sábado, 6 de dezembro de 2025

Do Coro Menino Jesus ao Madrigale: quando um grupo encontra seu destino


Uma sequência do post anterior: a ideia original da Paróquia Menino Jesus era simples e bela: um grupo de meninos cantores, eco distante da tradição que eu mesmo havia vivido no Coral Dom Silvério, a dos Pueri Cantores. Mas, com o tempo, o fluxo de crianças diminuiu. Faltavam novos meninos, faltava renovação, faltava aquele movimento natural que permite a um coro infantil sobreviver.

Quando esse ciclo se encerrou, fiquei com a sensação de que uma porta se fechava, mas, como sempre acontece com a música, outra se abria ao lado, de mansinho. Algumas vozes, agora jovens e adultas, queriam continuar. E assim, quase sem perceber, formou-se o Coro Menino Jesus, um grupo misto, paroquial, que não tinha certezas, mas tinha algo raro: vontade de cantar e crescer juntos.

Cantávamos na própria igreja. Às vezes em celebrações, às vezes em encontros pequenos, às vezes apenas pelo prazer de experimentar um repertório que nos puxava para outro lugar. Havia ali um desejo de beleza, de rigor, de estudo, como se o grupo, mesmo jovem, já pressentisse uma identidade que ainda não sabia nomear. Mas como o coro não era necessário dentro da Paróquia, ele naturalmente terminou.

Foi nesse período que a vida me levou a um outro desafio: a regência do Coral Newton Paiva. Minha passagem por lá durou pouco, seis meses, mas foi suficiente para algo silencioso acontecer. Quando saí da Newton Paiva, alguns cantores de lá se juntaram aos cantores do Menino Jesus. Um encontro discreto, mas decisivo. E como tantas vezes acontece na história dos coros, quando duas vontades de cantar se colocam lado a lado, elas descobrem que pertencem, secretamente, à mesma estrada.

Esse encontro não foi planejado. Não houve reunião, estatuto, proposta formal. Houve apenas a percepção intuitiva de que estávamos prontos para outro tipo de repertório, outro tipo de sonoridade, outro nível de entrega. O que antes era um coro paroquial começou a se transformar. A música exigia mais. E nós queríamos mais dela.

Hoje, olhando de longe, vejo com clareza: o Coro Menino Jesus foi minha ponte entre o menino cantor que eu havia sido e o maestro que eu começava a ser. Ali testei repertórios, errei e acertei, aprendi a escutar as necessidades de um grupo nascente, percebi o que sustenta um coro e o que o fragiliza. E ali também, discretamente, nasceu o próprio Coro Madrigale. Não houve data inaugural, nem discurso, nem batismo. Houve apenas um punhado de vozes que, ao se juntar, descobriu que podia ir mais longe.

Isso mesmo. O Madrigale começou assim: numa igreja de bairro, entre pessoas comuns, com sonhos que ainda não tinham forma. E talvez seja isso que lhe deu raízes tão fundas: onde a música é sincera, a história sempre encontra um jeito de florescer.


 Pessoas em uma sala

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 Coro Menino Jesus, base do que viria a ser o Madrigale

Fila de trás: Bráulio, Guilherme; Mauro; Fábio; Beto; Caué; Marco Paulo
Fila da frente: Sandra, D. Clélia, Dorinha, Manu, Kátia, Joana, Fernanda, Ju Palhares, Juliana

 

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