Nós, os maestros, apesar de lidarmos constantemente
com emoções e sentimentos no fazer musical, somos, na verdade, bastante
impessoais nas relações humanas. Isto porque os conflitos gerados ao longo da
produção de um concerto ou evento, geralmente administrados sob forte pressão
já que um deslize pode significar a diferença entre o sucesso e o fiasco, são
constantes e normais. Desta maneira, muitas vezes a cobrança sobre um cantor
cria tensões que geram rancores, mágoas e, às vezes, ódios. E nem preciso dizer
que, como são nosso elemento principal, as palavras nem sempre são bem medidas
e equilibradas.
Tudo pelo bem da música e felicidade do nosso alvo,
o público.
No entanto, há caminhos alternativos dentro da
música, aplicáveis em grupos, onde é possível mantermos a harmonia e as boas
relações, ainda que dentro de uma hierarquia firmemente determinada,
conseguindo com que a música se torne o elemento motivador de uma cumplicidade
entendida como a reunião de esforços para realizarmos aquilo que é mais
importante para aquele que sobe em um palco, ou seja: emocionar o público.
Esses caminhos podem ser resumidos por palavras
como: respeito, paciência, credibilidade, confiança, valorização da
competência, ousadia, alegria, cumplicidade, bondade, dentre muitas outras.
De qualquer forma, de um modo geral, a vida de um
maestro é solitária, desde o momento em que tem que estudar suas partituras
para entender o que deve ser feito com o seu conjunto, até o momento em que,
após uma apresentação, é o último a sair dos eventos, com aquela sensação de
que o seu filho (produto musical), foi entregue ao mundo e que seu trabalho
momentâneo foi finalizado e... pronto. E fica aquela perguntinha constante:
onde estão os cantores que estavam comigo?
Dentro dessa relação de harmonia grupal, surpresas
nos são proporcionadas ao longo do tempo e em relações para além do fazer
musical, mas puramente na relação humana. Isso acontece quando alguns cantores
resolvem, como uma surpresa, dar uma boa resposta ao maestro e comemorar (isso
mesmo, comemorar) os seus 10 anos de esforço em conjunto dentro de um grupo.
Por que a surpresa? Porque somos acostumados a não termos estas manifestações
espontâneas de satisfação por parte daqueles que realizam um trabalho musical.
Por que? Porque o trabalho é duro, incessante, estressante, que gera satisfações
o tempo todo, mas que, como eu disse, são cansativos, repetitivos, marcados por
uma exigência sem fim, e que se esvaem após uma apresentação, dando início à
preparação de uma nova.
Vários ingredientes que fazem do músico um solitário,
não acostumado a raízes e também não acostumado a medir o tempo e pensar na
coleção de méritos acumulados com o passar do tempo e de muitos trabalhos. E se
o reconhecimento de alguns nos é dado através da comemoração do tempo de
trabalho em conjunto, isso só pode nos... emocionar.
Aos cantores do Madrigale Maria Célia, Cecília,
Gásparo e Leandro, obrigado pelos dez anos e que vocês me suportem por mais dez
(no mínimo).
Participar de um coro como o madrigale é mágico. É como uma família, que se reúne para fazer o que mais gosta juntos todas as semanas. Ser regido pelo Arnon por 10 anos é um privilégio devido à sua técnica e, principalmente pela forma que trata os cantores. "Segredo: ele também dá bronca, mas sempre no momento certo. Rsrs". Por isso conseguimos no madrigale o resultado visto no palco. Um coro sério que emociona a todos, e que,nos bastidores, tem um cuidado de amigos, um compromisso e uma alegria imensurável.
ResponderExcluirObrigado por suas palavras, Leandro. Somos cúmplices num processo de querer bem à música e à harmonia de conjunto que ela proporciona.
ExcluirQuanto às broncas, eu já disse que sou um "ditador benigno". Rs.