terça-feira, 29 de março de 2016

Batalha de coros


Evito emitir opiniões sobre os concursos vocais tão em voga na TV brasileira, pois não acredito, sinceramente, na completa integridade dos mesmos. Na verdade, entendo que em todas as partes do mundo o show business tem que fazer valer o investimento dos muitos patrocinadores e proporcionar um espetáculo que prenda as pessoas em casa à noite (ou nas tardes de domingo). No entanto, é possível observar que os “The Voices”, ou “The Choirs”, são diferentes onde há uma tradição que valoriza o trabalho vocal em conjunto.

Um exemplo? Vamos lá. Que tal a final de uma competição na Austrália? Os coros finalistas se unem na interpretação de Bohemian Rhapsody.



Mas, aqui vai um post no estilo “síndrome de vira-lata”? Negativo. Meu trabalho é melhorar e incentivar a formação e capacitação de grupos corais. Viso o futuro, e estamos melhorando. Certo?

Bohemian Rhapsody - Freddie Mercury

segunda-feira, 28 de março de 2016

Irei ao Requiem

Amanhã, dia 29 de março, teremos o Requiem de Verdi aqui em Belo Horizonte, no Palácio das Artes. E eu estarei lá, não para apreciar o som da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, que eu gosto muito, nem do Coro Lírico, tão bem trabalhado pelo Maestro Lincoln Andrade, mas para assistir à combinação dos dois, além dos solistas, nas mãos do Maestro Sílvio Viegas, esse bom filho que retorna aos palcos mineiros, trazendo, além da esperança de novos e brilhantes sons, a experiência adquirida em outras casas, através de orquestras e coros.

Talvez alguns não entendam o por que da escolha de um Requiem, por parte do maestro, para uma estréia, já que se poderia esperar obras musicais de caráter brilhante e apoteótico. Mas, para mim, nada seria mais natural. Conheço o maestro desde os tempos de escola, e se uma palavra resume bem Sílvio, essa palavra é dedicação. Dedicação à música partindo do que há de mais essencial nela.

E, mais uma vez, por que o Requiem? Porque significa muito para aqueles que tiveram na sua formação o Senhor Magnani, figura da qual falo tanto. Na minha humilde visão, não se trata apenas de uma homenagem, mas também da afirmação perante uma sociedade, leiga e musical, que uma lição foi aprendida e apreendida. Assisti um pequeno vídeo promocional do concerto, na última semana, que me trouxe um sorriso aos lábios. Lá, o maestro dizia ser o Requiem uma obra acima de tudo humana. Ah!!! Frescor de palavras humanistas de um músico que sempre amou o universo operístico, mas que entende na obra de Verdi um testamento maior de um compositor de gênero que soube trazer ao mundo, através de um texto essencialmente sacro, uma ópera na melhor concepção de oratório. Impossível ouvir o Requiem sem imaginar as cenas da Divina Comédia, de Dante Alighieri, trazidas ao palco pelo compositor italiano. E quem lhe ensinou isso? Um outro italiano.

Feliz e torcendo muito, eu digo: Vá lá, Sílvio! Mostre-nos estas cenas todas, tão repletas de uma profundidade humana que entende a música como uma extensão de paixões intensas e cheias de esplendor. Cenas de um compositor que se dizia anti-religioso, mas que era, acima de tudo, capaz de se emocionar com a morte de Manzoni e não conseguir, a não ser através de um Requiem, mostrar o tamanho de sua emoção acerca da perda. E que, além disso, essa obra musical abra os caminhos para uma temporada especial e uma seqüência de trabalho profícua e sincera.


E que o melhor sorriso de Magnani lhe diga: SALVE, SÍLVIO!!!


sexta-feira, 25 de março de 2016

Paixão (Fim) (10)


Espero que este passeio pela Paixão segundo São João tenha sido, em primeiro lugar, um bom motivo para a ampliação do conhecimento das obras deste grande mestre, e, em segundo lugar, uma preparação para a vivência deste momento de reflexão íntima, que é a Semana Santa e, especificamente, a Sexta-Feira da Paixão.
Que a reflexão sobre o motivo do sacrifício conduza a todos a uma excelente Páscoa.



ARIA (soprano): Funde-te, coração meu, em rios de lágrimas, em honra do Altíssimo!
Proclama ao mundo e ao céu a tua desgraça: Morto estás Tu Jesus!

EVANGELISTA: Então, os judeus, como era a véspera da Páscoa, para que os corpos não ficassem sábado nas cruzes (pois esse sábado era uma festividade grande), pediram a Pilatos que quebrassem as pernas dos mesmos e que os corpos fossem retirados. Vieram, então, os soldados e quebraram as pernas do primeiro e depois do outro que tinha sido crucificado com ele. Mas, quando chegaram a Jesus, ao ver que estava já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados trapassou o seu peito com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água. Quem o viu, assim o declarou, e o seu testemunho é verídico; sabe que diz a verdade para que assim o creais. Estas coisas sucederam para que se cumprissem as Escrituras: “não serão quebradas as suas pernas”. E também as Escrituras dizem: “Eles verão quem traspassaram”.

