segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Concertos da semana


Olá a todos!!!
Convido-os para os primeiros concertos de natal do mês de dezembro:
* Dia 01/12
Coro Madrigale, Coral Infanto-juvenil da Igreja Batista da Lagoinha e Coral do Colégio Sagrado Coração de Jesus
Local: Capela do Colégio Sagrado Coração de Jesus
Rua Professor Moraes, 363 – Funcionários
20h00 – Entrada Franca

* Dia 02/12
Cantata de natal da Assembleia Legislativa de Minas Gerais
Coral BMDG e Corais de órgãos públicos.



* Dia 05/12
Concerto de Natal do Coral BDMG
Local: Biocor
Alameda Oscar Niemeyer (antiga Alameda da Serra), 217 - Bairro Vila da Serra
11h00 (apresentação para os pacientes do hospital)


Aqueles que quiserem nos acompanhar nos bons momentos de música desta época tão especial podem ficar à vontade.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Criador e criatura

Meus amigos,
Sei que vários já terão visto as fotos que aqui coloco, no Facebook, mas ainda assim insisto em trazê-las para este blog para aqueles não viram, e também para que aqueles que viram possam ter um perspectiva um pouco diferente a partir de uma pequena narrativa.

Lá estivemos, na Paróquia Sagrada Família, levando um pouco da nossa música para o Padre Januário e sua comunidade. Apresentado como um irmão do coração logo me incumbi de mostrar a todos e a ele (surpreso) que aquele coro que ali estava era o resultado de um investimento em um jovem maestro e na possibilidade da criação de um conjunto que se pretendia comunitário. Ele não tinha consciência, pasmem, que o Coro Madrigale era o fruto daquele gesto de anos passados. E lá percorremos o repertório, aproveitando uma Ave Maria para que ele pudesse se integrar aos tenores e cantar, embevecido na oração que para ele tem um significado para muito além do que nós, leigos, sentimos e entendemos. E no final, ganhei o meu abraço e um sorriso do tamanho do mundo.

No encontro de criador e criatura, do padre e do maestro, do coro e de um público simpático uma transformação pode acontecer quando a fruição musical acontece. Quando a música se faz presente e alcança os corações de todos trazendo sorrisos e convidando à participação efetiva de todos no fazer musical.


A recompensa de um artista não está, muitas das vezes, no simples executar bem a sua arte, mas também no sorriso daquele a quem você oferece a sua música. Entender que a satisfação plena alcançada com o ato atingiu aquele que é merecedor do seu gesto pode ser um prêmio sublime, ainda que fugaz. Façamos música, para além dos nossos umbigos, objetivando os corações alheios. Façamos música entendendo que uma parte da salvação do mundo está nela, e que a palavra, cantada, de fato tem poder.

Num lugar acolhedor
O embevecimento do padre (no fundo)
 
A música me enleva, emociona, impulsiona
 
E a nós também!!!

O sorriso de um coro é a certeza do dever cumprido.

O prêmio da noite.


terça-feira, 24 de novembro de 2015

Hostílio Soares

No último sábado, 21 de novembro, homenageei intimamente o músico Hostílio Soares (1898-1988), tão importante para mim e que, infelizmente, ainda não goza do privilégio de ser devidamente reconhecido no meio musical mineiro. Falo sobre ele, nesse momento, por dois motivos: o primeiro porque estamos em novembro, mês no qual Hostílio nasceu, num dia 14, e faleceu, num dia 21. E o segundo porque após um período de abandono das pesquisas relacionadas ao mestre, por causa do doutoramento, retomo ao trabalho de resgate de seu acervo.

O meu contato com as obras do compositor aconteceu de maneira fortuita quando, em 1995, ainda aluno do curso de regência na Escola de Música da UFMG. Naquela ocasião, cumprindo a obrigação de orquestrar uma peça musical para coro e teclado, me chegou às mãos a partitura de As Sete Palavras de Christus Cruxificatum, uma versão final que o maestro escreveu para coro a 5 vozes e órgão. Numa adaptação para coro e orquestra de cordas apresentei a obra com o Coro Estável da mesma escola em que eu estudava e Hostílio foi professor. Foi um espanto na época, pois o que se sabia do músico era que ele dava o nome à sala de harmonia da instituição e quase ninguém tinha ideia de quem ele era, apesar de ter falecido somente alguns anos antes.

