quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Sacro x profano

(Algo que escrevi em 2011, mas que ainda representa o que penso)

Há bem pouco tempo, os corais tinham por hábito montar seus concertos em duas partes: uma com músicas sacras, e outra com músicas profanas (posteriormente, chamávamos a segunda parte de “populares”). Hoje, os concertos são mais ecléticos, sendo que os gêneros não mais são diferenciados. Canta-se música coral, e pronto.

Eu próprio fui um dos que considerava importante uma mistura dos gêneros, por entender que sua separação trazia mais prejuízos do que benefícios. No entanto, o tempo passa e a distância dos elementos exclusivamente sacros começa a fazer falta na completa maneira de pensar o interpretar a música. Há uma discussão constante do que é o “mistério” quando se canta música sacra, que não é possível pensar em outros gêneros. Termos como “amor”, “prazer”, “gozo”, “êxtase”, “paixão”, “sofrimento”, “desespero”, etc. têm significado único e diferente neste contexto, e é justamente na diferenciação da música coral da instrumental que a palavra tem a sua importância máxima. O termo para isto é verbalização. Para quem canta, o texto de São João é altamente significativo: No princípio era o Verbo, e o Verbo se fez... cantando.


No nosso tempo, exprimir-se em termos sacros não é bem visto quando se canta em teatro. Música sacra se faz na igreja, e ponto. Desconsideremos. Música sacra se canta em qualquer lugar, porque ela é única enquanto sacra, porque ela evoca em nós sensações e sentimentos os quais não são “palpáveis”, nem “visíveis” na música popular (profana). São universos diferentes. Faz parte do “MISTÉRIO”. Amém.


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