Entre as muitas obras interpretadas pelo Stellenbosch University Choir, uma delas me tocou de forma especial: Indodana, um hino tradicional pascal em isiXhosa, uma das línguas da África do Sul.
“IsiXhosa”, palavra que já soa como música, é o idioma do
povo Xhosa, cuja cultura é profundamente marcada pelo canto, pela oralidade e
pelos sons que imitam a própria natureza. É uma língua de ritmo e respiração,
de cliques e pausas, em que o corpo inteiro participa da fala. E talvez seja
por isso que, quando cantada, ela parece atravessar o ar como uma oração viva.
Indodana significa “O Filho”. É uma canção que fala
do sacrifício e da esperança, da dor e da transcendência, mas sem drama, sem
ênfase teatral. O que se ouve é uma espiritualidade calma, terrosa, ancestral.
Há algo de sagrado e humano ao mesmo tempo nesse canto, como se a própria voz
coletiva se tornasse chão e céu.
Na interpretação do Stellenbosch University Choir, o arranjo
contemporâneo, criado por Michael Barrett e Ralf Schmitt, preserva a
simplicidade do original, mas o amplia em dimensão coral. As vozes se erguem em
ondas, primeiro suaves, depois intensas, até se dissolverem novamente no
silêncio. É um canto que cresce de dentro para fora, como um sopro, um alento.
O que mais me comove em Indodana é essa fusão entre o
espiritual e o humano. A peça não busca impressionar; ela se oferece. Não há
virtuosismo, mas verdade.
E, por isso mesmo, ela nos lembra o poder essencial da
música coral: ser ponte entre o som e o espírito, entre a tradição e o instante
presente.
Ao ouvir Indodana, é impossível não sentir que há
algo maior ressoando dentro de nós. É o canto da terra que se faz oração, é o
som do povo que se faz lembrança,
é a voz que, ao buscar o divino, nos devolve ao humano.
Indodana
- Stellenbosch University Choir
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