Encantado com o que conheci naquele momento, graças ao Maestro Oiliam Lanna, estabeleci contato com a família Soares e, dessa forma, tive acesso ao seu acervo de partituras. De maneira quase que obcecada, trabalhei no resgate e execução, sempre com o Coro Madrigale, de sua Missa em Sol Maior (São João Batista) e Missa de Sábado Santo, além de várias peças corais avulsas. Posteriormente, com o seu acervo cedido pela família ao Núcleo de Acervos da Escola de Música da UEMG, o trabalho se ampliou para a recuperação da Sinfonia Krishnamurti, para orquestra de cordas, e da ópera A Vida, além de várias canções e peças de câmara.

Atualmente, reinicio o percurso abandonado, temporariamente, recuperando uma segunda ópera: Os Príncipes Românticos. Além disso, a execução de suas obras recomeçarão no próximo ano, para alegria de um público belo-horizontino que de muito tempo aprecia as suas composições. Durante um certo período do meu percurso musical, o meu nome esteve atrelado ao desse compositor por dedicar um bom tempo ao resgate de suas obras corais, e espero que assim continue, se possível até que ele se faça bastante conhecido.

Sobre Hostílio Soares:


Nascido em Visconde do Rio Branco (MG), filho de pai músico, se graduou em composição no Instituto Nacional de Música, no Rio de Janeiro. Após a conclusão do curso, fundou e dirigiu, em Visconde do Rio Branco, a Escola de Música Francisco Braga e o Coro Santa Cecília, da Matriz de São João Batista. Mudou-se para Belo Horizonte em 1931, tornando-se professor do Conservatório Mineiro de Música em 1932, onde foi professor de Contraponto e Fuga e professor designado para as cadeiras de Harmonia Elementar e Superior, Composição e Instrumentação durante 34 anos.

Tido como uma referência no ensino do contraponto e fuga em Belo Horizonte, Hostílio venceu vários concursos de composição, mas sempre compondo dentro de uma linguagem atrelada a um estilo que em música é chamado de romantismo tardio, no qual a expressividade é valorizada ao extremo utilizando o cromatismo (uma sucessão de semitons) como principal elemento de estruturação de uma composição, mas sem se desvencilhar, contudo, dos princípios tonais e formais do século XIX.

Algumas de suas obras:
Sinfonias: Annie Besant, para grande orquestra; Krishnamurti, para orquestra de cordas; Sinfonia Descritiva Brasília, para grande orquestra.
Óperas: A Vida; A História do Asceta e a Dançarina; Os Príncipes Românticos.
Obras corais: As Sete Palavras de Christus Cruxificatum; Missa São João Batista; Missa de Sábado Santo.

Canto: Álbum de Canto e Piano (5 peças em vernáculo); O Leque; Heliantos; além de hinos patrióticos.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Concerto/encontro Madrigale

Olá a todos!
O Coro Madrigale realizará um concerto muito especial no próximo domingo. Especial porque, para além da execução musical somente, permite o encontro do Coro/maestro com um Padre muito especial: o Pe. José Januário Moreira. Trata-se de uma história de coincidências fortuitas que conduziram à criação desse conjunto que há 22 anos vem cantando e emocionando.

