terça-feira, 30 de setembro de 2025

O Madrigal na Bélgica e na Holanda – 1958

Depois da França, o Madrigal Renascentista chegou a Bruxelas em 27 de fevereiro de 1958. A princípio, seria apenas uma passagem, já que o coro tinha compromissos oficiais na Holanda. Mas a visita à embaixada brasileira acabou mudando os rumos. O deputado pernambucano Carlos de Lima Cavalcanti, impressionado com o grupo, organizou às pressas uma apresentação no Salon des Beaux-Arts, um dos principais centros culturais belgas da época.

Na plateia estavam críticos locais e o francês Marcel Cuvellier, presidente e fundador das Jeunesses Musicales International. O entusiasmo foi imediato. O Madrigal foi convidado a cantar no congresso internacional da instituição, que reunia músicos do mundo inteiro em Bruxelas. A soprano Maria Amália Martins se lembrava da cena com emoção:

“Eram 100 músicos de toda a Europa. De todo o mundo! O melhor pianista, o melhor cantor… E nós fomos convidados pra cantar pra eles. Pra mim foi a coisa mais impressionante que eu já vi, porque a gente estava chegando na Europa. Ninguém sabia qual recepção a gente ia ter. Foi assim uma coisa tão entusiástica… Eles fizeram a gente voltar umas 15 vezes ao palco. Exigiam que a gente cantasse… Era uma coisa impressionante, eles batiam pé, palma, não deixavam a gente sair.”

O impacto foi tanto que Cuvellier declarou: “Fiquei impressionado pela mestria e técnica de seu regente, que muitos corais europeus poderiam invejar. Sua tournée pela Europa trará a este conjunto os sucessos de que todos são merecedores.”

Da Bélgica, o coro seguiu para a Holanda, único país onde já havia um convite oficial ainda no Brasil. A agenda foi intensa: apresentações na Embaixada do Brasil em Amsterdã, na Universidade das Nações Unidas, em uma igreja presbiteriana, além de encontros com corais locais. Em Haia, foram recebidos no Instituto Cultural Holanda-Portugal-Brasil e, em Utrecht, houve recepção oficial pelo burgomestre da cidade, seguida de concerto no Centro Cultural Holandês-Hispano-americano.

Ali, a recepção mostrou-se ainda mais significativa. Não era um público desavisado, mas plateias acostumadas ao canto coral, em um país onde, como registrou Karabtchevsky em carta ao Diário de Minas, “cada lugarejo conta com quatro ou cinco corais”. O Madrigal encontrava, assim, um terreno fértil de escuta e de diálogo.

Esses episódios deixam claro como a excursão de 1958 foi marcada tanto pela música quanto pela política. A cada concerto, o coro era aplaudido como grupo artístico de alto nível, mas também se via inserido em circuitos oficiais, acolhido por embaixadas, instituições e políticos. A música servia de ponte entre povos, mas também de representação de Estado.

 


👉 No próximo post, seguiremos para a Suíça e a Alemanha, refletindo sobre como a presença do Madrigal nesses países, ainda em reconstrução no pós-guerra, reforçou seu papel como instrumento de diplomacia cultural.

 👉👉 Fontes no livro em: o_coro_do_brasil_o_madrigal.pdf 


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