segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A chuva


Desde sexta-feira, Belo Horizonte vem colhendo uma tempestade a cada dia. Fenômeno interessante para nós que nos lembramos das chuvas de outros tempos. Vivemos alguns anos de anormalidade e parece que as coisas estão voltando a um normal. Tomara, e que as águas continuem caindo da maneira correta, pois BH é uma cidade de chuvas e tempestades.


Foi pensando na chuva que resolvi mostrar, àqueles que não conhecem uma interessante composição coral, de efeitos, na qual o fenômeno é imitado de uma maneira quase perfeita. Peças como estas são comuns nos repertórios, já que, diferente dos conjuntos instrumentais, a possibilidade de emissão de silabas e palavras nos permitem a imitação de fenômenos específicos. 


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Emoção de maestro

Nós, os maestros, apesar de lidarmos constantemente com emoções e sentimentos no fazer musical, somos, na verdade, bastante impessoais nas relações humanas. Isto porque os conflitos gerados ao longo da produção de um concerto ou evento, geralmente administrados sob forte pressão já que um deslize pode significar a diferença entre o sucesso e o fiasco, são constantes e normais. Desta maneira, muitas vezes a cobrança sobre um cantor cria tensões que geram rancores, mágoas e, às vezes, ódios. E nem preciso dizer que, como são nosso elemento principal, as palavras nem sempre são bem medidas e equilibradas.

Tudo pelo bem da música e felicidade do nosso alvo, o público.

No entanto, há caminhos alternativos dentro da música, aplicáveis em grupos, onde é possível mantermos a harmonia e as boas relações, ainda que dentro de uma hierarquia firmemente determinada, conseguindo com que a música se torne o elemento motivador de uma cumplicidade entendida como a reunião de esforços para realizarmos aquilo que é mais importante para aquele que sobe em um palco, ou seja: emocionar o público.
Esses caminhos podem ser resumidos por palavras como: respeito, paciência, credibilidade, confiança, valorização da competência, ousadia, alegria, cumplicidade, bondade, dentre muitas outras.

De qualquer forma, de um modo geral, a vida de um maestro é solitária, desde o momento em que tem que estudar suas partituras para entender o que deve ser feito com o seu conjunto, até o momento em que, após uma apresentação, é o último a sair dos eventos, com aquela sensação de que o seu filho (produto musical), foi entregue ao mundo e que seu trabalho momentâneo foi finalizado e... pronto. E fica aquela perguntinha constante: onde estão os cantores que estavam comigo?

Dentro dessa relação de harmonia grupal, surpresas nos são proporcionadas ao longo do tempo e em relações para além do fazer musical, mas puramente na relação humana. Isso acontece quando alguns cantores resolvem, como uma surpresa, dar uma boa resposta ao maestro e comemorar (isso mesmo, comemorar) os seus 10 anos de esforço em conjunto dentro de um grupo. Por que a surpresa? Porque somos acostumados a não termos estas manifestações espontâneas de satisfação por parte daqueles que realizam um trabalho musical. Por que? Porque o trabalho é duro, incessante, estressante, que gera satisfações o tempo todo, mas que, como eu disse, são cansativos, repetitivos, marcados por uma exigência sem fim, e que se esvaem após uma apresentação, dando início à preparação de uma nova. 

Vários ingredientes que fazem do músico um solitário, não acostumado a raízes e também não acostumado a medir o tempo e pensar na coleção de méritos acumulados com o passar do tempo e de muitos trabalhos. E se o reconhecimento de alguns nos é dado através da comemoração do tempo de trabalho em conjunto, isso só pode nos... emocionar.

Aos cantores do Madrigale Maria Célia, Cecília, Gásparo e Leandro, obrigado pelos dez anos e que vocês me suportem por mais dez (no mínimo).


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Accentus (transcriptions)

Sem dúvida alguma, o Accentus é o melhor coro francês da atualidade. Fundado e dirigido pela maestrina Laurence Equilbey desde 1991, este coro de 32 cantores se esmera em apresentar o que há de melhor do repertório coral a cappella, não só de música francesa, mas da música universal. 

