No dia de hoje, convido-os a ouvirem o
final da primeira parte da Paixão. Aqui são narradas as duas últimas negações
de Pedro. Chamo a atenção para a maneira como Bach descreve musicalmente o
“choro” de Pedro (1:47).
Atentem-se, também, para as reflexões
bachianas sobre a ação na ária de tenor e no Choral final. As referências são
sempre sobre o que está acontecendo nas cenas. Para nós, ouvir grandes Arias é,
muitas vezes, difícil porque insistimos em buscar somente na música o
entendimento e o embevecimento. Não. Não é assim. Principalmente quando
tratamos de música com palavras, a compreensão do que acontece é essencial.
Observem. Numa Paixão há partes narrativas e de reflexão. Como viver
intensamente a música se você não entende o contexto, a intenção do compositor,
a referência histórica, a ação em si... Percebam. Música é mais do que algo que
“a arte de manifestar os diversos afetos de nossa alma mediante o som”. Isso
pode estar correto, mas a alma deve estar preparada. E cada vez mais preparada.
EVANGELISTA: E Anás enviou-o, amarrado,
ao sumo sacerdote Caifás. A Simão Pedro, que estava junto do fogo, foi-lhe
perguntado:
CORO: Não és tu um dos seus discípulos?
EVANGELISTA: Mas ele o negou dizendo:
PEDRO: Não sou.
EVANGELISTA: Pedro negou uma vez mais, e
naquele momento cantou o galo. Então, lembrou-se Pedro do que lhe dissera
Jesus, saiu e chorou amargamente.
ARIA (tenor): Ai, alma minha! Aonde iria
eu agora, onde encontraria eu repouso? Devo ficar aqui, ou fugir para o cimo
das colinas e montanhas? Em todo o mundo não há repouso, e o meu coração está
consumido de dor por meus pecados, pois o servo negou o seu Senhor.
CHORAL: Pedro, que não quer recordar,
nega o seu Deus; mas pela sua séria mirada chora amargamente. Jesus, fita-me
quando demore para arrepender-me; quando cometa uma falta, abala a minha
consciência!
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