Para chegar ao Madrigale, vou lhes contar um pouco da trajetória do padre e do maestro através de outros coros:
- o maestro, em 1983, começa a cantar no Coral d. Silvério de Sete Lagoas, onde o padre cantou anos antes e se desligou para seus estudos de seminário. O maestro se torna regente auxiliar desse coro a partir de 1985;
- o padre assume a Paróquia Menino Jesus, em Belo Horizonte, e resolve, em 1988, fundar um coro de meninos cantores (tratava-se de um coro de meninos e rapazes). Chama o maestro para conduzi-lo. Em 1990, o Coro de Meninos da Paróquia Menino Jesus se transformou no Coro Menino Jesus, quando os naipes de meninos foram substituídos por mulheres;
- em 1992, o maestro encerra as atividades desse coro para assumir o Coral Newton Paiva;
- Em 1993, solicita ao padre permissão para utilizar as dependências da Igreja Menino Jesus para o início das atividades de um coro criado a partir da união de alguns cantores com experiência coral e que pretendiam desenvolver repertórios elaborados. O padre não só permitiu, mas também abençoou aquele grupo que se iniciava.

Mal sabia ele que, ali, sem nome e sem sede, nascia o Coro Madrigale, fruto de uma amizade entre dois ex-meninos cantores apaixonados pela arte coral e da gestação de indivíduos em outros coros de extrema importância.

Tantos anos passados, temos a oportunidade de um reencontro e isso é algo especial, sobretudo para mim, já que não mais existe no coro nenhum dos cantores iniciantes. O Padre Januário não é o responsável pela feitura somente do Madrigale, pois, como pároco da Matriz de Santa Luzia, criou o Coro Mater Ecclesiae que acaba de completar seus 20 anos, tendo formado vários cantores e músicos ao longo dessa trajetória.

Para esse concerto/encontro fizemos uma seleção de músicas que pretende agradar ao público que nos assistirá, mas, muito especialmente, a esse formador e grande amigo.

Concerto Madrigale
Domingo – 22/11/2015
20h00
Paróquia Sagrada Família
Rua Costa Monteiro, 767 – Sagrada Família – Belo Horizonte

- Entrada Franca –

Arte: Camila Malloy

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Sobre a música moderna para coros

Olá!!!
Um dos últimos posts que escrevi no Blog do Madrigale dizia respeito à música moderna para coro. Com a intenção de dar sequência a esse assunto, aqui trago o essencial do post e mostrarei alguns compositores do nosso tempo que se dedicam a esse instrumento específico. Lá, eu escrevi:

Hino ao Criador da Luz – John Rutter
“Dos compositores modernos que se dedicam à música coral, dois são muito conhecidos dos estudiosos desse repertório específico: John Rutter e Eric Whitacre. Nos próximos dias, mostrarei, além dos dois, mais alguns nomes importantes da composição coral (pouco comentados, infelizmente, por tratarem desse instrumento injustiçado: o coro).

John Rutter (1945-) é o mais conhecido dos compositores britânicos de música coral da atualidade. Mesmo se você pensa que não conhece a música dele, as chances já ter ouvido ao menos uma de suas peças sacras – Jesus child, Nativity Carol, Mary's Lullaby, Magnificat ou The Lord bless you and keep you – é grande, pois são marcos da música coral nas redes sociais.

Esta peça, para duplo coro a quatro vozes, foi escrita para os coros da Catedral de Gloucester, Hereford and Worcester, em 1992. Bem diferente de uma linguagem posterior, mais conservadora, adotada por ele, o início da peça evoca um emaranhado harmônico que pode afugentar alguns ouvidos adeptos das harmonias convencionais e tonais. Não façam isso!!! Prossigam na audição e observem a condução, intencionada, por ele a um hino sacro alemão do século XVII. “


Hino ao Criador da Luz
Glória a ti, ó Senhor, glória seja para ti,
Criador da luz visível,
Raio do sol, a chama de fogo;
Criador também da luz invisível e intelectual:
Aquilo que é conhecido de Deus, a luz invisível.
Glória a ti, ó Senhor, glória seja para ti,
Criador da Luz.
Para os escritos da lei, glória seja para ti:
Para os oráculos dos profetas, glória seja para ti:
Para a melodia de salmos, glória seja para ti:
Para a sabedoria dos provérbios, glória seja para ti:
experiência de histórias, glória seja para ti:
uma luz que nunca se põe.
Deus é o Senhor, quem mostrou-nos luz.
(Lancelot Andrewes, 1555-1626, tradução: Alexander Whyte.)