Em 2007, produziram um cd com transcrições de obras célebres do repertório instrumental para coro. Uma destas peças é “Kein Deutscher Himmel”, que na verdade é o Adagietto da Sinfonia n. 5 de Gustav Mahler. Observem a precisão de afinação e a extensão da soprano solista. Belíssimo!!! Uma boa quantidade de excertos de gravações estão disponíveis no youtube para quem quiser conhecer um pouco mais das qualidades do conjunto e de sua maestrina. Que tal uma pesquisa à la française?






quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Nidus Children’s Choir (ou um maestro injuriado)

Ah! Como é bom ver crianças cantando assim. Ultimamente, com o interesse das escolas em terem suas crianças cantando (se apresentando), têm surgido, salvo algumas exceções, vários coros de crianças com uma qualidade, no mínimo, duvidosa. Na maioria do caso, sempre é possível afirmar que o problema está quase sempre na pecinha; na pecinha que fica à frente do coro.

Perdoem-me a ironia, mas tendo uma formação de menino cantor, sempre entendi que das coisas mais difíceis que existem é o trabalho com vozes infantis. Com certeza, é muito mais complexo do o que o trabalho com vozes adultas, e muitos dos que se arriscam a trabalhar com crianças não têm a devida formação para tal.

O que tenho percebido, ultimamente, aqui na nossa terra: tons errados; naipes mal classificados; repertórios inadequados; desconhecimento das melhores regiões vocais infantis; maior preocupação com o teatro do que a música; pouca disposição em educar musicalmente as crianças. E, agora, com a valorização televisiva do espetáculo infantil (que muitas das vezes é infanto-juvenil), surge um novo complicador, mas discutir esse ponto é complicado quando os meios midiáticos dão a qualquer um a capacitação e o conhecimento. Enfim, crianças cantoras podem fazer qualquer coisa quando bem educadas vocal e musicalmente. Além disso, se bons cantores são formados na infância, melhores os cantores que uma cidade, região ou país terão. Isto não quer dizer que os meninos têm que cantar notas agudas ou graves, mas cantar da maneira correta.


Uma pena! Muito a falar, mas pouco espaço, mas fica um recado: atentem-se todos com as formações que podem prejudicar as vozes infantis, pois disto dependem o coros adultos do futuro (e os solistas também).

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Eli! Eli! Lamma sabacthani?


Como estamos nas proximidades da Semana Santa, postarei, até lá, algumas obras corais referentes a este momento tão importante para os cristãos.
Eli! Eli!, escrita em 1933, de forte dramatismo e dificuldade interpretativa, é a obra mais conhecida de György Deák Bárdos (Budapest, 1905-1991), um dos melhores compositores húngaros do século XX. A letra, extraída do Evangelho de São Mateus (Mt 27,46), reproduz as últimas palavras de Jesus, agonizando na cruz:

"Et circa horam nonam clamavit Jesus voce magna dicens:
Eli, Eli! Lamma sabacthani"
(Próximo da hora nona, Jesus clamou, com um grito, dizendo:
Meu Deus, meu Deus! Por que me abandonaste?)

Nessa composição, chamo a atenção para a utilização de dissonâncias ao longo da peça, aumentando gradativamente a tensão até o momento em que o Cristo se dirige ao Pai e grita Eli! Eli!. Um efeito de levantar e abaixar a cabeça é conseguido com o efeito de glissando em dois momentos, clímax musical, até o pianíssimo final, anticlímax total da peça, simbolizando o fim da energia e do sofrimento. Um primor de composição!!!

Indico dois bons coros e suas execuções desta peça:


Paulo Chubinsky Cappella Choir


Kammerchor I Vocalisti


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Consonância x dissonância


Há muito que se discute sobre este antagonismo, como se uma não dependesse completamente da outra para a produção da expressividade musical, pelo menos desde o século XVII. Não existiria o barroco se não houvesse o jogo de tensão e repouso produzido pelo uso constante de dissonâncias que se resolvem.

Ah! Mas então o problema é a resolução? E se não houver resolução, a música torna-se inabilitada para a audição, ou pelo menos para o deleite musical? Quanto já se discutiu sobre isto, e ainda se discute.  E no tocante à música sacra? Esta instituição advinda do canto gregoriano, tão desprovido de tensões que chegou a ser acusado de música alienatória, criada para ajudar a Igreja Católica a conduzir pacatamente suas ovelhas, é ela capaz de aceitar que a dissonância se propague dentro de sua santidade? Bem, na verdade, já se imiscuiu há muito tempo, existindo como elemento presente desde o século XVIII, quando começou a existir dentro da Igreja Luterana, a qual solicitava aos seus compositores que criassem ambientes musicais representativos das várias passagens bíblicas, sejam elas oratórios de natal, ou paixões de morte de Jesus Cristo. E como pensar paixões sem tensões intensas, buscadas (e alcançadas) através das dissonâncias?

