E chegamos ao fim da viagem de 1958. Foram semanas intensas, atravessando países, palcos, embaixadas e até a sala do Papa. Hoje, olhando para trás, é possível enxergar os fios políticos que envolviam o coro, mas não se pode esquecer que, para quem estava lá, a experiência tinha outro sabor. Os cantores pensavam na aventura, na convivência, na emoção de cantar em lugares históricos. O regente buscava, como qualquer jovem maestro, construir uma carreira e abrir espaços para si e para o grupo.
Se hoje falamos em representações culturais e estratégias de
Estado, é porque a distância nos permite ler essas camadas. Naquele momento, o
que se vivia era mais imediato: aplausos, viagens, descobertas, encontros
inesperados. O Madrigal foi usado como vitrine, sim, mas não havia plena
consciência disso dentro do próprio coro.
O contraste entre o presente da época e a leitura que
fazemos hoje é o que mais chama atenção. O que parecia apenas um concerto em
uma basílica, uma audiência no Vaticano ou um coquetel em embaixada era, ao
mesmo tempo, instrumento de projeção do Brasil no exterior. Essa duplicidade, a vivência inocente dos músicos e o cálculo dos diplomatas, é talvez o traço
mais revelador da excursão de 1958.
A viagem deixa claro que a música pode ser tanto espaço de
criação e encontro quanto peça em engrenagens maiores, nem sempre visíveis para
quem canta. O Madrigal voltou com histórias, aprendizados e portas abertas, mas
também deixou registrado, ainda que de forma inconsciente, como a arte se cruza
com o poder.
👉 Nos próximos textos,
sigo para outros caminhos, pelo menos temporariamente, deixando o Madrigal aqui nas minhas pesquisas. Mas ele voltará...
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