Faltando alguns dias para o Natal, época que gosto por demais, resolvi selecionar algumas peças que sempre escuto neste período. Uma maneira simples de provocar a lembrança desse tempo bom, mágico, cheio de espírito e ternura. E começo por um movimento que sempre me acompanhou nos concertos natalinos, seja apresentando o Magnificat inteiro ou como peça avulsa no programa: o Et Misericordia, do Magnificat de John Rutter.
O que dizer desse movimento? Há algo profundamente humano ali. A linha melódica é clara, quase transparente, e a harmonia se organiza para dar espaço à palavra que sustenta a peça inteira: misericórdia. Entre todas as partes da obra, esta talvez seja a mais íntima.
Rutter escreve aqui uma música que respira. A solista canta como quem recita um mantra-oração, centrada no texto e na intenção, numa peça que parece ter sido feita para esse tipo de entrega. O coro não se expande em nenhum momento: caminha junto, sustenta, acolhe, como um tapete harmônico que permite à solista dizer o essencial. A peça é isso tão somente.
Às vésperas do Natal, o Et Misericordia funciona quase
como um ponto de silêncio entre tantas urgências. Uma pausa breve, mas
necessária, para lembrar que o sentido da celebração passa também pelo que é
simples, discreto e constante.
Fica a sugestão: ouçam o Et Misericordia com
calma, pois há misericórdias que só se revelam devagar.
Ao longo dos anos, várias solistas me emocionaram
profundamente ao cantar essa peça: Clara Guzella, Emanuelle Cardoso, Núbia
Eunice, Camile Monteiro.. mas hoje compartilho aqui o vídeo de 2016, quando o
Madrigale fez um lindo concerto na Igreja da Boa Viagem e a Manu se superou na
interpretação. Ao piano: Patrícia Valadão.
🎬John
Rutter Magnificat - Et Misericordia -
Coro Madrigale - Concerto de Natal 2016
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