sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Emoção de maestro

Nós, os maestros, apesar de lidarmos constantemente com emoções e sentimentos no fazer musical, somos, na verdade, bastante impessoais nas relações humanas. Isto porque os conflitos gerados ao longo da produção de um concerto ou evento, geralmente administrados sob forte pressão já que um deslize pode significar a diferença entre o sucesso e o fiasco, são constantes e normais. Desta maneira, muitas vezes a cobrança sobre um cantor cria tensões que geram rancores, mágoas e, às vezes, ódios. E nem preciso dizer que, como são nosso elemento principal, as palavras nem sempre são bem medidas e equilibradas.

Tudo pelo bem da música e felicidade do nosso alvo, o público.

No entanto, há caminhos alternativos dentro da música, aplicáveis em grupos, onde é possível mantermos a harmonia e as boas relações, ainda que dentro de uma hierarquia firmemente determinada, conseguindo com que a música se torne o elemento motivador de uma cumplicidade entendida como a reunião de esforços para realizarmos aquilo que é mais importante para aquele que sobe em um palco, ou seja: emocionar o público.
Esses caminhos podem ser resumidos por palavras como: respeito, paciência, credibilidade, confiança, valorização da competência, ousadia, alegria, cumplicidade, bondade, dentre muitas outras.

De qualquer forma, de um modo geral, a vida de um maestro é solitária, desde o momento em que tem que estudar suas partituras para entender o que deve ser feito com o seu conjunto, até o momento em que, após uma apresentação, é o último a sair dos eventos, com aquela sensação de que o seu filho (produto musical), foi entregue ao mundo e que seu trabalho momentâneo foi finalizado e... pronto. E fica aquela perguntinha constante: onde estão os cantores que estavam comigo?

Dentro dessa relação de harmonia grupal, surpresas nos são proporcionadas ao longo do tempo e em relações para além do fazer musical, mas puramente na relação humana. Isso acontece quando alguns cantores resolvem, como uma surpresa, dar uma boa resposta ao maestro e comemorar (isso mesmo, comemorar) os seus 10 anos de esforço em conjunto dentro de um grupo. Por que a surpresa? Porque somos acostumados a não termos estas manifestações espontâneas de satisfação por parte daqueles que realizam um trabalho musical. Por que? Porque o trabalho é duro, incessante, estressante, que gera satisfações o tempo todo, mas que, como eu disse, são cansativos, repetitivos, marcados por uma exigência sem fim, e que se esvaem após uma apresentação, dando início à preparação de uma nova. 

Vários ingredientes que fazem do músico um solitário, não acostumado a raízes e também não acostumado a medir o tempo e pensar na coleção de méritos acumulados com o passar do tempo e de muitos trabalhos. E se o reconhecimento de alguns nos é dado através da comemoração do tempo de trabalho em conjunto, isso só pode nos... emocionar.

Aos cantores do Madrigale Maria Célia, Cecília, Gásparo e Leandro, obrigado pelos dez anos e que vocês me suportem por mais dez (no mínimo).


2 comentários:

  1. Participar de um coro como o madrigale é mágico. É como uma família, que se reúne para fazer o que mais gosta juntos todas as semanas. Ser regido pelo Arnon por 10 anos é um privilégio devido à sua técnica e, principalmente pela forma que trata os cantores. "Segredo: ele também dá bronca, mas sempre no momento certo. Rsrs". Por isso conseguimos no madrigale o resultado visto no palco. Um coro sério que emociona a todos, e que,nos bastidores, tem um cuidado de amigos, um compromisso e uma alegria imensurável.

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    1. Obrigado por suas palavras, Leandro. Somos cúmplices num processo de querer bem à música e à harmonia de conjunto que ela proporciona.
      Quanto às broncas, eu já disse que sou um "ditador benigno". Rs.

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