Tem coisas e caminhos na vida que a gente não planeja, e, talvez por isso mesmo, sejam os que mais nos moldam.
Depois da minha passagem intensa pelo Coral Dom Silvério, eu não imaginava que voltaria a trabalhar com coros infantis. Aquela fase parecia concluída, fechada como um livro que se guarda com carinho, mas que não se pretende reabrir. E, naquele momento, alguém que me ofereceu um apoio que não esqueço, um gesto simples, mas decisivo, desses que recolocam a vida no eixo.
O Padre José Januário Moreira, pároco da Igreja Menino Jesus, em Belo Horizonte, ex-menino cantor do Dom Silvério, como eu, me chamou para montar um coro de meninos naquela paróquia. Aceitei o convite, ainda sem perceber que estava regressando, por outras vias, ao território que me formara.
Assim nasceu o Coral de Meninos da Igreja Menino Jesus.
O grupo durou cerca de três anos. Anos de descoberta, leveza
e aprendizado, para eles e para mim. Sem rotatividade de crianças, o ciclo se
encerrou naturalmente. Mas aquela turma aprendeu a cantar com afinco, com
alegria, com brilho. Arriscamos inclusive pequenas polifonias, sempre com o
cuidado que as vozes jovens pedem.
Cantávamos em missas simples e solenes, e havia ali uma
dignidade musical que, mesmo modesta, era profundamente verdadeira. Não guardei
o nome de todos, falta imperdoável das minhas anotações de então. Ficaram
somente as vozes na memória, esse arquivo vivo sem índice, mas cheio de afeto.
Do processo, alguns adultos seguiram caminhos musicais em
outros coros: Marco Paulo, Leonardo Coelho, Beto Antonini… outros se
dispersaram no curso natural da vida.
Quando o coro infantil chegou ao fim, eu imaginava que aquela experiência terminaria ali. Mas a música, como sempre, tinha outros planos. Do desejo de continuar, de algumas permanências e novas chegadas, surgiria pouco depois um grupo diferente: o Coro Menino Jesus, já adulto, já outro, misto, mas nascido da mesma raiz.
O que eu não sabia naquele momento, e só compreendo hoje, olhando para trás, é que o caminho iniciado com aqueles meninos continuaria a se desdobrar. E que, depois de muitas voltas, ele me levaria à criação de um coro que se tornaria parte fundamental da minha vida. (Essa parte, eu conto no próximo post)
E é assim: às vezes, a história começa nos lugares mais improváveis; àss vezes, basta uma voz de menino para anunciar tudo o que ainda virá.
Parabéns meu amigo e dileto Professor Arnon. 👏👏👏👏
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