segunda-feira, 22 de setembro de 2025

A força de vontade da juventude - Quando o impossível parece natural

O primeiro concerto do Madrigal Renascentista aconteceu em 2 de fevereiro de 1956, no auditório da Sociedade Mineira de Engenheiros, em Belo Horizonte. Jovens ainda, alguns quase iniciantes, reunidos mais pela paixão pela música do que por um projeto estruturado, apresentaram-se em público e, para surpresa de muitos, foram recebidos com entusiasmo. Havia ali um frescor sonoro, uma energia coletiva e uma novidade que ultrapassavam o simples “ajuntamento” de estudantes.

Em meio àquela vibração, Karabtchevsky disse a frase que ficou como marco: “No próximo ano, estaremos no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.” À primeira vista, podia soar como um exagero juvenil, mas não demorou para que se tornasse realidade. Em pouco tempo, o Madrigal estava no palco mais prestigiado do país, cumprindo uma profecia que parecia impossível.

É claro que esse feito não se deve apenas à ousadia da juventude ou a um grande talento musical. Esses jovens circulavam em ambientes influentes da cidade, próximos a famílias e instituições que tinham peso na vida cultural mineira. Isso abriu portas, favoreceu convites, acelerou processos. O sonho se realizou também porque encontrou terreno fértil nas redes de sociabilidade e nos espaços de poder.

A lição que fica é dupla: de um lado, a força de vontade da juventude, que acredita e arrisca sem medir tanto os obstáculos; de outro, a consciência crítica de que a arte também se move em meio a estruturas sociais, privilégios e conexões que influenciam seu alcance. O Madrigal nasceu justamente nesse cruzamento entre ideal e realidade, entre sonho e circunstância.

 

O Madrigal no Municipal do Rio, em 1957.


👉 Nos próximos textos, vou falar sobre esses primeiros passos, que levaram o coro a conhecer JK e Clóvis Salgado, aqueles que pensaram o Madrigal como uma referência cultural e diplomática.

 


Um comentário:

Ana Lana disse...

Muito interessante esse seu movimento de comentar no blog a história do Madrigal, na sequência do seu livro. Pensando no Madrigal, me lembrei de que tenho dois CDs (não comerciais) do coro, que me foram dados pelo José Alberto Nemer, que já cantou nele. Se você tiver interesse, posso te repassar.

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