O último movimento de Elements, de Katerina Gimon, é Water, e, como na natureza, tudo se conclui na fluidez. Depois do fogo, que queima e transforma, vem a água, que acalma, reflete e conduz de volta ao início. Em Water, o coro parece dissolver-se. As vozes se entrelaçam em linhas ondulantes, ecoando umas nas outras, criando um fluxo contínuo que ora cresce, ora se recolhe, como maré, como respiração. Não há ruptura: apenas movimento.
A compositora descreve este trecho como uma corrente viva de sons que fluem em constante transformação, e é exatamente isso que se ouve, um tecido sonoro líquido, luminoso, que se molda ao instante. Na escuta, o tempo parece perder contorno. As vozes se tornam espelhos: uma reflete a outra, e todas refletem o todo. A música já não precisa subir nem descer, ela simplesmente permanece.
No Tarot, a Água corresponde ao naipe de Copas, o domínio dos sentimentos, da intuição e da entrega. É o elemento da empatia, do amor, da fusão. Na alquimia, representa a purificação pelo fluxo, o renascimento pela emoção. E na astrologia, vive em Câncer, Escorpião e Peixes, os signos da sensibilidade e do mergulho interior.
Na música coral, a Água é o instante em que o som se torna emoção. É o que vibra dentro, não apenas fora. É o eco que continua mesmo depois que a última nota termina. Em Water, o coro não apenas canta: ele respira junto, move-se junto, sente junto. É como se cada voz se tornasse gota, e juntas formassem o oceano.
E assim o ciclo se completa, da Terra que sustenta, passamos pelo Ar que inspira, pelo Fogo que desperta, até chegar à Água que acolhe e reflete. Os quatro movimentos de Elements são, ao mesmo tempo, um retrato da natureza e um espelho do humano. Porque cantar é isso: transformar o mundo em som e, depois, deixar o som devolver o mundo a nós.
No fim, tudo retorna ao silêncio, mas é um silêncio cheio de luz, onde ainda ressoam, no fundo da alma, as vozes da Terra, do Ar, do Fogo e da Água.
Ao atravessar os quatro movimentos de Elements, de Katerina Gimon, compreendo que a música coral é também uma forma de alquimia. Cada ensaio é um rito de transformação: a Terra que se enraíza no corpo, o Ar que sustenta a voz, o Fogo que desperta o gesto e a Água que devolve tudo ao silêncio. E quando essas forças se unem, o coro deixa de ser apenas som: torna-se espelho da própria natureza, um corpo vivo onde o humano e o sagrado respiram juntos.
Cantar é, afinal, participar desse ciclo, erguer-se da
Terra, elevar-se ao Ar, arder no Fogo e repousar na Água. E, no instante em que
o som se desfaz, percebe-se que tudo retorna ao mesmo lugar: à escuta.
Elements
IV: Water - Katerina Gimon (Frost Chamber Singers)
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