segunda-feira, 7 de março de 2016

Sobre o livro de Magnani (1)

Músicos, ao contrário do que uma boa parte das pessoas acredita, também lêem. Pelo menos, aqueles que, como eu, tiveram a sorte de conviverem com mestres como Sergio Magnani. No meu caso, o contato com o Maestro, grande italiano mais mineiro do que muitos que aqui vivem, foi fundamental para uma paixão pela leitura que extrapola, e muito, o universo da partitura musical.

Dizia ele que o contato com os mestres da filosofia era imprescindível para o entendimento necessário a qualquer maestro no que tange à arte da condução de grupos, mas, ditava uma norma interessante que demanda tempo e paciência a qualquer um, o que, é claro, não vem de encontro às formações em alta velocidade dos tempos modernos. Mas, ensinava ele que, antes de ler os filósofos, é necessário passar por duas etapas de leitura: a primeira, a leitura do máximo que se conseguir dos mestres de sua língua; a segunda, a leitura do máximo que se conseguir dos mestres universais; e, aí sim, entrar em contato com os clássicos (como ele chamava os mestres da filosofia).

Anos foram necessários para que o entendimento de que boa parte da música sacra de vários compositores, da renascença até o romantismo, se baseava intrinsecamente na Divina Comédia de Alighieri, para que a lembrança de Magnani viesse como uma lágrima que traz, de dentro do coração, a memória do precioso presente de um mestre, o qual nem sempre foi tão valorizado e compreendido quanto deveria.


Mas, mesmo depois de vários Machados e Azevedos, (sendo O Cortiço o livro de cabeceira) e de Dantes e Shakespeares, cabe citar um que, específico da música, constitui livro que mudou a minha maneira de pensar a música interpretativamente, por se tratar do livro deixado por ele próprio: Expressão e Comunicação na Linguagem da Música. E sobre este, eu falo um pouco no post de amanhã.




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