sábado, 13 de dezembro de 2025

Riu Riu Chiu - Viva Amin Feres!!!

Ouvir Riu Riu Chiu na apresentação do Coro da Nova, dias atrás, foi como abrir uma janela para o passado. A peça, um villancico (canção natalina tradicional em espanhol) anônimo do Cancionero de Upsalla (1556), é conhecida pelo seu caráter rítmico, pelo refrão onomatopaico e pela ligação direta com o repertório natalino ibérico do século XVI. 

Mas, para mim, ela carrega também um significado muito particular: foi uma das obras marcantes do repertório do Madrigal Renascentista, especialmente nos primeiros anos do grupo sob a direção de Isaac Karabtchevsky. O Madrigal cantou Riu Riu Chiu repetidas vezes, e, naquele período inicial, o solo era interpretado por uma figura que deixou marca profunda no canto coral e na música brasileira: Amin Feres.

 

Amin Feres (1934–2006) foi um dos grandes nomes da música vocal no Brasil no século XX. Barítono-baixo de timbre firme e presença marcante, atuou intensamente como solista em obras sinfônicas e camerísticas. Foi professor da Escola de Música da UFMG e formou gerações de cantores.

Sua atuação com o Madrigal Renascentista, ainda jovem, compõe um capítulo importante da construção estética do grupo. Amin tinha exatamente o tipo de voz que dá corpo ao estribilho de Riu Riu Chiu: firme, rítmica, estilisticamente apropriada ao caráter popular-renascentista do villancico, e capaz de sustentar o colorido percussivo da linha vocal.

Ao ouvir a peça com o Coro da Nova, a memória veio inteira: o timbre do Amin, a condução de Karabtchevsky, e aquela maneira muito particular que o Madrigal tinha de lidar com repertórios ibéricos: com clareza, energia e rigor estilístico.

 

Riu Riu Chiu é um exemplo típico da circulação musical do século XVI: recolhido no Cancionero de Upsalla; composto anonimamente na tradição espanhola; e reinterpretado séculos depois por coros de todo o mundo. Ou seja: uma peça que atravessa geografias e gerações.

Karabtchevsky e o Madrigal tiveram papel importante em introduzir esse repertório ao público brasileiro, e o solo de Amin, sempre bem-humorado, ritmado e seguro (como ele era), consolidou a obra no imaginário do grupo. Faz parte daquela memória que, à distância, se torna ainda mais nítida.

Para ilustrar esta lembrança, incluo uma gravação histórica do Madrigal Renascentista cantando Riu Riu Chiu, com o solo de Amin Feres. Não é apenas um registro musical: é um documento afetivo e estético de um momento fundamental na trajetória do coro. Apreciem:

🎬 Madrigal Renascentista - Riu, riu, chiu (1959)

 


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