Olá a todos.
Neste e nos
próximos posts vou falar um pouco
sobre canto coral. Isso se faz necessário porque nos nossos dias a palavra
coral, ou coro, se tornou algo muito subjetivo, sendo qualquer agrupamento de
pessoas que cantam em torno de uma mesa chamado de coro. Não pode ser assim e
eu vou explicar o porquê. Começarei pela diferenciação entre um orfeão (palavra
desconhecida de muitos) e coro. Vamos lá:
Devemos entender
um coro como uma organização capaz de desenvolver um repertório que o diferencie
de um simples agrupamento de cantantes, que com um pouco de formação poderiam
ser chamados de orfeões. Segundo Ricardo Goldemberg, professor de Artes: "O orfeão tem características próprias que o
distinguem do canto coral dos conjuntos eruditos. Trata-se de uma prática da
coletividade em que se organizam conjuntos heterogêneos de vozes e tamanho
muito variável. Nesses grupos não se exige conhecimento musical ou treinamento
vocal dos seus participantes. Por outro lado, o canto coral erudito exige não
só conhecimento musical e habilidade vocal, como também vozes rigorosamente
distribuídas e um rigor técnico-interpretativo mais elevado."[1]
Observamos,
contudo, que seria mais interessante uma comparação entre “orfeão” e “coro” do
que opor ao primeiro a expressão “canto coral”, que, por si, define e engloba
os dois. No meu entendimento, “canto coral” é qualquer agrupamento de cantores
que cantam em vozes diferentes e que obtêm um resultado sonoro interdependente
a partir da combinação das melodias, dos sons. No nosso tempo, a
vulgarização do termo e a ausência de educação musical sistemática dos públicos
permitem considerar qualquer agrupamento que cante, seja em uníssono ou não,
afinado ou não, organizado ou não, como um “coral”. De forma análoga, uma
torcida de futebol pode ser entendida como um “coral de vozes” se observarmos
sua composição de múltiplas vozes – mesmo cantando em uníssono –, o repertório
definido e a condução/regência realizada por um chefe de torcida, normalmente.
Musicalmente
falando, no entanto, uma torcida de futebol estaria mais de acordo com o
conceito que os músicos têm de orfeões (canto orfeônico) do que de coro. Um
coro pressupõe um “rigor técnico-interpretativo mais elevado”, pois se organiza
buscando um aprimoramento de vozes que permitam uma execução mais elaborada
(com nuances várias de intensidade, velocidade, caráter) de repertórios
específicos ou diversos. Através do trabalho de um regente/maestro, e não de um
professor de música que tenta extrair de um conjunto de iniciantes heterogêneo
quanto a aptidões e capacidades musicais um resultado razoável que lhes confira
características de um coletivo, a condução é mais voltada para uma concepção
artística do que educacional, o que não exclui uma da outra. Com efeito, o
hábito de cantar em conjunto, mesmo que as exigências estéticas sejam bastante
moderadas, tem o efeito disciplinador de estimular a escuta do outro, a
interação social e o equilíbrio entre os indivíduos em prol do grupo.
Entenderam? Continuo amanhã.
[1] GOLDEMBERG,
Ricardo. Educação musical: a
experiência do canto orfeônico no Brasil. Disponível em http://www.samba-choro.com.br/print/debates/1033405862/index_html. Acessado em: 9/06/2012.
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