Seguindo o post de ontem e ouvindo a Paixão São João, de Bach, é importante entender a diferença entre
Recitativo, Aria e Coro. O Recitativo é descritivo, criando tensões musicais de
acordo com o texto narrado; é melodia acompanhada por um conjunto de cravo, ou
órgão, e violoncelo, chamado de baixo contínuo. A Aria é formal, com tema bem
definido, e de dimensões longas; na maioria das vezes, a Aria é reflexiva,
expondo sentimentos individuais. O Coro tece reflexões coletivas, profissões de
fé de atos pontuais ou de fé coletiva, ou representa o povo, dentro da narração.
Tanto a Aria, quanto o Coro reflexivo (Choral), aparecem como elementos de
suspensão da narração.
Nesta parte, o Evangelista, solista
tenor, narra a ação a partir do momento em que o Cristo é traído por Judas e
preso pelos soldados, sendo levado aos sumo-sacerdotes. Participam da ação o
Cristo (baixo), o coro (representando a turba e cantando hinos reflexivos – Choral), e o solista contralto (reflexão
sobre a ação). Sigam:
EVANGELISTA: Jesus dirigiu-se com os
seus discípulos ao outro lado do arroio Cedro, onde havia um horto onde
entraram Jesus e os seus discípulos. Judas, o que o trairia, conhecia também o
lugar, pois Jesus e os seus discípulos tinham-se reunido lá em outras ocasiões.
Então, Judas chegou com uma coorte de
soldados, com os servos dos sacerdotes e com os fariseus, carregando tochas,
lanternas e armas. E Jesus, sabendo o que estava acontecendo, adiantou-se e
disse-lhes:
JESUS: Quem estais buscando?
EVANGELISTA: Eles responderam-lhe:
CORO: Jesus de Nazaré!
EVANGELISTA: Jesus disse-lhes:
JESUS: Sou eu.
EVANGELISTA: Judas, o que o estava
traindo, também estava com eles. Quando Jesus lhes disse: sou eu, retrocederam
e caíram no chão. Então, voltou a perguntar-lhes:
JESUS: Quem estais buscando?
EVANGELISTA: E disseram:
CORO: Jesus de Nazaré!
EVANGELISTA: Jesus disse-lhes:
JESUS: Já lhes disse que sou eu; se me
estais buscando, deixai que estes partam.
CORAL: Ó grande amor, ó amor sem
limites, que te leva a caminho do martírio!
Eu vivia entregue ao prazer e às
alegrias mundanas, e Tu tens de sofrer.
EVANGELISTA: Assim se cumpriu a palavra
que dizia: “Não perdi nenhum dos que me encomendaste”. Então, Simão Pedro, que
tinha uma espada, a desembainhou e feriu com ela um servo do sumo sacerdote,
cortando a sua orelha direita. O servo chamava-se Malco. Então, disse Jesus a
Pedro:
JESUS: Guarda a tua espada na sua
bainha! Por que não hei de beber do cálice que o meu Pai me oferece?
CORAL: Faça-se a tua vontade, Senhor
Deus, assim na terra como no céu.
Dá-nos paciência no sofrimento,
obediência no amor e na dor;
Defende-nos e conduz a carne e o sangue
que contra a tua vontade agem.
EVANGELISTA: A coorte, o tribuno e os
servos dos judeus prenderam Jesus, ataram-no e levaram-no, primeiro, ante Anás,
sogro de Caifás, que era sumo sacerdote naquele ano. Era Caifás o que tinha
dito aos judeus que seria bom que um homem morresse pelo povo.
ARIA (contralto): Para desatar os laços
dos meus pecados é amarrado o meu Salvador; para sarar a minha ferida, deixa-se
golpear.
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