terça-feira, 15 de março de 2016

Paixão (Onde o Cristo é preso) (2)


Seguindo o post de ontem e ouvindo a Paixão São João, de Bach, é importante entender a diferença entre Recitativo, Aria e Coro. O Recitativo é descritivo, criando tensões musicais de acordo com o texto narrado; é melodia acompanhada por um conjunto de cravo, ou órgão, e violoncelo, chamado de baixo contínuo. A Aria é formal, com tema bem definido, e de dimensões longas; na maioria das vezes, a Aria é reflexiva, expondo sentimentos individuais. O Coro tece reflexões coletivas, profissões de fé de atos pontuais ou de fé coletiva, ou representa o povo, dentro da narração. Tanto a Aria, quanto o Coro reflexivo (Choral), aparecem como elementos de suspensão da narração.

Nesta parte, o Evangelista, solista tenor, narra a ação a partir do momento em que o Cristo é traído por Judas e preso pelos soldados, sendo levado aos sumo-sacerdotes. Participam da ação o Cristo (baixo), o coro (representando a turba e cantando hinos reflexivos – Choral), e o solista contralto (reflexão sobre a ação). Sigam:



EVANGELISTA: Jesus dirigiu-se com os seus discípulos ao outro lado do arroio Cedro, onde havia um horto onde entraram Jesus e os seus discípulos. Judas, o que o trairia, conhecia também o lugar, pois Jesus e os seus discípulos tinham-se reunido lá em outras ocasiões.
Então, Judas chegou com uma coorte de soldados, com os servos dos sacerdotes e com os fariseus, carregando tochas, lanternas e armas. E Jesus, sabendo o que estava acontecendo, adiantou-se e disse-lhes:
JESUS: Quem estais buscando?
EVANGELISTA: Eles responderam-lhe:
CORO: Jesus de Nazaré!
EVANGELISTA: Jesus disse-lhes:
JESUS: Sou eu.
EVANGELISTA: Judas, o que o estava traindo, também estava com eles. Quando Jesus lhes disse: sou eu, retrocederam e caíram no chão. Então, voltou a perguntar-lhes:
JESUS: Quem estais buscando?
EVANGELISTA: E disseram:
CORO: Jesus de Nazaré!
EVANGELISTA: Jesus disse-lhes:
JESUS: Já lhes disse que sou eu; se me estais buscando, deixai que estes partam.

CORAL: Ó grande amor, ó amor sem limites, que te leva a caminho do martírio!
Eu vivia entregue ao prazer e às alegrias mundanas, e Tu tens de sofrer.

EVANGELISTA: Assim se cumpriu a palavra que dizia: “Não perdi nenhum dos que me encomendaste”. Então, Simão Pedro, que tinha uma espada, a desembainhou e feriu com ela um servo do sumo sacerdote, cortando a sua orelha direita. O servo chamava-se Malco. Então, disse Jesus a Pedro:
JESUS: Guarda a tua espada na sua bainha! Por que não hei de beber do cálice que o meu Pai me oferece?

CORAL: Faça-se a tua vontade, Senhor Deus, assim na terra como no céu.
Dá-nos paciência no sofrimento, obediência no amor e na dor;
Defende-nos e conduz a carne e o sangue que contra a tua vontade agem.

EVANGELISTA: A coorte, o tribuno e os servos dos judeus prenderam Jesus, ataram-no e levaram-no, primeiro, ante Anás, sogro de Caifás, que era sumo sacerdote naquele ano. Era Caifás o que tinha dito aos judeus que seria bom que um homem morresse pelo povo.


ARIA (contralto): Para desatar os laços dos meus pecados é amarrado o meu Salvador; para sarar a minha ferida, deixa-se golpear.

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