quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Falando sobre Canto Coral

Olá a todos.
Neste e nos próximos posts vou falar um pouco sobre canto coral. Isso se faz necessário porque nos nossos dias a palavra coral, ou coro, se tornou algo muito subjetivo, sendo qualquer agrupamento de pessoas que cantam em torno de uma mesa chamado de coro. Não pode ser assim e eu vou explicar o porquê. Começarei pela diferenciação entre um orfeão (palavra desconhecida de muitos) e coro. Vamos lá:

Devemos entender um coro como uma organização capaz de desenvolver um repertório que o diferencie de um simples agrupamento de cantantes, que com um pouco de formação poderiam ser chamados de orfeões. Segundo Ricardo Goldemberg, professor de Artes: "O orfeão tem características próprias que o distinguem do canto coral dos conjuntos eruditos. Trata-se de uma prática da coletividade em que se organizam conjuntos heterogêneos de vozes e tamanho muito variável. Nesses grupos não se exige conhecimento musical ou treinamento vocal dos seus participantes. Por outro lado, o canto coral erudito exige não só conhecimento musical e habilidade vocal, como também vozes rigorosamente distribuídas e um rigor técnico-interpretativo mais elevado."[1]

Observamos, contudo, que seria mais interessante uma comparação entre “orfeão” e “coro” do que opor ao primeiro a expressão “canto coral”, que, por si, define e engloba os dois. No meu entendimento, “canto coral” é qualquer agrupamento de cantores que cantam em vozes diferentes e que obtêm um resultado sonoro interdependente a partir da combinação das melodias, dos sons. No nosso tempo, a vulgarização do termo e a ausência de educação musical sistemática dos públicos permitem considerar qualquer agrupamento que cante, seja em uníssono ou não, afinado ou não, organizado ou não, como um “coral”. De forma análoga, uma torcida de futebol pode ser entendida como um “coral de vozes” se observarmos sua composição de múltiplas vozes – mesmo cantando em uníssono –, o repertório definido e a condução/regência realizada por um chefe de torcida, normalmente.

Musicalmente falando, no entanto, uma torcida de futebol estaria mais de acordo com o conceito que os músicos têm de orfeões (canto orfeônico) do que de coro. Um coro pressupõe um “rigor técnico-interpretativo mais elevado”, pois se organiza buscando um aprimoramento de vozes que permitam uma execução mais elaborada (com nuances várias de intensidade, velocidade, caráter) de repertórios específicos ou diversos. Através do trabalho de um regente/maestro, e não de um professor de música que tenta extrair de um conjunto de iniciantes heterogêneo quanto a aptidões e capacidades musicais um resultado razoável que lhes confira características de um coletivo, a condução é mais voltada para uma concepção artística do que educacional, o que não exclui uma da outra. Com efeito, o hábito de cantar em conjunto, mesmo que as exigências estéticas sejam bastante moderadas, tem o efeito disciplinador de estimular a escuta do outro, a interação social e o equilíbrio entre os indivíduos em prol do grupo.

Entenderam? Continuo amanhã.



[1] GOLDEMBERG, Ricardo. Educação musical: a experiência do canto orfeônico no Brasil. Disponível em http://www.samba-choro.com.br/print/debates/1033405862/index_html. Acessado em: 9/06/2012.

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