terça-feira, 23 de setembro de 2025

JK, Clóvis Salgado e o Madrigal

Quando a política encontra a música

No dia 11 de janeiro de 1957, véspera da apresentação no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o Madrigal Renascentista viveu um daqueles momentos que mudam a trajetória de um grupo. Foram recebidos no Palácio do Catete pelo presidente Juscelino Kubitschek. Foi a primeira vez que JK ouviu o Madrigal e os jovens, que foram apresentados a ele pelo então Ministro da Educação e Cultura, Clóvis Salgado.

Na mesma viagem, surgiu também o primeiro convite para uma excursão à Europa, feito por um representante da Pró-Arte, do Rio de Janeiro. Entusiasmado com a apresentação do coro, ele propôs uma temporada no exterior, lembrando a visita recente de um grupo vocal catalão ao Brasil. O comentário foi categórico: o Madrigal poderia se apresentar em qualquer parte do mundo artístico sem ficar devendo a nenhum conjunto similar. E isso, de fato, aconteceu em 1958, quando o Madrigal Renascentista fez a sua primeira excursão à Europa

É importante notar que esse encontro não aconteceu no vazio. Além do talento musical, havia também a inserção do grupo em círculos influentes da política e da cultura mineira, conexões que abriram caminhos. O apoio de JK foi decisivo, mas não no sentido simplista de que “o Madrigal só existiu por causa dele”. O que houve foi um jogo mais complexo: de um lado, um presidente hábil em usar a cultura como símbolo de modernização; de outro, um coro jovem, disposto a encarnar esse ideal e a se tornar representante da cultura brasileira.

Isaac Karabtchevsky lembra assim em um trecho do seu livro:

“O Juscelino era muito identificado com o coro. Lembro da gente fazendo serenata para ele, cantando ‘É a ti flor do céu’ e diversas canções do folclore mineiro. Foi ele que patrocinou, por intermédio do Ministério das Relações Exteriores, várias turnês internacionais do Madrigal. No governo JK nós viajamos para o Uruguai, a Argentina, o Chile, os Estados Unidos e a Europa. Também percorremos o Brasil.” (Karabtchevsky, O que é ser maestro. Record, 2003, p. 30)



 Madrigal Renascentista em 1957. (Acervo Madrigal Renascentista)


👉 No próximo post, falarei um pouco sobre essa excursão do coro e aquilo que muito me interessa nessa pesquisa: o conceito aplicado de diplomacia cultural.

 


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