Noutro dia, ouvi um jovem músico
dizendo: estou desanimado. Já estudei tanto e não consigo nada na minha área.
Quanto anos tem o mancebo? 18.... e por
isso aqui reflito:
Sou de um tempo (ah! Em outros tempos eu
achava que jamais diria isso) em que nós, alunos músicos, lutávamos para,
simplesmente, frequentar a aula, ou participar do trabalho do professor X, ou
Y.
Sou de um tempo em que o aprendizado era
visto como essencial para uma escalada numa profissão ainda tida como supérflua
e excêntrica.
Sou de um tempo em que a paixão pela
música nos movia de uma maneira tal que enfrentávamos o mundo inteiro para
sermos aceitos como respeitáveis dentro da profissão que escolhemos. Tínhamos
que merecer um lugar junto a um conjunto de músicos que, para nós, eram o
supra-sumo de um conhecimento e que almejávamos, um dia, chegarmos perto do que
eles eram e significavam.
Ah! Mas os tempos são outros. Passados.
E hoje, que poderíamos nos considerar herdeiros daquela geração que nos preparou,
nos vemos no meio de uma nova geração que, por si só, são músicos qualificados
e que assumem o mercado de uma maneira voraz e impura. Impura porque,
despreparados, se julgam capazes de serem marqueteiros, propagandistas,
administradores e... músicos.
Chamam-nos de camaradas, colegas, e se
dizem muito bons no que fazem (e são mesmo). Mas se esquecem de que os
maravilhosos cachês de um começo não significam muito numa trajetória musical,
e aí eu vejo vários caindo pelo caminho, sem perspectiva, sem objetivo. Seria
isso porque se esqueceram da paixão que os impulsionou a seguir o caminho da
música? Ou seria um modismo de produção de “artistas” no nosso tempo. Meu
Deus!!! Como temos artistas nesse nosso tempo!!!
Magnani fazia uma distinção entre um
instrumentista e um músico. Para ele a diferença entre um e outro estava na
busca constante, por parte do segundo, de uma formação intelectual, humana e
espiritual, que possibilitasse a ele uma compreensão do universo musical, e que
o tornasse independente de outro músico (professor) na elaboração do discurso
musical. A música para além da técnica. A técnica a serviço da música, e do que
de melhor se pode buscar nela.
Ser instrumentista é relativamente fácil
comparado com o ser músico, e aqui, só quem é músico sabe do que estou falando.
Mas, como algo inerente à juventude, paciência é uma palavra que está cada vez
menos na mente, e no coração, daqueles que escolheram uma profissão
extremamente difícil e que exige um aprimoramento diário, para além das escalas
e arpejos.
Jovens, vocês que começam, sigam um
conselho precioso: na nossa profissão é necessário termos sabedoria.
Acalmem-se. Progridam. Amadureçam. Tenham paciência. Aprimorem-se tecnicamente,
mas aguardem um amadurecimento que só vem com o tempo e com muito, muito
estudo. Vocês querem tudo muito rápido e não é assim que se faz música.
Você que tem os seus 18 anos, acalme-se,
pois não falta muito. Quem sabe aos 78 tudo se resolve? Ou na próxima
encarnação? Tenha calma.
Sinal dos Tempos...não só nossos jovens músicos...todos os jovens hoje tem essa urgência em ter "sucesso na carreira"...que carreira?
ResponderExcluirMuitos não duram mais que dois ou três meses em um contrato de trabalho, porque já julgam que ganham pouco ou que não tem o trabalho ( de dois ou três meses) reconhecido. Imagine no meio musical, quando aspectos técnicos e interpretativos muitas vezes nem são percebidos quando estamos muito novos de formação...Ah, mas o "fulano" tá no grupo tal, ganhando tanto... o beltrano foi trabalhar na empresa tal e ja comprou um carro zero... VALORES... talvez seja isso que mais diferencia as gerações de uma época atrás e a de agora