2016

Paixão (Tudo está consumado) (9)


Nesta parte o Cristo morre. Antes algumas das últimas palavras, as quais se perpetuaram ao longo da história dos cristãos. Observem o belo solo de contralto, acompanhado por uma viola da gamba, instrumento belíssimo da família das violas renascentistas, no qual Bach era um virtuose. Na segundo vídeo, ação prossegue até o momento em que as cortinas do templo rasgam e um tremor sacode tudo.



CHORAL: Ele cuidou de tudo na sua última hora. Pensando na sua mãe, assegurou-lhe um protetor: Ó homem, atua com retidão, ama a Deus e aos teus semelhantes até à morte sem queixa, e sem que te aflijas por isso!

EVANGELISTA: E desde esse momento o discípulo manteve-a sob a sua proteção. Depois, sabendo Jesus que tudo estava consumado, a fim de que fossem cumpridas as Escrituras, disse:
JESUS: Tenho sede!
EVANGELISTA: Havia lá uma vasilha cheia de vinagre. Os soldados embeberam uma esponja com o vinagre, espetaram-na numa vara, e aproximaram-na da sua boca. Jesus terminou de tomar o vinagre, e exclamou:
JESUS: Tudo está consumado!

ARIA (contralto): tudo se consumou! Ó, consolo das almas atormentadas! A noite funesta traz à minha mente minha última hora. O herói da Judéia chega vitorioso ao final da sua luta. Tudo se consumou!

EVANGELISTA: Inclinou a cabeça e expirou.



ARIA (Baixo) COM CORO: Meu amado Salvador, deixa-me perguntar-te, agora que estás cravado na cruz e que Tu mesmo disseste: tudo se consumou, estou escusado da morte? Posso por teus sofrimentos e tua morte alcançar o reino dos céus? Foi o mundo inteiro redimido? A dor impede que fales; mas inclinas a cabeça e dizes em teu silêncio: sim, Jesus, Tu, que morreste, vives agora para sempre; na minha última agonia a ninguém me encomendarei mais que a ti, que me aceitas, ó, amado Senhor! Dá-me o que Tu mereceste, nada mais desejo!

EVANGELISTA: Eis que o véu do templo rasgou-se em duas partes, de cima até embaixo. E a terra tremeu, e racharam-se as rochas, abriram-se os sepulcros e levantaram-se os corpos enterrados de muitos santos.


ARIOSO (tenor): Coração meu, enquanto o mundo inteiro sofre com a dor de Jesus, o sol veste-se de luto, o véu rasga-se, as rochas desmoronam-se, a terra treme, as tumbas abrem-se, porque viram morrer o Criador: E tu, que vais fazer?

quarta-feira, 23 de março de 2016

Paixão (Mulher, eis aqui o teu filho...) (8)


Nesta parte, apreciem o belo arioso do baixo (Stephan McLeod), acompanhado pelo coro. Aqui a dramaticidade é plena, mas nada como ouvir as lindas passagens do coro.



ARIA (baixo) E CORO: apressai-vos, almas aflitas, saí do poço do vosso martírio, apressai-vos – para onde? – para o Gólgota! Pegai as asas da fé, voai – para onde? – para o Monte Calvário, lá floresce a vossa bem aventurança!

EVANGELISTA: Lá foi crucificado e com Ele outros dois, um de cada lado e Jesus no meio. Pilatos mandou preparar uma inscrição que dizia: “Jesus de Nazaré, Rei dos judeus”. Muitos judeus leram esta inscrição, já que o lugar onde Jesus foi crucificado era perto da cidade. E estava escrito em hebreu, em grego e em latim. Os príncipes dos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos:
CORO: Não escrevas: Rei dos Judeus, porém o que Ele disse: Eu sou o Rei dos Judeus.
EVANGELISTA: Pilatos respondeu:
PILATOS: Tal e como devia ser escrito, escrito está.

CHORAL: No fundo do meu coração só o teu nome e a tua cruz brilham em qualquer tempo e momento, e isto me enche de alegria. Aparecem como sinal de consolação na minha miséria, e Tu, doce Senhor, sangraste até a morte!

