sexta-feira, 3 de outubro de 2025

O Madrigal na Itália – Entre basílicas, palácios e o Papa

 A Itália foi o último destino da excursão europeia do Madrigal Renascentista em 1958. Os músicos chegaram em 9 de março, visitando Milão, onde se apresentaram no Palácio dos Doges, seguiram para Veneza, com concerto na Basílica de São Marcos, e depois para Florença, onde participaram de uma audição radiofônica.

O momento mais simbólico, porém, aconteceu em 18 de março, em Roma, quando o coro foi recebido em audiência pelo Papa Pio XII. Para ele, cantaram a Ave Maria, de Victoria. Segundo a cantora Suzy Botelho, o Papa se mostrou surpreso e comentou: “Nunca poderia imaginar que em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, houvesse um coro de qualidade como o Madrigal Renascentista.”


Com véus, tradição nas audiências papais, as cantoras do Madrigal Renascentista com Pio XII – 1958. Da esquerda para a direita: Maria Auxiliadora Lima Martins, Maria Amália Martins, Terezinha Miglio, Rosa Alice Godoy, Norma Augusta Pinheiro Graça, Ana Maria Godoy, Maria Lúcia Godoy, Papa Pio XII, Hilda Soares Fonseca, Suzy Botelho, Maria Amélia Martins, Edith Hasseck, Waldemira Oliveira, Neide Lambert e Zinda de Oliveira Santos. (Acervo Madrigal Renascentista)


Da esquerda para a direita: Francisco Magaldi, José Aurélio Vieira, Cláudio de Castro Ribeiro, Isaac Karabtchevsky, Laudelino Menezes, Papa Pio XII, Fábio Lúcio Martins, Amin Abdo Feres, Edival Trindade, Afrânio Lacerda, Gilberto Brandão, Ildeu Oliveira Santos, Wilson Bergo Duarte, Jonas Travassos. (Acervo Madrigal Renascentista)

As fotos desse encontro dizem muito. De um lado, as cantoras, vestidas de acordo com o protocolo rígido do Vaticano: véus, uniformes discretos, sem decotes ou adornos, saias abaixo do joelho. Algumas sorriem, outras parecem constrangidas, numa postura cerimoniosa que imitava o gesto do pontífice. Do outro lado, os homens: ternos escuros, mais diversidade de expressão, Karabtchevsky em primeiro plano, encarando o fotógrafo com um sorriso que destoava da formalidade geral.

Essa audiência não foi um concerto oficial, mas um gesto político. O coro cantou apenas uma peça, e o peso da ocasião estava no simbolismo do encontro, não no repertório.

No mesmo dia, o grupo cantou também na Grande Sala Palestrina do Palácio Doria Pamphilj, sede da Embaixada do Brasil em Roma, em concerto patrocinado pelo embaixador Adolpho Cardoso de Alencastro Guimarães. Entre os convidados, estavam membros do corpo diplomático, altos funcionários do governo italiano, críticos de arte e personalidades da sociedade romana. Era a diplomacia cultural em sua forma mais explícita: o Brasil sendo representado por vozes mineiras em um dos palcos mais aristocráticos da Europa.

Poucos dias depois, a maior parte dos cantores voltou a Lisboa para embarcar de regresso ao Brasil. Permaneceram em Freiburg Isaac Karabtchevsky, Maria Lúcia Godoy e Amin Feres, que haviam conquistado bolsas de estudo, acompanhados por Ana Maria Godoy. Ali começava um novo capítulo na vida desses jovens músicos, ao mesmo tempo em que se encerrava a primeira grande aventura internacional do Madrigal.

👉 No próximo post, será hora de olhar para o todo e pensar no que essa excursão de 1958 significou: vitrine artística, ferramenta política e marco na história da música coral brasileira.

   👉👉 Fontes no livro em: o_coro_do_brasil_o_madrigal.pdf

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