O terceiro movimento de Elements, de Katerina Gimon, é Fire, e, como o próprio nome sugere, tudo nele é combustão. Depois da densidade da Terra e da leveza do Ar, chega o momento da centelha: o instante em que o som se acende.
Nessa peça, a compositora utiliza percussão vocal e corporal, palmas, estalos, sopros, respirações curtas, sílabas explosivas. A peça não se constrói sobre melodia, mas sobre ritmo e impulso, evocando a força que anima, o calor que transforma. A textura coral se fragmenta em múltiplos gestos que se entrelaçam, formando uma verdadeira dança sonora. É uma música que não se interpreta: se encarna. O coro torna-se chama viva , corpos que vibram, respirações que se inflamam, olhares que se acendem. Tudo acontece com urgência, como se o som estivesse prestes a se tornar luz.
No Tarot, o Fogo corresponde ao naipe de Paus, símbolo da vontade, da ação e do desejo. É o impulso criador, o princípio da transformação, a força que move o mundo. Na alquimia, ele é o agente da purificação, o que queima para revelar a essência. E na astrologia, o Fogo se manifesta em Áries, Leão e Sagitário, os signos da paixão, da coragem e da criação.
Em um coro, o Fogo é aquilo que dá vida à forma. É a
vibração emocional que atravessa a técnica, a intensidade que faz o som sair do
papel e se transformar em presença. É o momento em que o corpo canta tanto
quanto a voz, e o gesto se torna expressão.
O Fire de Gimon é um lembrete de que a música também é energia, que cantar é um ato de combustão interior. E que, às vezes, é preciso arder para se escutar plenamente. O fogo do canto não destrói: transmuta. Ele ilumina o espaço interno de quem canta e de quem ouve. E, no fim, o que permanece não é o estalo nem o calor, é a luz.
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