EVANGELISTA: Os soldados, depois de crucificá-lo, pegaram as suas vestimentas e dividiram-na em quatro partes, uma para cada soldado. E como a sua túnica não tinha costuras e estava tecida de alto a baixo, disseram entre eles:
CORO: Não a rasguemos, mas tiremos a sorte para ver quem ganha.
EVANGELISTA: Assim se cumpriu o que está escrito nas Escrituras, que dizem: “Dividiram as minhas vestimentas e sortearam a minha túnica”. Isto foi o que fizeram os soldados. Junto à cruz de Jesus estavam a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria, mulher de Cleofás, e Maria Madalena. Jesus, vendo a sua mãe e junto dela seu discípulo amado, disse a sua mãe:
JESUS: Mulher, eis o teu filho.
EVANGELISTA: Depois disse ao discípulo:

JESUS: Eis a tua mãe.

terça-feira, 22 de março de 2016

Paixão (Crucifica-o... ) (7)


Aqui vamos do momento da flagelação, da coroa de espinhos e do julgamento por Pilatos até a condução do Cristo ao Gólgota. A tensão musical aumenta, os recitativos se torna tensos e expressivos, e o coro assume o papel musical principal. Como não se assustar com a turba gritando "Crucifica-o". Observem:



EVANGELISTA: E os soldados trançaram uma coroa de espinhos, puseram-na sobre a sua cabeça, colocaram-lhe um manto de púrpura e disseram:
CORO: Salve, rei dos judeus!
EVANGELISTA: E davam-lhe bofetadas. Pilatos saiu de novo e disse:
PILATOS: Vede, entrego-o a vós, para que saibais que não encontro Nele delito nenhum.
EVANGELISTA: Jesus saiu, usando a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse-lhes:
PILATOS: Vede, eis o homem!
EVANGELISTA: Quando o viram os príncipes dos sacerdotes e os servos, disseram gritando:
CORO: Crucificai-o, crucificai-o!
EVANGELISTA: Pilatos disse-lhes:
PILATOS: Levai-o e crucificai-o vós mesmos, pois eu não encontro Nele nenhum delito.
EVANGELISTA: Os judeus responderam-lhe:
CORO: Temos uma lei, e segundo essa lei Ele deve morrer, porque considerou-se a si mesmo como Filho de Deus.
EVANGELISTA: Quando Pilatos ouviu isto, atemorizou-se mais, voltou a entrar no pretório e disse a Jesus:
PILATOS: De onde tu és?
EVANGELISTA: Mas Jesus não lhe responde. Então, disse-lhe Pilatos:
PILATOS: Não me responde? Não sabes que eu tenho poder para crucificar-te e poder para soltar-te?
EVANGELISTA: Jesus respondeu:
JESUS: Tu não terias poder sobre mim se não o tivessem concedido a ti teus superiores; portanto, quem me entregou a ti tem maior pecado.
EVANGELISTA: A partir deste momento, Pilatos tentou deixá-lo em liberdade.

CHORAL: Graças ao teu cativeiro, Filho de Deus, recobramos nós a liberdade; a tua prisão é o trono da graça, o lugar da liberdade para todos os piedosos; pois se não tivesse aceitado a escravidão, a nossa duraria eternamente.

EVANGELISTA:  Mas os judeus diziam gritando:
CORO: Se o deixas em liberdade, não és amigo do César; pois quem se proclama rei atenta contra o César.
EVANGELISTA: Quando ouviu isto Pilatos, levou Jesus e sentou-se no tribunal, no lugar denominado Lajedo; em hebreu Gabbatha. Era a véspera da páscoa, pela hora sexta. Pilatos disse aos judeus:
PILATOS: Vede, eis o vosso rei!
EVANGELISTA: Mas eles gritavam:
CORO: Levai-o, levai-o e crucificai-o!
EVANGELISTA: Pilatos disse-lhes:
PILATOS: Hei de crucificar o vosso rei?
EVANGELISTA: Os sumo sacerdotes responderam:
CORO: Nós não temos mais rei que o César.

