Olá a todos!!!
Fui confrontado com
algumas dúvidas de um cantor que participou da criação de um coro, no qual
despendeu um bocado de energia para sua efetivação. Após um ano, os propósitos
iniciais do conjunto se modificaram, tanto nos objetivos quanto na sua maneira
de se apresentar, fazendo com que essa pessoa se afastasse, desgostoso, daquele
trabalho. Claro que as suas dúvidas se relacionavam às perguntas básicas de um
término de relacionamento: deveria ter persistido? Deve buscar outro grupo? Começar
outro grupo? E eu acrescento outras dúvidas: o que leva à formação de um grupo
coral? O que pode ser pensado para que a perpetuação deste conjunto aconteça? É
lícito pensar nas individualidades quando o que se pretende é um objetivo
coletivo?
Pois bem, não
poderia fugir da consideração de que um coro e seus objetivos podem estar
ligados a interesses institucionais ou individuais, e a aglomeração de pessoas
para a sua realização depende da credibilidade na possibilidade de o trabalho
frutificar. Vários são os elementos que impulsionam indivíduos em compartilhar
seu tempo em benefício de uma produção coletiva: o repertório, o lazer
proporcionado, o engrandecimento cultural a partir do conhecimento de uma nova
linguagem, o desenvolvimento vocal ou, até mesmo, uma melhoria da saúde mental
e espiritual. No entanto, acredito que uma boa parcela do sucesso de um grupo
coral se encontre na boa escolha daquele que liderará essa micro-sociedade. Sim,
o regente. O Maestro.
Digamos que seja
mais fácil observarmos essa afirmação em conjuntos independentes. Não será
senão pela crença de que um determinado repertório, seja popular ou erudito,
criará o interesse para que as pessoas se aproximem e trabalhem na elaboração
daquele. Isso porque não é concebível pensarmos que um coro se formará para não
se apresentar. Para muitas pessoas, falar em público é algo extremamente
difícil. O que não dizer do “cantar em público”. Por outro lado, dividindo com
outros a difícil tarefa do enfretamento, é perfeitamente possível realizar isso
que para muitos é uma verdadeira realização de vida.
Mas o que
acontece quando um maestro, por força de pressões institucionais ou de uma
maioria de grupo é obrigado a modificar uma estrutura de repertório para,
digamos, atingir um público específico? Ou um público maior? Continuariam as
mesmas pessoas dispostas a abrirem mão de uma preferência pessoal em benefício
do conjunto iniciado? O que fazer?
Me recordo de
minhas pesquisas relacionadas ao Madrigal Renascentista, para não falar
puramente de minhas experiências pessoais. A ideia inicial era realizar um
repertório puramente renascentista, o que foi motivo da união dos seus jovens
cantores formadores. Para atender uma demanda maior do cenário
belo-horizontino, adaptaram seu repertório para que divulgasse tanto os novos
repertórios, ainda que buscando obras num passado desconhecido, e obras
brasileiras, fossem elas arranjos folclóricos ou composições originais. Um
objetivo foi estabelecido e mantido, mas eu penso que o que determinou a
continuidade e sucesso daquele grupo foi a confiança plena que os cantores
depositavam no seu líder, Isaac Karabtchevsky.
Posto isso, há
que considerar a tristeza daqueles que apostam num trabalho e depois são
obrigados a não mais segui-lo porque seus fundamentos foram modificados. Mas,
se um grupo se estabelece numa formação, ele tem que ser coerente com suas
ideias. Transformações em coro são normais e dependem da natureza que o cerca,
havendo um repertório imenso pronto para ser trabalhado e cantado. O que não
pode haver são espaços para individualidade antes do coletivo.
Aos solistas o
lugar de solistas. Aos coristas, o lugar de corista. E ai daquele que exaltar
um em detrimento do outro (pelo menos próximo de mim).
Arnon, manter um coral é uma tarefa que exige muita dedicação. Há o aspecto humano, da interação de personalidades diferentes,
ResponderExcluirmuitas vezes de diferentes classes sociais, idades e aspirações.
A realização musical que a pessoa pode ter num coral depende basicamente do maestro. O Isaac já dizia que o som de cada coral está na cabeça de seu maestro. Assim, o maestro deve ser estudioso, experimentalista, observador arguto e valorizador do esforço individual e coletivo dos seus coristas. Em 1963, quando entrei para o Madrigal Renascentista, o coro já tinha fixado um modo de trabalhar, de escolher repertório e estruturar cada programa. Os programas tinham duas partes. Na primeira, o coro começava com as canções renascentistas, sacras ou profanas, depois passava por autores mais densos, com peças mais demoradas e elaboradas. A segunda parte já era mais leve, com canções folclóricas brasileiras e internacionais, "spirituals". Essa estrutura funcionava sempre muito bem. Então, como você mesmo disse, o coro que se formou para cantar as canções renascentistas foi se modificando e inroporando peças mais densas como também agradava o público com as peças mais próximas do popular. Hoje há muito mais arranjos corais para músicas populares do que naquele tempo e muitos de alta qualidade. É difícil definir a preferência por esse ou aquele repertório. Sou pela diversificação. Abração.
Perfeito, Celiodivo. Reafirmo aqui o que aprendi observando o Madrigal Renascentista: boa parte do sucesso de um grupo advém da confiança que os cantores, altamente qualificados no caso, têm naquele que conduz. Por quantos anos o MR se manteve como marca de excelência acreditando naquilo que Karabtchevsky propunha? Mesmo nos tempos em que ele passou na Europa, o trabalho continuava com força extrema aguardando a chegada do maestro titular. E isso continuou, posteriormente, com Afrânio Lacerda...
ExcluirNos dias atuais, observo que muitos cantores se preocupam muito mais com a sua formação individual e com o que o coro pode acrescentar a isso do que o contrário. Quanto suor e dias úteis você dedicou à sua história coral, hein, meu amigo? Vou concordar com você: também sou pela diversificação. Outro abraço.