No dia 24 de fevereiro de 1958, o Madrigal Renascentista se apresentou em uma audição na Televisão Francesa. Foi um momento marcante da excursão europeia: cantar em Paris significava entrar no grande palco internacional, em uma cidade que, desde o século XIX, já era ponto de encontro entre Brasil e França.
As relações culturais entre os dois países vinham de longe.
A França buscava difundir sua língua e cultura no Brasil, enquanto o Brasil
enviava jovens músicos para estudar em Paris, muitas vezes apoiados por bolsas
de estudo. Até a década de 1930, esse intercâmbio era feito de forma esparsa,
sem uma política organizada.
Isso começou a mudar com a participação brasileira no Instituto
Internacional de Cooperação Intelectual (IICI), criado em Paris em 1925. O
Itamaraty nomeou Élysée Montarroyos como delegado, e ele logo percebeu o
potencial da cultura como forma de projeção internacional. Em 1932, propôs a
criação de um serviço voltado para essa função, o que levou ao Serviço de
Expansão Intelectual, fundado em 1934. Sua lógica era clara: “judiciosamente
conduzida, a propaganda intelectual de um país abre-lhe novos caminhos para sua
propaganda econômica.”
Décadas depois, já na UNESCO, nomes como Luiz Heitor Corrêa de Azevedo ampliaram essa rede de contatos, promovendo artistas brasileiros e garantindo espaço para a difusão da nossa cultura. Em Paris, havia também iniciativas como o programa de rádio Aquarelles du Brésil (1957–1975), transmitido pela Radiodifusão Francesa, que apresentava semanalmente aspectos da música popular e folclórica do Brasil. E foi nesse programa que o Madrigal cantou...
A beleza da polifonia se somava, assim, à engrenagem da diplomacia. A presença do coro na Cidade Luz não pode ser vista apenas como mais um concerto de turnê: fazia parte de uma estratégia que já vinha sendo construída há décadas. Paris, com sua aura de capital cultural do Ocidente, servia de vitrine. O Madrigal cantava, mas atrás dele havia toda uma política que transformava o canto em representação.
👉 No próximo post, um respiro para mostrar que nem só de música viviam os cantores durante a excursão... uma blague envolvendo Pierre Boulez.
👉👉 Fontes no
livro em: o_coro_do_brasil_o_madrigal.pdf
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