EVANGELISTA: Então, entregou-o para que fosse crucificado. Apoderaram-se de Jesus e levaram-no. Jesus, carregando a sua cruz, chegou ao lugar chamado Crânio, que em hebreu chama-se Gólgota.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Paixão (um instante de meditação após a flagelação) (6)

Uma curiosidade da Wikipédia: originalmente Bach planejou a Paixão segundo São João para ser apresentada na Igreja de São Tomás, em Leipzig, mas uma decisão de última hora do conselho municipal de música mudou a apresentação para a Igreja de São Nicolau. Bach rapidamente aceitou a mudança de serviço, mas apontou que, como as partituras já estavam impressas e o cravo de São Nicolau precisava de reparos, seria necessário um pequeno investimento no sentido de ampliar o espaço físico para os músicos dentro do coro além de conserto do cravo. O conselho aceitou a reivindicação de Bach e anunciou em toda a cercania de Leipzig a mudança de local, além de realizar todas as solicitações feitas pelo compositor.

A parte a seguir vem logo após o momento em que Pilatos envia o Cristo para a flagelação.      
 

ARIOSO (baixo): Contempla, alma minha, com doloroso gozo, com o coração oprimido por amarga complacência, teu bem supremo no sofrimento de Jesus, observa como os espinhos que o ferem abrem para ti as flores celestiais. De sua angústia obterás abundantes e doces frutos; por isso, observa-o.


ARIA (tenor): Observa como as suas costas ensangüentadas vão por todas as partes parecendo-se com o céu. E, quando a vaga de nossos pecados se extingue, o mais belo dos arco-íris aparece como signo da graça divina.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Os solistas das 7 Palavras

As 7 Palavras, de Hostílio Soares, é uma peça de força que confronta solistas e coro. A tensão obtida na sua execução depende da interação dos mesmos, o que descobri há muito tempo, logo nas primeiras apresentações da obra. Talvez essa interdependência tenha ensinado aos coristas a compartilharem integralmente os solos com os colegas. É necessário “cantar junto”.

Em se tratando de solistas, essa obra sempre foi responsável, no Madrigale, pela apresentação de várias belas vozes ao mundo musical. Como as apresentações foram, num certo momento da história do coro, realizadas de maneira funcional, ou seja, cantada em cerimônias, os solistas eram do próprio coro. Isso me ensinou a valorizar aqueles que se iniciavam, e iniciam, na carreira musical.

Dos solistas dessa apresentação, todos tiveram a oportunidade de começarem suas apresentações com uma boa participação na obra de Hostílio. Perguntem a eles se gostam das 7 Palavras? Nossa convivência, fortalecida pelas muitas apresentações, estreitou, ao longo do tempo, nossas relações. Dos cinco, quatro são meus amigos-irmãos. A quinta caminha para tal. Que é quem?

Aproveitando dessa justificativa, permitam que eu apresente os solistas sob a perspectiva do maestro:


Indaiara Patrocínio – entrou para o Madrigale no início dos anos 2000. Sempre se destacou como um soprano de personalidade e disposta a assumir os solos mais difíceis, principalmente porque era enganada pelo maestro e não tinha consciência da dificuldade dos solos. É, hoje, uma das principais cantoras de Belo Horizonte, atuando profissionalmente como solista e professora de canto. Destaco suas participações como solista na Missa em si menor, de J. S. Bach; no Requiem, de Mozart; e na Missa Afro-Brasileira, de Carlos Alberto Pinto Fonseca.



 Patrícia Cardoso Chaves – conheci essa cantora nos cursos da Escola de Música da UEMG. Logo se mostrou portadora de uma voz impressionante e carismática. Conhecida e querida nos meios musicais de Belo Horizonte, hoje é professora de canto na Escola de Música da Universidade de Ouro Preto. Destaco sua participação em Dido e Aeneas, de Purcell; no Requiem, de Mozart; na Paixão segundo São João, de Bach; e única na interpretação da Ave Maria, de Caccini.


Joubert Oliveira – sem comentários. Joubert cantou na minha formatura. A peça? A própria 7 Palavras. Um cantor iniciante, à época, e que se tornou um tenor sensacional e especial dentro do Madrigale e no cenário artístico da capital. Hoje, é o mais antigo dos cantores atuantes no coro. Destaco: Missa em si menor, de J. S. Bach; no Requiem, de Mozart; Messias, de Haendel.