Luz, que fazes com que minha alma ilumine;
Sol, que fazes com que toda a minha vida brilhe;
Alegria, o homem mais doce fazes conhecer;
Fonte, de onde todo o meu ser emana.
Do teu banquete, deixe-me medir,
Senhor, quão vasto e profundo é o seu tesouro;
Através dos presentes que aqui nos dás,
Assim como teus convidados no céu nos recebas.

 (J. Franck, 1618-77, tr. Catherine Winkworth)

John Rutter


Um pouco sobre Eric Whitacre nos próximos dias.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Modificações em um coro

Olá a todos!!!
Fui confrontado com algumas dúvidas de um cantor que participou da criação de um coro, no qual despendeu um bocado de energia para sua efetivação. Após um ano, os propósitos iniciais do conjunto se modificaram, tanto nos objetivos quanto na sua maneira de se apresentar, fazendo com que essa pessoa se afastasse, desgostoso, daquele trabalho. Claro que as suas dúvidas se relacionavam às perguntas básicas de um término de relacionamento: deveria ter persistido? Deve buscar outro grupo? Começar outro grupo? E eu acrescento outras dúvidas: o que leva à formação de um grupo coral? O que pode ser pensado para que a perpetuação deste conjunto aconteça? É lícito pensar nas individualidades quando o que se pretende é um objetivo coletivo?

Pois bem, não poderia fugir da consideração de que um coro e seus objetivos podem estar ligados a interesses institucionais ou individuais, e a aglomeração de pessoas para a sua realização depende da credibilidade na possibilidade de o trabalho frutificar. Vários são os elementos que impulsionam indivíduos em compartilhar seu tempo em benefício de uma produção coletiva: o repertório, o lazer proporcionado, o engrandecimento cultural a partir do conhecimento de uma nova linguagem, o desenvolvimento vocal ou, até mesmo, uma melhoria da saúde mental e espiritual. No entanto, acredito que uma boa parcela do sucesso de um grupo coral se encontre na boa escolha daquele que liderará essa micro-sociedade. Sim, o regente. O Maestro.

Digamos que seja mais fácil observarmos essa afirmação em conjuntos independentes. Não será senão pela crença de que um determinado repertório, seja popular ou erudito, criará o interesse para que as pessoas se aproximem e trabalhem na elaboração daquele. Isso porque não é concebível pensarmos que um coro se formará para não se apresentar. Para muitas pessoas, falar em público é algo extremamente difícil. O que não dizer do “cantar em público”. Por outro lado, dividindo com outros a difícil tarefa do enfretamento, é perfeitamente possível realizar isso que para muitos é uma verdadeira realização de vida.
Mas o que acontece quando um maestro, por força de pressões institucionais ou de uma maioria de grupo é obrigado a modificar uma estrutura de repertório para, digamos, atingir um público específico? Ou um público maior? Continuariam as mesmas pessoas dispostas a abrirem mão de uma preferência pessoal em benefício do conjunto iniciado? O que fazer?

Me recordo de minhas pesquisas relacionadas ao Madrigal Renascentista, para não falar puramente de minhas experiências pessoais. A ideia inicial era realizar um repertório puramente renascentista, o que foi motivo da união dos seus jovens cantores formadores. Para atender uma demanda maior do cenário belo-horizontino, adaptaram seu repertório para que divulgasse tanto os novos repertórios, ainda que buscando obras num passado desconhecido, e obras brasileiras, fossem elas arranjos folclóricos ou composições originais. Um objetivo foi estabelecido e mantido, mas eu penso que o que determinou a continuidade e sucesso daquele grupo foi a confiança plena que os cantores depositavam no seu líder, Isaac Karabtchevsky.