CHORAL: Socorre-nos, Cristo, Filho de Deus, pelos teus amargos sofrimentos, para que, submetidos sempre a ti, evitemos qualquer má ação; reconhecendo fecunda a tua morte e a sua razão, ainda que pobres e débeis, oferecemo-te os nossos sacrifícios.



EVANGELISTA: Depois disto, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus (mas em segredo, por temos aos judeus), rogou a Pilatos que o deixasse levar o corpo de Jesus. E Pilatos o permitiu. Então, veio e levou o corpo de Jesus. Foi também com ele Nicodemus, que antes, de noite, tinha visitado Jesus, levando-lhe umas cem libras de mirra e ales misturados. Pegaram o corpo de Jesus e envolveram-no com lençóis perfumados, como os judeus costumavam fazer para enterrar. Junto do lugar onde foi crucificado havia um horto e nele um sepulcro novo, em que ninguém tinha ainda sido enterrado. Nele colocaram, pois, Jesus, por ser dia de preparação dos judeus, já que se encontrava próximo.

CORO: Repousai em paz, restos sagrados, que já não chorarei mais, repousai e dai-me também o repouso! Que a tumba que para vós foi preparada, e que não conhece o sofrimento, abra-me o céu e feche-me o inferno.


CHORAL: Ai, Senhor, faz com que o teu Anjo, no último momento, leve a minha alma ao seio de Abraão; que o meu corpo, no seu lugar de repouso, descanse docemente e sem pesares até o dia do juízo final! Quando da morte acorde, que os meus olhos te vejam com toda a alegria, ó Filho de Deus, Salvador meu e Trono de Graça! Senhor Jesus Cristo, atende-me, louvar-te desejo eternamente!

quinta-feira, 24 de março de 2016

Paixão (Tudo está consumado) (9)


Nesta parte o Cristo morre. Antes algumas das últimas palavras, as quais se perpetuaram ao longo da história dos cristãos. Observem o belo solo de contralto, acompanhado por uma viola da gamba, instrumento belíssimo da família das violas renascentistas, no qual Bach era um virtuose. Na segundo vídeo, ação prossegue até o momento em que as cortinas do templo rasgam e um tremor sacode tudo.



CHORAL: Ele cuidou de tudo na sua última hora. Pensando na sua mãe, assegurou-lhe um protetor: Ó homem, atua com retidão, ama a Deus e aos teus semelhantes até à morte sem queixa, e sem que te aflijas por isso!

EVANGELISTA: E desde esse momento o discípulo manteve-a sob a sua proteção. Depois, sabendo Jesus que tudo estava consumado, a fim de que fossem cumpridas as Escrituras, disse:
JESUS: Tenho sede!
EVANGELISTA: Havia lá uma vasilha cheia de vinagre. Os soldados embeberam uma esponja com o vinagre, espetaram-na numa vara, e aproximaram-na da sua boca. Jesus terminou de tomar o vinagre, e exclamou:
JESUS: Tudo está consumado!

ARIA (contralto): tudo se consumou! Ó, consolo das almas atormentadas! A noite funesta traz à minha mente minha última hora. O herói da Judéia chega vitorioso ao final da sua luta. Tudo se consumou!

EVANGELISTA: Inclinou a cabeça e expirou.



ARIA (Baixo) COM CORO: Meu amado Salvador, deixa-me perguntar-te, agora que estás cravado na cruz e que Tu mesmo disseste: tudo se consumou, estou escusado da morte? Posso por teus sofrimentos e tua morte alcançar o reino dos céus? Foi o mundo inteiro redimido? A dor impede que fales; mas inclinas a cabeça e dizes em teu silêncio: sim, Jesus, Tu, que morreste, vives agora para sempre; na minha última agonia a ninguém me encomendarei mais que a ti, que me aceitas, ó, amado Senhor! Dá-me o que Tu mereceste, nada mais desejo!

EVANGELISTA: Eis que o véu do templo rasgou-se em duas partes, de cima até embaixo. E a terra tremeu, e racharam-se as rochas, abriram-se os sepulcros e levantaram-se os corpos enterrados de muitos santos.


ARIOSO (tenor): Coração meu, enquanto o mundo inteiro sofre com a dor de Jesus, o sol veste-se de luto, o véu rasga-se, as rochas desmoronam-se, a terra treme, as tumbas abrem-se, porque viram morrer o Criador: E tu, que vais fazer?

quarta-feira, 23 de março de 2016

Paixão (Mulher, eis aqui o teu filho...) (8)


Nesta parte, apreciem o belo arioso do baixo (Stephan McLeod), acompanhado pelo coro. Aqui a dramaticidade é plena, mas nada como ouvir as lindas passagens do coro.



