sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Especificidade de coros

Pouco se pensa que um coro, como uma orquestra, é montado e construído segundo uma especificidade que pode estar relacionada com a sua ligação com uma instituição e/ou sua função dentro de uma comunidade, grande ou pequena.

Coros direcionados para segmentos musicais específicos diferem, e esta diferença não acontece basicamente na formação do coro, mas no caráter estabelecido para cada um de acordo com a sua funcionalidade. Os coros especialistas em repertório operístico, por exemplo, cantam atuando, o que exige uma formação técnica mais elaborada por parte de seus integrantes que, de um modo geral são cantores profissionais, com formação em bel canto e desenvolvimento em cena teatral. Além disso, exige-se dos cantores uma boa projeção de voz, para teatros e palcos amplos, e uma capacidade de alcançar uma sonoridade uniforme, em que nenhuma voz sobressaia. Os integrantes podem atuar como solistas ou coadjuvantes dentro da obra sendo executada e, via de regra, trata-se de conjuntos com um número elevado de cantores (de 60 a 100 pessoas).


Como outro exemplo, os coros sacros têm um papel estritamente funcional, pois existem enquanto associados a uma instituição religiosa, cantando preferencialmente, ou exclusivamente, música sacra e religiosa. Sua participação em cultos, com função litúrgica, é seu objetivo principal e isso determina seu repertório e a forma de cantá-lo. Numa celebração religiosa, a música não é o mais importante, tendo um caráter subsidiário ao serviço ritual; o peso do texto habitualmente se sobrepõe ao desenvolvimento melódico e rítmico; além disso, os cantos não precisam ser harmonizados, podendo ser cantados em uníssono.[1] Quase nunca os cantores de coros são profissionais, sendo que sua formação musical pode muitas vezes acontecer ao longo de sua experiência no próprio coro, o qual normalmente tem mais flexibilidade em relação aos integrantes que nem sempre são fixos ou regulares.


Os coros de câmara, talvez o segmento mais comum no Brasil, são conjuntos menores, com um número que varia de 15 a 40 cantores, que interpretam obras destinadas ao instrumento coral. Isso significa que eles se voltam para peças que foram compostas especialmente para um grupo de vozes geralmente mistas – homens e mulheres – que cantam simultaneamente melodias distintas e que exploram a diversidade das possibilidades de emissão do som pelo ser humano (não se limitando, portanto, ao canto, mas incluindo ruídos, gestos e percussão corporal). Em linhas gerais, entre os homens, as vozes variam do baixo, registro mais grave, ao tenor, mais agudo; os timbres femininos se dividem, grosso modo, em soprano (agudo) e contralto (grave). Naturalmente há vozes em posições intermediárias, meio-sopranos e barítonos. O repertório dos coros de câmara é executado quase sempre a cappella, ou seja, sem acompanhamento instrumental. Caracterizam-se pela não funcionalidade e por isso são variáveis com relação ao repertório que interpretam. A qualidade do conjunto, bem como a elaboração do repertório desenvolvido por ele, está diretamente associada à qualidade dos cantores que compõem o coro, sendo tanto melhor quanto mais cantores com formação musical e de canto o compuserem.


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[1] Vale dizer que essa é uma realidade brasileira, pois, em diversos países da Europa, em que é comum a formação musical básica ser oferecida em idade escolar, é possível ver os fiéis cantando acompanhando partituras e seguindo a melodia mais compatível com o seu tipo de voz (grave ou aguda). O uníssono é marcado pela execução de uma mesma melodia por todos os executantes, variando, no máximo, a oitava, de forma que a textura do som seja homogênea como se houvesse uma única voz.

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