(Introdução à série sobre “The Making of the Drum”, de Bob Chilcott)
Há obras corais que encantam pela beleza sonora. Outras,
pela profundidade simbólica. E há aquelas, raras, que conseguem reunir as duas
coisas. The Making of the Drum é uma dessas obras.
Bob Chilcott, o compositor, é uma das vozes mais expressivas da música coral
contemporânea. Cantor do lendário King’s Singers antes de se dedicar à
composição, ele construiu um catálogo que mistura simplicidade, sofisticação e
uma sensibilidade humanista que fala diretamente ao coração dos coros e do
público. Em The Making of the Drum, escrita em 1999, ele une poesia de alma africana e escrita coral inglesa em uma peça de rara força espiritual.
O texto, do poeta de Barbados, Kamau Brathwaite, narra
o nascimento de um tambor. Não é uma descrição técnica: é um rito. A cada
verso, o instrumento é construído com matéria e alma. A madeira cortada, a pele
esticada, a cabaça vazada, tudo é gesto, tudo é sacrifício. E, pouco a pouco, o
tambor se transforma em símbolo: corpo e voz da própria humanidade.
Quando o Ars Nova apresentou essa obra no concerto do
centenário da Escola de Música da UFMG, em abril de 2025, ela soou como uma metáfora perfeita para a própria Escola: feita de mãos,
de vozes, de dedicação, de tempo, de uma matéria viva que só existe porque
vibra.
Como o tambor, a Escola foi moldada por quem a tocou e por
quem ainda a faz ressoar...
Nos próximos posts, seguirei por dentro da obra, parte
por parte, acompanhando esse processo simbólico de construção.
Cada movimento é um capítulo do rito: a pele e a madeira, a
cabaça e o espírito, o tambor que fala e a celebração que o transcende.
É um convite à escuta e à contemplação, porque, afinal, fazer um tambor é também fazer o som do mundo.
Bob Chilcott
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