terça-feira, 1 de março de 2016

Uma questão de pronúncia

Lembro que este blog trata dos mais variados assuntos corais, então, aproveito uma bela peça musical para observar como um erro de pronúncia pode sacrificar todo um trabalho vocal.

Segui, há alguns anos, uma discussão sobre um erro de pronúncia terrível, o qual havia sido cometido pelo coro da Universidade de Utah ao interpretar a peça Pange Lingua, de György Orban. Um pretenso conhecedor de música coral chamou a atenção para o fato do coro não seguir a norma geral de se pronunciar “pandje”, o que era estranho já que “pangue” está mais próximo do latim restaurado, nem sempre aceito por aqueles que cantam. A questão é imaginar como uma peça como esta, pensada para enfatizar o movimento rítmico, soaria se a pronúncia fosse a do latim tradicional. Observem, então, como se deve cantar o este Pange (Pangue) Lingua.


University of Utah Singers

Isso pode ser observado em um arranjo tradicional do compositor americano Moses Hogan, The Battle of Jericho, em uma estranha gravação divulgada no youtube. Digo estranha porque a introdução é feita pelo próprio compositor dando as instruções de como as palavras deveriam ser pronunciadas para que o efeito de batalha fosse valorizado. Pois bem, em seguida o coro canta completamente em desacordo com essa instrução. (O exemplo é ótimo para mostrar um erro de interpretação, mas também é ótimo para mostrar uma belíssima “interpretação errada”. Bela mesmo!!!)


Nathaniel Dett Chorale

Em tempo: György Orbán nasceu em 1947 na Romênia. Em 1979 se mudou para a Hungria, onde mora até hoje, trabalhando como editor musical e ensinando na Academia de Música Franz Liszt, em Budapeste. Compôs mais de uma centena de obras: música sacra coral, com e sem orquestra; obras orquestrais; e música de câmera.

Moses Hogan

György Orbán


Um comentário:

  1. Cada vez mais tenho reparado a questão da pronúncia e da diccção e sua interferência, inclusive no resultado sonoro. Isso observo tanto em cantores solistas, inclusive populares, quanto em duos e grupos. Nesse dois últimos, inclusive, me impressiona como a dicção "pobre", quando não se desenha bem principalmente as vogais, pode prejudicar a afinação do grupo ou a harmonia de um arranho vocal, que pode soar mais ou menos desafinado, dependendo da quantidade de harmônicos gerados pelo som ao passar pelos ressonadores do crânio. Não basta só estar afinado!

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