O primeiro movimento de Elements, de Katerina Gimon, é Earth, e, como na alquimia, tudo começa pela matéria. A Terra é o elemento da forma, da densidade e do tempo. É o que acolhe e o que limita, mas também o que dá estrutura ao sonho. A Terra é movimento constante.
Na peça, o coro se transforma em solo vivo. As vozes se
entrelaçam em sons graves, contínuos, que parecem vir do interior da própria
terra. Não há pressa, há pulsação. O som cresce lentamente, como se brotasse,
lembrando-nos de que todo nascimento é silencioso antes de se tornar canto.
A música de Katerina Gimon não descreve o elemento: ela o
encarna. O coro se faz chão, corpo, matéria sonora. É como se cada voz se
tornasse uma partícula de barro vibrando em conjunto, sustentando o peso e o
equilíbrio do mundo.
No Tarot, a Terra corresponde ao naipe de Ouros, o reino do
concreto, do trabalho e da realização. É o símbolo daquilo que se constrói,
daquilo que permanece.
No mapa astrológico, ela é o que ancora, Touro, Virgem e
Capricórnio, lembrando-nos que o espírito também precisa de casa, rotina e
ordem.
E na música coral, ela é o corpo, a base física da emissão,
o apoio respiratório, a gravidade que dá sentido ao som.
Cantar a Terra é cantar o peso sagrado de existir. É reconhecer que o som nasce do corpo, e o corpo nasce do mundo. Que toda voz, antes de ser ar, é músculo, é matéria vibrando. Há algo profundamente espiritual nesse reconhecimento. Quando o coro entoa Earth, o som parece vir de um lugar anterior ao humano, um murmúrio ancestral que recorda o princípio das coisas. É o som da criação ainda sem forma, o instante em que o silêncio decide mover-se. E assim, a Terra se torna o primeiro aprendizado de todo canto: antes de erguer-se ao céu, a voz precisa conhecer o chão.
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Earth from Elements (Katerina Gimon) - YouTube
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