No último sábado, 21 de novembro,
homenageei intimamente o músico Hostílio Soares (1898-1988), tão importante
para mim e que, infelizmente, ainda não goza do privilégio de ser devidamente
reconhecido no meio musical mineiro. Falo sobre ele, nesse momento, por dois
motivos: o primeiro porque estamos em novembro, mês no qual Hostílio nasceu,
num dia 14, e faleceu, num dia 21. E o segundo porque após um período de
abandono das pesquisas relacionadas ao mestre, por causa do doutoramento,
retomo ao trabalho de resgate de seu acervo.
O
meu contato com as obras do compositor aconteceu de maneira fortuita quando,
em 1995, ainda aluno do curso de regência na Escola de Música da UFMG. Naquela
ocasião, cumprindo a obrigação de orquestrar uma peça musical para coro e
teclado, me chegou às mãos a partitura de As Sete Palavras de Christus Cruxificatum, uma versão final que o maestro
escreveu para coro a 5 vozes e órgão. Numa adaptação para coro e orquestra de
cordas apresentei a obra com o Coro Estável da mesma escola em que eu estudava
e Hostílio foi professor. Foi um espanto na época, pois o que se sabia do
músico era que ele dava o nome à sala de harmonia da instituição e quase
ninguém tinha ideia de quem ele era, apesar de ter falecido somente alguns anos
antes.
Encantado
com o que conheci naquele momento, graças ao Maestro Oiliam Lanna, estabeleci
contato com a família Soares e, dessa forma, tive acesso ao seu acervo de
partituras. De maneira quase que obcecada, trabalhei no resgate e execução,
sempre com o Coro Madrigale, de sua Missa
em Sol Maior (São João Batista) e Missa
de Sábado Santo, além de várias peças corais avulsas. Posteriormente, com o
seu acervo cedido pela família ao Núcleo de Acervos da Escola de Música da
UEMG, o trabalho se ampliou para a recuperação da Sinfonia Krishnamurti, para orquestra de cordas, e da ópera A Vida, além de várias canções e peças
de câmara.
Atualmente, reinicio o percurso abandonado,
temporariamente, recuperando uma segunda ópera: Os Príncipes Românticos. Além disso, a execução de suas obras
recomeçarão no próximo ano, para alegria de um público belo-horizontino que de
muito tempo aprecia as suas composições. Durante um certo período do meu
percurso musical, o meu nome esteve atrelado ao desse compositor por dedicar um
bom tempo ao resgate de suas obras corais, e espero que assim continue, se
possível até que ele se faça bastante conhecido.
Sobre
Hostílio Soares:
Nascido
em Visconde do Rio Branco (MG), filho de pai músico, se graduou em composição
no Instituto Nacional de Música, no Rio de Janeiro. Após a conclusão do curso, fundou e dirigiu, em Visconde do Rio Branco, a
Escola de Música Francisco Braga e o Coro Santa Cecília, da Matriz de São João
Batista. Mudou-se para Belo Horizonte em 1931, tornando-se professor do
Conservatório Mineiro de Música em 1932, onde foi professor de Contraponto e
Fuga e professor designado para as cadeiras de Harmonia Elementar e Superior,
Composição e Instrumentação durante 34 anos.
Tido
como uma referência no ensino do contraponto e fuga em Belo Horizonte, Hostílio
venceu vários concursos de composição, mas sempre compondo dentro de uma
linguagem atrelada a um estilo que em música é chamado de romantismo tardio, no
qual a expressividade é valorizada ao extremo utilizando o cromatismo (uma
sucessão de semitons) como principal elemento de estruturação de uma
composição, mas sem se desvencilhar, contudo, dos princípios tonais e formais
do século XIX.
Algumas
de suas obras:
Sinfonias: Annie
Besant, para grande orquestra; Krishnamurti,
para orquestra de cordas; Sinfonia
Descritiva Brasília, para grande orquestra.
Óperas: A Vida;
A História do Asceta e a Dançarina; Os Príncipes Românticos.
Obras corais: As
Sete Palavras de Christus Cruxificatum;
Missa São João Batista; Missa de Sábado Santo.
Canto: Álbum
de Canto e Piano (5 peças em vernáculo); O Leque; Heliantos; além
de hinos patrióticos.
Eu o conheci em Belo Horizonte, quando a Loja Teosófica Baghavad Gautama ficava em seu apartamento no centro.Pessoa incrível, personalidade amorosa e guerreira , foi uma honra ter convivido com o Maestro Hostílio !
ResponderExcluirPoderia me falar um pouco sobre isso? Meu e-mail é arnonsavio@gmail.com
ExcluirAgradeço.
Nos anos 50/60, em Guidoval ouvia muitas referências ao Maestro Hostílio feitas pelo Sô Nilo nos seus saraus de fim de tarde na sua barbearia, onde ele tocava como um “virtuose” violino, banjo e violão, e me acompanhava ao acordeom e a outros cantores amadores locais. Nesses anos por várias vezes, viajando com meu pai o encontrávamos em Juiz de Fora vindo de Belo Horizonte pelo trem de aço, o Vera Cruz, e embarcávamos com ele no Expressinho da Leopoldina com destino a Visconde do Rio Branco, quando eu e meu pai desembarcávamos em Ubá e ele prosseguia ao destino final para visitar sua mãe. Salvo engano, no ano de 1956, numa dessas viagens meu pai falava com ele que eu estava estudando violino em Ubá com a professora D. Chiquinha Dias Paes, sua conhecida e conterrânea. Ao que ele respondeu: “Mario, ainda que ele estude violino, faça com que ele se forme em alguma faculdade porque nessa nossa terra músico ainda não tem muito valor”. Com certeza o meu talento musical não era muito grande e acabe me formando Médico Veterinário
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