Posto isso, há que considerar a tristeza daqueles que apostam num trabalho e depois são obrigados a não mais segui-lo porque seus fundamentos foram modificados. Mas, se um grupo se estabelece numa formação, ele tem que ser coerente com suas ideias. Transformações em coro são normais e dependem da natureza que o cerca, havendo um repertório imenso pronto para ser trabalhado e cantado. O que não pode haver são espaços para individualidade antes do coletivo.


Aos solistas o lugar de solistas. Aos coristas, o lugar de corista. E ai daquele que exaltar um em detrimento do outro (pelo menos próximo de mim).

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O Madrigal no You Tube

Olá a todos.
Atentem-se que o título desse post se refere ao Madrigal Renascentista, e não ao Madrigale. Ao longo dos últimos 4 anos, desenvolvi a minha tese de doutorado baseada na formação e desenvolvimento desse que foi o decano dos coros de câmara brasileiros (pelo menos daqueles que foram reconhecidos como modelos de excelência e referencial a ser seguido).

O conjunto foi considerado o melhor coro do Brasil, nas décadas de 1950 e 1960, época em que foi dirigido por Isaac Karabtchevsky. Apresentou-se oficialmente em várias cerimônias dos governos municipal, estadual e federal, além de exercer uma função de embaixador cultural em mais de uma viagem ao exterior.

Para disponibilizar o pouco material fonográfico que chegou até nós, criei um canal no Youtube, no qual as peças estão disponibilizadas para audição. Convido-os a ouvirem esse belo coro e peço que divulguem o endereço.


Abraços e até o próximo post.

Para acessar o canal, acesse: O Madrigal no youtube


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

E já que falei em Canto Orfeônico

Olá a todos. 
Já que falei sobre orfeão e canto orfeônico num post passado, retorno ao tema de maneira mais direta. Faço isto porque algumas pessoas me perguntaram se havia relação entre uma coisa e outra e o que era o canto orfeônico proposto por Heitor Villa-Lobos. Vamos lá:

A ideia do canto orfeônico surgiu na França, no século XIX, e consistia na formação de pequenos grupos a cappella (sem acompanhamento instrumental), sendo que esta prática se distinguia do coral tradicional devido a seu caráter simples e desprovido de senso estético. No Brasil, o orfeão sempre esteve ligado à imagem de Villa-Lobos, no entanto, no início do século XX, músicos como João Gomes Júnior, Fabiano Lozano e João Batista Julião realizaram importantes trabalhos de formação de orfeões em São Paulo. Em 1932, Villa-Lobos assumiu a direção da Superintendência da Educação Musical e Artística (SEMA) das Escolas Públicas do Rio de Janeiro, criando o Curso de Orientação e Aperfeiçoamento do Ensino de Música e Canto Orfeônico. Esse curso, que tinha por objetivo estudar a música nos seus aspectos técnicos, sociais e artísticos, era dotado de um currículo extenso: canto orfeônico, regência, orientação prática, análise harmônica, teoria aplicada, solfejo e ditado, ritmo, técnica vocal e fisiologia da voz, matérias às quais foram acrescidas as disciplinas de história da música, estética musical, e, pela primeira vez no Brasil, etnografia e folclore.

O sucesso da SEMA e das atividades decorrentes resultaram na formação do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, em 1942, que se propunha a criar um centro de estudos de educadores musicais de alto nível. O Conservatório teria incumbência não só de formar professores, como também orientar e fiscalizar todas as iniciativas do canto orfeônico no país inteiro. Dirigido por Villa-Lobos, o projeto objetivava não só criar e difundir uma metodologia de educação musical própria, mas também visava à formação de um repertório adequado ao Brasil, além de promover a capacitação de um corpo docente especializado, baseado principalmente no folclore nacional e tendo como intuito básico a preservação dos valores culturais do povo.

