terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Encontro de Corais do NMC (2): Litterarum - Quando o Canto Vira Cor, Movimento e Comunidade

(Por Bambis e Arnon Oliveira)

Se há um grupo no Núcleo de Música Coral que parece carregar um pequeno carnaval dentro de si, esse grupo é o Coral Litterarum. Não no sentido da festa ruidosa, mas na vibração das cores, no gesto que dança, no brilho nos olhos de quem canta. Eles não entram no palco: eles chegam com aquilo que só a comunhão amadora propriamente dita consegue produzir.

O Litterarum é um lembrete vivo de que o canto coral pode ser, também, um espaço de invenção e liberdade. E muito disso nasce do trabalho do regente Victor Medeiros, que não dirige apenas vozes, mas possibilidades.

No Litterarum, cada pessoa tem um lugar. E esse lugar não é apenas vocal, mas expressivo. Victor incentiva que cada talento individual se torne parte da apresentação: duas coristas recitam um poema; outra marca o pulso com percussão, puxando a plateia para bater palmas; o grupo dança, move-se, respira em conjunto; e o concerto se encerra com o dueto improvável e encantador entre a gaita (harmônica) e o violino, tocado pelo próprio regente.

Não há constrangimento, não há hierarquia estética rígida, não há medo do lúdico. O que há é comunidade. Em suma: o Litterarum é um grupo que canta como vive: com espontaneidade, coragem e alegria.”

As músicas escolhidas, Banaha, Vilarejo, Costura da Vida, Simplicidade e Felicidade, formaram uma paleta de afetos e narrativas que combinavam com o espírito do coro. São obras que dizem, de modos diferentes, que a vida é feita de pequenos gestos, de encontro, de partilha. E, de certa forma, esse repertório funciona como autobiografia do grupo: leve, orgânico, próximo do público.

O Litterarum ligado à FALE (Faculdade de Letras da UFMG). É um coro amador e é justamente naquilo que poderia ser limite que surge sua força. Entre desafios de afinação, tessitura e disciplina cênica, o grupo se organiza como pode, e faz um trabalho extraordinário para a comunidade. Não pela perfeição, mas pela verdade artística que produz. Victor extrai de cada um o que cada um tem para dar, e, no fim, o que chega ao público é um retrato coletivo, sincero e luminoso.

Eles têm a alegria como método. Enquanto outros grupos constroem a performance pela elegância, pela densidade ou pela solidez técnica, o Litterarum constrói pelo entusiasmo. E isso não é pouca coisa: entusiasmo, no sentido original da palavra, é “estar cheio de Deus”.

Ao vê-los cantar, fica claro que ali existe algo que ultrapassa a técnica: um desejo profundo de estar juntos, de fazer arte com as mãos e com o corpo inteiro, de transformar a rotina em ritual. E talvez seja por isso que eles ocupam o palco com tanto magnetismo. Eles cantam como quem celebra. E celebram como quem agradece.

 










8 comentários:

  1. Parabens pelos texto. Realmente, de forma poetica, colocou em palavras e nos descrebeu. Obrigada pelas docura das palavras.

    ResponderExcluir
  2. Lindo texto! Uma otima representação em palavras do que nós sentimos e gostariamos de transmitir nas apresentações :D

    ResponderExcluir
  3. Que resenha encantadora! Um belo, sensível e verdadeiro perfil do que fazemos. Muito obrigada!

    ResponderExcluir
  4. É, de fato, lindo de ver! Um encanto, uma simpatia, um prazer de estar junto, de cantar junto. E o público é arrebatado pra viver essa experiência de canto e vida! Realmente contagiante!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Parabéns pelo texto! Captou lindamente a essência do que é ver o Coral Litterarum e cant(ação)!

      Excluir
  5. O coral Litterarum é coisa linda de ver! Emociona de verdade!

    ResponderExcluir
  6. Nossa! Que capricho! Tudo feito com muito carinho. Parabéns ao grupo.

    ResponderExcluir
  7. Emocionada ao ler esse relato poético e sensível do que é ser Litterarum! Parabéns ao autor por conseguir capturar a essência do Litterarum.

    ResponderExcluir

Deixe seu nome e e-mail para que eu responda. Obrigado.

Riu Riu Chiu - Viva Amin Feres!!!

Ouvir Riu Riu Chiu na apresentação do Coro da Nova, dias atrás, foi como abrir uma janela para o passado. A peça, um villancico (canção na...