Quando completei 16 anos, minha voz finalmente mudou. Eu aguardava esse momento! Queria viver o rito de passagem que todo menino cantor imagina: cantar entre os naipes masculinos, compartilhar aquele som mais encorpado, vibrar no grave que sempre admirei. Mas o destino tinha outros planos. Não tive sequer tempo de experimentar aquela sensação de ser “um dos homens do coro”, e antes que eu percebesse, o maestro João Lucas me apontou outro caminho: colocou-me à frente do grupo. E de lá, eu não saí mais.
Foi assim, sem aviso e sem cerimônia, que comecei a reger
coros. Um adolescente magro, cabeludo, ainda inseguro, agora tinha diante de si não
apenas um coro, mas um espelho onde se revelavam responsabilidade, escuta,
maturidade e uma forma muito própria de liderança que só a música exige. Para
além de fazer música, eu passava a ser o responsável pelos meus amigos
cantores.
Eu não tinha consciência disso, mas aquele gesto do maestro
mudaria minha vida inteira e para entender o peso desse momento, é preciso
compreender o que o Coral Dom Silvério significava em Sete Lagoas, e, de certa
forma, ainda significa para tantos jovens.
O Coral Dom Silvério não é apenas um coral de meninos: é uma instituição
musical, uma casa formadora, um espaço onde disciplina e afeto caminham lado a
lado. Fundado em 1963, o coral se tornou referência na cidade. Ali, meninos e
adolescentes aprendem técnica vocal; leitura musical; instrumentos e teoria;
além de postura, responsabilidade, trabalho coletivo e o sentido profundo de cantar junto. É
música como estrutura de vida. Música como rotina. Música como educação.
A sede do coral, grande, acolhedora e repleta de sons,
vibra, ainda, todos os dias com ensaios, conversas, jogos e risadas e aquela
espécie de energia que só existe quando a juventude encontra um propósito. É
algo que, hoje, reconheço como raro: um ambiente onde arte e humanidade se
confundem, onde a formação musical é, ao mesmo tempo, formação de caráter. Foi
ali que descobri o prazer de estudar uma partitura como quem decifra um
segredo, a ética do ensaio, o respeito ao silêncio, a alegria de crescer entre
iguais, e o peso suave da responsabilidade quando alguém confia em você.
Quando assumi a frente do coro pela primeira vez, senti um
medo tremendo. Eu tremia inteiro. Mas havia ali um encantamento estranho, como
se eu finalmente ocupasse um lugar que sempre me esperou, mesmo sem eu saber. O
Coral Dom Silvério foi meu primeiro palco e minha primeira escola de
humanidade. Foi onde aprendi a ouvir antes de falar, a orientar antes de impor,
a conduzir antes de dominar. E nesse gesto, simples, quase silencioso, comecei
a trilhar o caminho que me acompanha até hoje.
Última fila: Nivaldo, Adelmo, Sidnei, Cleber, Moreno,
Jacson, Arnon, Geraldo, Roni, Zé Ronaldo
Fila do meio: Marcelo, Paulo Henrique, Badin, Warley,
Fernando, Carlos, Warley, Eduardo, Carlos, Ronilton, Russifrank
Embaixo: Éder, Ricardo, Cláudio (Batuta), Ismar, Ivisson,
William, Andinho
Parabéns Arnon , por ns trazer tão belas recordações. Forte abraço
ResponderExcluir❤️
ExcluirUm privilégio ter feito parte do Coral Dom Silvério, no início de sua carreira musical, maestro Arnon. Realmente, o Coral Dom Silvério, foi uma escola de vida pra quem por lá passou.
ResponderExcluirCertamente. Uma experiência de vida.
ExcluirQuanta saudade, é um prazer imenso lembrar que estávamos juntos neste período, as caminhadas para chegarmos aos ensaios, as apresentações, muita saudades. Parabéns meu saudoso amigo!
ResponderExcluir❤️
Excluir❤️
ExcluirGrande Arnon Sávio
ResponderExcluirobrigado!!! Suas Lembranças também são nossas .
Abraço do Cleber Castro ( Esquerdinha )
Gostaria de saber quem está mandando mensagens
Está no anonimato
👏🏿👏🏿👏🏿👏🏿
ResponderExcluir