quinta-feira, 17 de março de 2016

Paixão (demais negações de Pedro...) (4)


No dia de hoje, convido-os a ouvirem o final da primeira parte da Paixão. Aqui são narradas as duas últimas negações de Pedro. Chamo a atenção para a maneira como Bach descreve musicalmente o “choro” de Pedro (1:47).

Atentem-se, também, para as reflexões bachianas sobre a ação na ária de tenor e no Choral final. As referências são sempre sobre o que está acontecendo nas cenas. Para nós, ouvir grandes Arias é, muitas vezes, difícil porque insistimos em buscar somente na música o entendimento e o embevecimento. Não. Não é assim. Principalmente quando tratamos de música com palavras, a compreensão do que acontece é essencial. Observem. Numa Paixão há partes narrativas e de reflexão. Como viver intensamente a música se você não entende o contexto, a intenção do compositor, a referência histórica, a ação em si... Percebam. Música é mais do que algo que “a arte de manifestar os diversos afetos de nossa alma mediante o som”. Isso pode estar correto, mas a alma deve estar preparada. E cada vez mais preparada.



EVANGELISTA: E Anás enviou-o, amarrado, ao sumo sacerdote Caifás. A Simão Pedro, que estava junto do fogo, foi-lhe perguntado:
CORO: Não és tu um dos seus discípulos?
EVANGELISTA: Mas ele o negou dizendo:
PEDRO: Não sou.
EVANGELISTA: Pedro negou uma vez mais, e naquele momento cantou o galo. Então, lembrou-se Pedro do que lhe dissera Jesus, saiu e chorou amargamente.

ARIA (tenor): Ai, alma minha! Aonde iria eu agora, onde encontraria eu repouso? Devo ficar aqui, ou fugir para o cimo das colinas e montanhas? Em todo o mundo não há repouso, e o meu coração está consumido de dor por meus pecados, pois o servo negou o seu Senhor.


CHORAL: Pedro, que não quer recordar, nega o seu Deus; mas pela sua séria mirada chora amargamente. Jesus, fita-me quando demore para arrepender-me; quando cometa uma falta, abala a minha consciência! 

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