quinta-feira, 20 de novembro de 2025

O Coral Dom Silvério (1) - onde a minha voz começou

Vou contar pra vocês uma história. Daquelas que começam lembrando que há lugares onde a vida muda de direção sem que a gente perceba. A história é do meu começo na música, e esse lugar foi o Coral Dom Silvério, em Sete Lagoas, onde entrei e me tornei um menino cantor aos treze anos, levado por um primo que já fazia parte do grupo.

Eu e meu irmão mais novo, Marcelo, cheios de timidez e curiosidade, fomos apresentados ao maestro João Lucas Rodrigues para o teste vocal que decidiria nossos caminhos. Lembro-me daquele instante com uma nitidez que o tempo não apagou: João Lucas pediu que cantássemos algumas melodias e, ali mesmo, definiu...eu seria soprano; Marcelo, contralto.

E assim foi por anos inteiros: duas vozes juvenis descobrindo a disciplina do canto coral, respirando juntas, aprendendo a ouvir antes de cantar.

Mas o Coral Dom Silvério não me deu apenas a voz; deu-me também um instrumento que eu nem sabia que procurava. Eu queria estudar flauta, pois era o instrumento que eu conhecera e adorava. Mas, num daqueles acasos que mudam destinos, colocaram-me diante de um piano para um pequeno teste. Eu nunca tinha visto um piano de perto. E bastou tocar uma única nota para algo acontecer dentro de mim. Até hoje não sei explicar. Foi como se o instrumento me chamasse pelo nome. Ali nasceu o pianista. E, sem que eu percebesse, ali também nasceu o regente.

Com o tempo, tornei-me solista do coro. Entreguei-me à tarefa de copista, copiando partituras à mão para serem reproduzidas em mimeógrafo, e também à organização do arquivo do coral. Hoje vejo com clareza: tudo aquilo estava apontando para o que eu faria depois na vida: ser intérprete, ser guardião de acervos, ser copista de centenas de músicas, ser alguém que organiza e dá forma ao que outros vão cantar.

Era um mergulho silencioso e minucioso, que me ensinou tanto sobre música quanto sobre responsabilidade, memória e cuidado.

O Coral Dom Silvério foi, para mim, uma grande escola de vida. Ali fiz amizades que moldaram minha adolescência, tive uma formação humana que me acompanharia para sempre e vivi a rotina intensa de um grupo que respirava música com seriedade e afeto.

Hoje, ao revisitar essas lembranças, compreendo: foi naquele coro que comecei a me escutar, e, mais que isso, a escutar o mundo. O menino soprano que entrou em 1980 não tinha ideia de que estava ali colocando o primeiro tijolo de uma trajetória inteira dedicada ao canto coral. E talvez seja por isso que escrever sobre o Coral Dom Silvério não é apenas revisitar o passado: é reencontrar a primeira fagulha, o primeiro som, o primeiro passo.

No próximo post, continuo contando essa história, a história daquele menino que aprendia, ali, a ser músico e a ser gente.

  

Foto em preto e branco de grupo de pessoas lado a lado

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Fila de trás: Jacson, Robson, Nilson, Márcio, Cleber de Castro, Cleber José, Irineu, Rogério, Arnon, Sérgio Gaspar, Eloyno, Geraldo, César

Fila do meio: Moreno (Cláudio), Nivaldo, Ramon, Sérgio, Éder, Russifrank, Carlos, Fernando, Carlos (Saúva), Paulo Henrique, Wagner

Fila de baixo: Cássio, Marcelo, Ricardo, Alessandro, Ronilton, Mirkon, Andinho, Maicon, Max, João Lucas

 


 


 

11 comentários:

  1. Aguardando o próximo! 👏🏽👏🏽👏🏽

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  2. Clegevc@gmail.com Grande Arnon Na Infância Ótimo Pianista Dedicado e Apaixonado Pela Música

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  3. Abraços Do Ex colega de Coral Na Infância, Cleber De Castro

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    1. Grande Cleber de Castro, que atualmente é o regente do Coral D. Silvério. E que criou os coroados Meninos Cantores de Santa Luzia. Agradeço demais a sua ajuda sempre.

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  4. Isso explica muita coisa!!!
    Fico feliz em saber a sua história e as discussões sobre softwares de edição de partituras agora fazem sentido!

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    1. Pois é. Aprendi por lá. Ainda guardo o cheiro do álcool no mimeógrafo. Rs.

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  5. Me sinto extremamente privilegiado de ter sido menino cantor do Coral Dom Silvério e poder acompanhar de perto os primeiros passos do competentíssimo maestro Arnon.

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    1. Me mande contato. Eu não consigo identificar qual o meu colega.

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  6. Eloyno de Mattos Ferreira20 de novembro de 2025 às 11:05

    Que saudade!!!!! Aqui é o Eloyno, forte abraço Arnon...voltei no tempo,

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  7. Eloyno!!! Que bom ter notícias suas. Me mande seu e-mail. E já vou corrigir q grafia do seu nome.

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Deixe seu nome e e-mail para que eu responda. Obrigado.

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