É possível afirmarmos que a vinculação que se estabeleceu com o governo totalitário da época, evidente devido à forte associação instalada entre música, disciplina e civismo, fez com que o modelo de canto coletivo proposto pelos orfeões fosse naturalmente visto como uma disciplina obrigatória institucionalizada, não sendo cultivada para além dos cursos realizados em instituições. Isto porque o canto orfeônico revelou-se uma excelente forma de propaganda do governo de Getúlio Vargas, e é frequente a crítica de que o trabalho pedagógico de Villa-Lobos estava a serviço de uma causa política e não educacional. Nem todos, entretanto, concordam com este ponto de vista; os partidários dessa visão julgam que o comprometimento do compositor com a ditadura Vargas foi apenas uma circunstância favorável aos seus objetivos musicais e que o aspecto propagandístico e cívico não mereceria maior importância. [1]

Observando a trajetória de vida do compositor carioca, nos parece acertado esse último ponto de vista, pois seus posicionamentos estéticos, e arriscamos dizer também os políticos, estavam muito mais de acordo com o propósito de ter sucesso e ganhar notoriedade do que com convicções artísticas. Basta lembrarmos que, ao participar como músico vanguardista na Semana de Arte Moderna de 1922, Villa-Lobos em nenhum momento se posicionou como um músico preocupado com as novas tendências modernas referentes à música, mas tinha um interesse precípuo de divulgar as suas obras recém-compostas. Além disso, podemos recordar de suas fantasiosas histórias, que por vezes o colocaram em ambientes inóspitos, como o Rio Amazonas, sem que ele jamais tenha realizado tal viagem, ou de suas pretensões de ser reconhecido como um musicólogo especializado em coleta de melodias folclóricas, quando sua principal fonte era um livro de anotações do historiador Roquete Pinto. De qualquer forma, à parte a seriedade (ou ausência dela) do posicionamento político de Villa-Lobos, não há como negar a importância do canto orfeônico no Brasil e, ainda, a colossal contribuição do compositor à nossa música.

[1]  GOLDEMBERG, Ricardo. Educação musical: a experiência do canto orfeônico no Brasil. Disponível em http://www.samba-choro.com.br/print/debates/1033405862/index_html. Acessado em: 9/06/2012.


Villa-Lobos dirigindo Canto Orfeônico em 1942.

Aula de canto orfeônico na década de 1930



segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Um encanto de Orquestra (Ouro Preto)

Estive ontem, bem acompanhado, assistindo ao concerto da Orquestra Ouro Preto executando um programa completamente dedicado a trilhas sonoras de filmes. Um duplo prazer, começando pela seleção de peças e trilhas. De extremo bom gosto. Mas me concentro no segundo prazer: a performance da orquestra.

Há anos conheço a Orquestra e seu maestro, Rodrigo Toffolo. Já tive o prazer de conduzir a mesma, em programas diversos e sempre com uma atenção e qualidades profissionais. Mas me encantei, já que não ouvia o grupo há um certo tempo, com a sonoridade e com a consistência de grupo já alcançada por essa jovem orquestra. Sim! Jovem porque tem apenas quinze anos, o que não é muito em um grupo artístico. Tal qual um indivíduo humano, os anos contam no processo de afirmação e amadurecimento coletivo.

Como é bom observar o amadurecimento daqueles que nós conhecemos jovens, no início de sua carreira musical. Vários dos músicos da Orquestra eu conheci em tenra idade, nas dúvidas da escolha por uma carreira musical. Mas vale a atenção, sobretudo, ao talentoso e dinâmico Rodrigo Toffolo. Maestro, violinista, pesquisador, mestre em musicologia e doutorando em Ciências Musicais, sem dúvida, predicados que o credenciam a ser o que foi no dia de ontem, um enternainer, na melhor acepção da palavra, capaz de emocionar, alegrar, entusiasmar e musicalizar uma plateia ávida do repertório e do belo som da Orquestra.

(Uma pausa para reforçar o que muito foi dito ao longo do concerto: palmas para o talento do jovem compositor residente do conjunto: Mateus Freire. Nos dizeres do maestro: apaixonado e inspirador em seus arranjos.)

Que venham programas, trilhas, gravações, projetos e sucessos. Eles são muito bons. E são dali de Ouro Preto, Minas Gerais. Bravo!!!

