quinta-feira, 2 de outubro de 2025

O Madrigal na Suíça – Quando a diplomacia fecha a porta

A temporada suíça começou em 7 de março, mas em Zurique o Madrigal Renascentista se deparou com uma realidade dura: sem o apoio da diplomacia, não havia palco. A carta da coralista Suzy Botelho, enviada ao Diário de Minas, não deixa dúvidas:

Bem, e agora estamos já nos despedindo de Zurich (sic). Aqui foi o único lugar onde nada fizemos, do ponto de vista artístico, por não termos conseguido estabelecer contatos a tempo. Procuramos o Cônsul daqui para sabermos se poderíamos fazer qualquer coisa, mas pela primeira vez durante nossa viagem à Europa, não somos bem recebidos por um diplomata. Não sei o nome dele ainda, mas vou saber. Mas foi bom que não tivéssemos compromissos, pois descansamos um pouco. Partiremos amanhã muito cedo para Milão.

Esse episódio mostra de forma clara que a chamada diplomacia cultural não é neutra nem automática. Ela depende de interesses, de vontade política, de embaixadores engajados, ou não. O coro podia ter talento e repertório, mas sem o selo da oficialidade e sem as chaves da diplomacia, sua voz não se fazia ouvir.

Até então, em cada país, a presença de embaixadores e diplomatas brasileiros havia sido decisiva. Foram eles que garantiram salas de concerto, convites de última hora, plateias qualificadas. Em Paris, por exemplo, chegou-se a articular até uma verba extra para que o coro retornasse à cidade e se apresentasse em um congresso latino-americano na Sorbonne. Ali, a engrenagem diplomática funcionava. Em Zurique, não.

O contraste é revelador. O Madrigal só existia como cartão de visitas do Brasil porque havia uma máquina política e cultural que o sustentava. Quando essa máquina falhou, restou apenas o silêncio.

 



👉 No próximo post, acompanharemos a passagem pela Itália, onde o Madrigal encerrou a excursão de 1958 e recolheu os frutos dessa longa viagem.

  👉👉 Fontes no livro em: o_coro_do_brasil_o_madrigal.pdf

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