Mauro Chantal – foi apresentado ao mundo dos solistas pela Missa em Sol, de Hostílio Soares. Sempre participou das montagens das 7 Palavras. Hoje é um renomado cantor já tendo se apresentado em óperas diversas e montagens sinfônicas das mais variadas.  Além disso, é professor de canto na Escola de Música da UFMG. Um bom percurso, não? Nem destaco nada, pois ele sempre chama atenção pela sua bela e potente voz de baixo.



Mariana Redd – a caçula dos solistas. Dotada de uma voz de colorido único e expressividade natural, assume a responsabilidade dos solos de contralto. Essa vale a pena conferir na próxima terça-feira. Quem estiver lá, verá. Ah! Sim. Cantora formanda na Escola da UEMG e participante de concertos no Coro Lírico de Minas Gerais.


Ah! E não posso me esquecer de quem nos acompanhará. Patrícia Valadão é uma das mais renomadas pianistas do país. Dispensa apresentações.

Paixão (Pilatos... Barrabás... Flagelação) (5)

Aqui se inicia a segunda parte, mais longa do que a primeira. O papel do coro é essencial e intenso, o que já é determinado pela sua intervenção imediata. Nessa primeira cena, o Cristo confronta Pilatos, que tenta liberá-lo. Mas, no final, a turba exige a sua troca por Barrabás. E ele foi flagelado.

Notem como o coro participa da ação (representando a turba) cantando raivosamente, o que é interpretado por Bach em escala por semitons. Uma maneira simbólica, em música, de criar tensão. E como funciona!!!



CHORAL: Cristo que nos torna bem aventurados e que não fez mal nenhum, na noite foi por nós, como um ladrão, preso, apresentado ante pessoas ímpias e falsamente acusado, vexado, escarnecido e humilhado, como dizem nas Escrituras.

EVANGELISTA: Levaram Jesus da casa de Caifás ao pretório, onde não entraram para não se sujarem e poder comemorar a Páscoa. Pilatos dirigiu-se, então, a eles, dizendo:
PILATOS: Que acusação tendes contra este Homem?
EVANGELISTA: Eles responderam-lhe dizendo:
CORO: Se não fosse um malfeitor, não o estaríamos entregando.
EVANGELISTA: A isso Pilatos replicou:
PILATOS: Levai-o e julgai-o segundo a vossa lei!
EVANGELISTA: E os judeus disseram:
CORO: Não nos é permitido matar.
EVANGELISTA: Assim se cumpria a palavra de Jesus acerca de sua morte. Pilatos voltou a entrar no pretório, chamou Jesus e disse-lhe:
PILATOS: És Jesus, o rei dos judeus?
JESUS: Dizes isto por ti mesmo, ou te disseram outros de mim?
EVANGELISTA: Pilatos respondeu:
PILATOS: Sou por acaso judeu? O teu povo e os príncipes dos sacerdotes entregaram-te a mim; que fizeste?
EVANGELISTA: Respondeu Jesus:
JESUS: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, meus servos teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.

CHORAL: Ó, grande Rei, grande por todos os tempos! Como poderia eu aumentar esta fidelidade? Nenhum coração humano poderia conceber como corresponder aos teus dons. Com os meus sentidos não poderia alcançar o que possa ser comparado com a tua misericórdia. O que poderia oferecer-te para corresponder ao teu amor por mim?

EVANGELISTA: Pilatos disse-lhe:
PILATOS: És, então, um rei?
EVANGELISTA: Jesus respondeu:
JESUS: Tu o disseste, sou um rei. Nasci e vim ao mundo para isso, para dar testemunho da verdade. Todo aquele que busca a verdade, escuta a minha voz.
EVANGELISTA: Pilatos disse-lhe:
PILATOS: O que é a verdade?
EVANGELISTA: Depois de dizer isto, saiu de novo para dizer aos judeus:
PILATOS: Não encontro culpa alguma Nele. Mas, como tendes o costume de que vos solte um preso, quereis que deixe em liberdade o rei dos judeus?
EVANGELISTA: De novo gritaram,dizendo:
CORO: Não Esse, mas Barrabás!

EVANGELISTA: Barrabás era um assassino. Pilatos prendeu Jesus e mandou que o flagelassem.