As fotos são de Naty Torres, copiadas da própria página da Orquestra Ouro Preto no facebook. (Todas as fotos do concerto de ontem)



Maestro Rodrigo Toffolo




sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Especificidade de coros

Pouco se pensa que um coro, como uma orquestra, é montado e construído segundo uma especificidade que pode estar relacionada com a sua ligação com uma instituição e/ou sua função dentro de uma comunidade, grande ou pequena.

Coros direcionados para segmentos musicais específicos diferem, e esta diferença não acontece basicamente na formação do coro, mas no caráter estabelecido para cada um de acordo com a sua funcionalidade. Os coros especialistas em repertório operístico, por exemplo, cantam atuando, o que exige uma formação técnica mais elaborada por parte de seus integrantes que, de um modo geral são cantores profissionais, com formação em bel canto e desenvolvimento em cena teatral. Além disso, exige-se dos cantores uma boa projeção de voz, para teatros e palcos amplos, e uma capacidade de alcançar uma sonoridade uniforme, em que nenhuma voz sobressaia. Os integrantes podem atuar como solistas ou coadjuvantes dentro da obra sendo executada e, via de regra, trata-se de conjuntos com um número elevado de cantores (de 60 a 100 pessoas).


Como outro exemplo, os coros sacros têm um papel estritamente funcional, pois existem enquanto associados a uma instituição religiosa, cantando preferencialmente, ou exclusivamente, música sacra e religiosa. Sua participação em cultos, com função litúrgica, é seu objetivo principal e isso determina seu repertório e a forma de cantá-lo. Numa celebração religiosa, a música não é o mais importante, tendo um caráter subsidiário ao serviço ritual; o peso do texto habitualmente se sobrepõe ao desenvolvimento melódico e rítmico; além disso, os cantos não precisam ser harmonizados, podendo ser cantados em uníssono.[1] Quase nunca os cantores de coros são profissionais, sendo que sua formação musical pode muitas vezes acontecer ao longo de sua experiência no próprio coro, o qual normalmente tem mais flexibilidade em relação aos integrantes que nem sempre são fixos ou regulares.


Os coros de câmara, talvez o segmento mais comum no Brasil, são conjuntos menores, com um número que varia de 15 a 40 cantores, que interpretam obras destinadas ao instrumento coral. Isso significa que eles se voltam para peças que foram compostas especialmente para um grupo de vozes geralmente mistas – homens e mulheres – que cantam simultaneamente melodias distintas e que exploram a diversidade das possibilidades de emissão do som pelo ser humano (não se limitando, portanto, ao canto, mas incluindo ruídos, gestos e percussão corporal). Em linhas gerais, entre os homens, as vozes variam do baixo, registro mais grave, ao tenor, mais agudo; os timbres femininos se dividem, grosso modo, em soprano (agudo) e contralto (grave). Naturalmente há vozes em posições intermediárias, meio-sopranos e barítonos. O repertório dos coros de câmara é executado quase sempre a cappella, ou seja, sem acompanhamento instrumental. Caracterizam-se pela não funcionalidade e por isso são variáveis com relação ao repertório que interpretam. A qualidade do conjunto, bem como a elaboração do repertório desenvolvido por ele, está diretamente associada à qualidade dos cantores que compõem o coro, sendo tanto melhor quanto mais cantores com formação musical e de canto o compuserem.


Continuo ainda...





[1] Vale dizer que essa é uma realidade brasileira, pois, em diversos países da Europa, em que é comum a formação musical básica ser oferecida em idade escolar, é possível ver os fiéis cantando acompanhando partituras e seguindo a melodia mais compatível com o seu tipo de voz (grave ou aguda). O uníssono é marcado pela execução de uma mesma melodia por todos os executantes, variando, no máximo, a oitava, de forma que a textura do som seja homogênea como se houvesse uma única voz.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Falando sobre Canto Coral