Então, quando se fala em música sacra contemporânea, moderna, se pensam em harmonias horripilantes, desagregadoras e “feias”. Isto não existe. Um conselho: procurem o repertório correto.


Dissonância
X
Consonância



quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Sacro x profano

(Algo que escrevi em 2011, mas que ainda representa o que penso)

Há bem pouco tempo, os corais tinham por hábito montar seus concertos em duas partes: uma com músicas sacras, e outra com músicas profanas (posteriormente, chamávamos a segunda parte de “populares”). Hoje, os concertos são mais ecléticos, sendo que os gêneros não mais são diferenciados. Canta-se música coral, e pronto.

Eu próprio fui um dos que considerava importante uma mistura dos gêneros, por entender que sua separação trazia mais prejuízos do que benefícios. No entanto, o tempo passa e a distância dos elementos exclusivamente sacros começa a fazer falta na completa maneira de pensar o interpretar a música. Há uma discussão constante do que é o “mistério” quando se canta música sacra, que não é possível pensar em outros gêneros. Termos como “amor”, “prazer”, “gozo”, “êxtase”, “paixão”, “sofrimento”, “desespero”, etc. têm significado único e diferente neste contexto, e é justamente na diferenciação da música coral da instrumental que a palavra tem a sua importância máxima. O termo para isto é verbalização. Para quem canta, o texto de São João é altamente significativo: No princípio era o Verbo, e o Verbo se fez... cantando.


No nosso tempo, exprimir-se em termos sacros não é bem visto quando se canta em teatro. Música sacra se faz na igreja, e ponto. Desconsideremos. Música sacra se canta em qualquer lugar, porque ela é única enquanto sacra, porque ela evoca em nós sensações e sentimentos os quais não são “palpáveis”, nem “visíveis” na música popular (profana). São universos diferentes. Faz parte do “MISTÉRIO”. Amém.


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Amaranto


Marina, Flávia e Lúcia – Amaranto
Eu me deleito falando dos bons grupos da minha terra, e o Amaranto é um daqueles bons conjuntos que existem para a satisfação de todos, músicos e/ou público.

Retiro do seu site aquilo que é essencial para compreendê-lo (as):
“Amaranto é um flor. As amarantáceas são inflorescências, da família da sempre-viva. Eram símbolos de imortalidade para os povos da América Central. Hoje também se sabe que o fruto do amaranto é um cereal de alto valor nutricional. Mas, para nós, isto tudo veio depois. O batismo foi dois anos depois de começarmos este trabalho. O que veio antes foi um família feliz, de crianças saudáveis, de reuniões alegres regadas a canções. As três irmãs cresceram, amigas e cúmplices, desenvolvendo juntas seu amor pela música. E foi isso que deu origem ao grupo vocal Amaranto. É ainda o que nos move, unidas em torno da beleza da música popular brasileira, construindo uma carreira dedicada ao dom que recebemos.”

Simplesmente lindas!!!




quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Um “Jesus, alegria dos homens” diferente


Postei, no princípio do ano, uma gravação do Madrigale cantando este coro final da Cantata 147, de J. S. Bach. Me lembrei de um post que escrevi em 2011, no blog do Coro Madrigale, sobre um e-mail que havia recebido da minha amiga Ana Valéria, cantora do Madrigale. Na ocasião, me presenteou, bem como aos outros cantores do coro, com este comercial maravilhoso. 


Junto do endereço do vídeo, havia um comentário engraçadinho, sem ser desrespeitoso, o qual eu divido com todos, pois, no fundo, no fundo, é verdadeiro. Dizia ela:

“Fantástico!
É uma propaganda, mas mesmo assim estou enviando.
p.s. se o Arnon estivesse regendo a bolinha, ia ficar gritando: “tempo, bolinha! Tempo!”


Teria mesmo. Valeu, de novo, Anette!!! 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Star Wars


Para aqueles que gostam de John Williams (eu gosto muito!!!), aqui vai uma super produção arranjada por Josh Slagowsky, Bryant Smith e Mister Tim para o Moosebutter.

Moosebutter é um grupo de cantores comediantes que começou em Salt Lake City. Atingiu o cenário nacional dos EUA em 2003, quando conquistou o segundo lugar no Harmony Sweepstakes (competição anual realizada americana para grupos vocais). Desde então, além de turnês constantes têm participação destacada em comerciais e projetos independentes. Este vídeo lançado no youtube é o maior sucesso do grupo, com quase 3.000.000 de acessos.


Sim, que a força esteja com todos!!!