Nós, os maestros, apesar de lidarmos constantemente com emoções e sentimentos no fazer musical, somos, na verdade, bastante impessoais nas relações humanas. Isso acontece porque os conflitos que surgem ao longo da preparação de um concerto ou evento, quase sempre sob forte pressão, já que um deslize pode significar a diferença entre o sucesso e o fiasco, são constantes e, de certo modo, naturais.
Por outro lado, muitas vezes, a cobrança sobre um cantor cria tensões que geram rancores, mágoas e, às vezes, até ódios. E nem preciso dizer que, como as palavras são o nosso principal instrumento, elas nem sempre são bem medidas ou equilibradas. Tudo, no fim, pelo bem da música e pela felicidade do nosso alvo maior: o público.
Mas há outros caminhos possíveis dentro da música. Caminhos em que é possível manter a harmonia e as boas relações, mesmo dentro de uma hierarquia firmemente determinada. São caminhos em que a música se torna o elo motivador de uma cumplicidade, entendida como a reunião de esforços para alcançar aquilo que mais importa a quem sobe num palco: emocionar o público.
Esses caminhos podem ser traçados com palavras como respeito,
paciência, credibilidade, confiança, valorização da competência, ousadia,
alegria, bondade… e tantas outras que dão sentido humano à arte.
De todo modo, a vida de um maestro é solitária. Desde o momento em que mergulha no estudo das partituras, buscando compreender o que deve ser feito com seu conjunto, até aquele instante, após a apresentação, em que é o último a sair do evento, com a sensação de ter entregue ao mundo um filho, a obra, o som, o instante. Fica, então, aquela pergunta que sempre retorna: onde estão os cantores que estavam comigo?
Dentro dessa relação de harmonia grupal, a vida ainda nos reserva surpresas. E às vezes elas não vêm da música em si, mas daquilo que há de mais simples e humano. Um gesto singelo, uma palavra, um olhar de gratidão, e o maestro, tão acostumado à distância, é surpreendido pela proximidade. Talvez porque o trabalho musical seja, por natureza, duro, incessante e estressante. Ele gera satisfação, sim, mas é um processo exigente, repetitivo, marcado por cobranças e reinícios, uma sequência de esforços que se renova a cada concerto.
O músico vive nessa espiral: cria, entrega e recomeça. É alguém pouco habituado a medir o tempo ou a acumular méritos, porque o tempo, para ele, é sempre o próximo ensaio. Por isso, quando o reconhecimento vem, quando um gesto singelo rompe o silêncio e se transforma em gratidão, é impossível não se comover.
@jorgepereirafotografo
Lindo texto.
ResponderExcluirObrigado. Penso que é algo que a maioria dos regentes tem como vivência e, às vezes, como um sofrimento.
ExcluirUma reflexão muito importante
ResponderExcluirObrigado. Vc é linda.
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