Olá a todos.
Neste e nos próximos posts vou falar um pouco sobre canto coral. Isso se faz necessário porque nos nossos dias a palavra coral, ou coro, se tornou algo muito subjetivo, sendo qualquer agrupamento de pessoas que cantam em torno de uma mesa chamado de coro. Não pode ser assim e eu vou explicar o porquê. Começarei pela diferenciação entre um orfeão (palavra desconhecida de muitos) e coro. Vamos lá:

Devemos entender um coro como uma organização capaz de desenvolver um repertório que o diferencie de um simples agrupamento de cantantes, que com um pouco de formação poderiam ser chamados de orfeões. Segundo Ricardo Goldemberg, professor de Artes: "O orfeão tem características próprias que o distinguem do canto coral dos conjuntos eruditos. Trata-se de uma prática da coletividade em que se organizam conjuntos heterogêneos de vozes e tamanho muito variável. Nesses grupos não se exige conhecimento musical ou treinamento vocal dos seus participantes. Por outro lado, o canto coral erudito exige não só conhecimento musical e habilidade vocal, como também vozes rigorosamente distribuídas e um rigor técnico-interpretativo mais elevado."[1]

Observamos, contudo, que seria mais interessante uma comparação entre “orfeão” e “coro” do que opor ao primeiro a expressão “canto coral”, que, por si, define e engloba os dois. No meu entendimento, “canto coral” é qualquer agrupamento de cantores que cantam em vozes diferentes e que obtêm um resultado sonoro interdependente a partir da combinação das melodias, dos sons. No nosso tempo, a vulgarização do termo e a ausência de educação musical sistemática dos públicos permitem considerar qualquer agrupamento que cante, seja em uníssono ou não, afinado ou não, organizado ou não, como um “coral”. De forma análoga, uma torcida de futebol pode ser entendida como um “coral de vozes” se observarmos sua composição de múltiplas vozes – mesmo cantando em uníssono –, o repertório definido e a condução/regência realizada por um chefe de torcida, normalmente.

Musicalmente falando, no entanto, uma torcida de futebol estaria mais de acordo com o conceito que os músicos têm de orfeões (canto orfeônico) do que de coro. Um coro pressupõe um “rigor técnico-interpretativo mais elevado”, pois se organiza buscando um aprimoramento de vozes que permitam uma execução mais elaborada (com nuances várias de intensidade, velocidade, caráter) de repertórios específicos ou diversos. Através do trabalho de um regente/maestro, e não de um professor de música que tenta extrair de um conjunto de iniciantes heterogêneo quanto a aptidões e capacidades musicais um resultado razoável que lhes confira características de um coletivo, a condução é mais voltada para uma concepção artística do que educacional, o que não exclui uma da outra. Com efeito, o hábito de cantar em conjunto, mesmo que as exigências estéticas sejam bastante moderadas, tem o efeito disciplinador de estimular a escuta do outro, a interação social e o equilíbrio entre os indivíduos em prol do grupo.

Entenderam? Continuo amanhã.



[1] GOLDEMBERG, Ricardo. Educação musical: a experiência do canto orfeônico no Brasil. Disponível em http://www.samba-choro.com.br/print/debates/1033405862/index_html. Acessado em: 9/06/2012.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Para quem não viu

Olá a todos.


Minha intenção era não mais falar sobre o Requiem, mas me atentei que várias pessoas não têm acesso ao Facebook ou Instagram, as duas ferramentas em que foram divulgadas fotos e vídeos do concerto. Resolvi, dessa forma, postar algumas imagens e o link para um vídeo de noticiário local. Foi uma noite especial e que ficará na nossa memória por um bom tempo. 

Indaiara Patrocínio - solista soprano

Concentração
Patrícia Cardoso Chaves - solista contralto

Em ação

Kyrie eleison

Dies irae

Firmeza

Iluminados

Werner Silveira - o tímpano que movimenta o Requiem

Violinos perfeitos (Nichola Viggiano - spalla)

Indaiara Patrocínio e Patrícia Cardoso Chaves

Joubert Oliveira (solista tenor) e Lukas D'Oro (solista baixo) - perfeitos

Sopros organísticos