ARIA (baixo) E CORO: apressai-vos, almas aflitas, saí do poço do vosso martírio, apressai-vos – para onde? – para o Gólgota! Pegai as asas da fé, voai – para onde? – para o Monte Calvário, lá floresce a vossa bem aventurança!

EVANGELISTA: Lá foi crucificado e com Ele outros dois, um de cada lado e Jesus no meio. Pilatos mandou preparar uma inscrição que dizia: “Jesus de Nazaré, Rei dos judeus”. Muitos judeus leram esta inscrição, já que o lugar onde Jesus foi crucificado era perto da cidade. E estava escrito em hebreu, em grego e em latim. Os príncipes dos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos:
CORO: Não escrevas: Rei dos Judeus, porém o que Ele disse: Eu sou o Rei dos Judeus.
EVANGELISTA: Pilatos respondeu:
PILATOS: Tal e como devia ser escrito, escrito está.

CHORAL: No fundo do meu coração só o teu nome e a tua cruz brilham em qualquer tempo e momento, e isto me enche de alegria. Aparecem como sinal de consolação na minha miséria, e Tu, doce Senhor, sangraste até a morte!

EVANGELISTA: Os soldados, depois de crucificá-lo, pegaram as suas vestimentas e dividiram-na em quatro partes, uma para cada soldado. E como a sua túnica não tinha costuras e estava tecida de alto a baixo, disseram entre eles:
CORO: Não a rasguemos, mas tiremos a sorte para ver quem ganha.
EVANGELISTA: Assim se cumpriu o que está escrito nas Escrituras, que dizem: “Dividiram as minhas vestimentas e sortearam a minha túnica”. Isto foi o que fizeram os soldados. Junto à cruz de Jesus estavam a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria, mulher de Cleofás, e Maria Madalena. Jesus, vendo a sua mãe e junto dela seu discípulo amado, disse a sua mãe:
JESUS: Mulher, eis o teu filho.
EVANGELISTA: Depois disse ao discípulo:

JESUS: Eis a tua mãe.

terça-feira, 22 de março de 2016

Paixão (Crucifica-o... ) (7)


Aqui vamos do momento da flagelação, da coroa de espinhos e do julgamento por Pilatos até a condução do Cristo ao Gólgota. A tensão musical aumenta, os recitativos se torna tensos e expressivos, e o coro assume o papel musical principal. Como não se assustar com a turba gritando "Crucifica-o". Observem:



EVANGELISTA: E os soldados trançaram uma coroa de espinhos, puseram-na sobre a sua cabeça, colocaram-lhe um manto de púrpura e disseram:
CORO: Salve, rei dos judeus!
EVANGELISTA: E davam-lhe bofetadas. Pilatos saiu de novo e disse:
PILATOS: Vede, entrego-o a vós, para que saibais que não encontro Nele delito nenhum.
EVANGELISTA: Jesus saiu, usando a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse-lhes:
PILATOS: Vede, eis o homem!
EVANGELISTA: Quando o viram os príncipes dos sacerdotes e os servos, disseram gritando:
CORO: Crucificai-o, crucificai-o!
EVANGELISTA: Pilatos disse-lhes:
PILATOS: Levai-o e crucificai-o vós mesmos, pois eu não encontro Nele nenhum delito.
EVANGELISTA: Os judeus responderam-lhe:
CORO: Temos uma lei, e segundo essa lei Ele deve morrer, porque considerou-se a si mesmo como Filho de Deus.
EVANGELISTA: Quando Pilatos ouviu isto, atemorizou-se mais, voltou a entrar no pretório e disse a Jesus:
PILATOS: De onde tu és?
EVANGELISTA: Mas Jesus não lhe responde. Então, disse-lhe Pilatos:
PILATOS: Não me responde? Não sabes que eu tenho poder para crucificar-te e poder para soltar-te?
EVANGELISTA: Jesus respondeu:
JESUS: Tu não terias poder sobre mim se não o tivessem concedido a ti teus superiores; portanto, quem me entregou a ti tem maior pecado.
EVANGELISTA: A partir deste momento, Pilatos tentou deixá-lo em liberdade.

CHORAL: Graças ao teu cativeiro, Filho de Deus, recobramos nós a liberdade; a tua prisão é o trono da graça, o lugar da liberdade para todos os piedosos; pois se não tivesse aceitado a escravidão, a nossa duraria eternamente.

EVANGELISTA:  Mas os judeus diziam gritando:
CORO: Se o deixas em liberdade, não és amigo do César; pois quem se proclama rei atenta contra o César.
EVANGELISTA: Quando ouviu isto Pilatos, levou Jesus e sentou-se no tribunal, no lugar denominado Lajedo; em hebreu Gabbatha. Era a véspera da páscoa, pela hora sexta. Pilatos disse aos judeus:
PILATOS: Vede, eis o vosso rei!
EVANGELISTA: Mas eles gritavam:
CORO: Levai-o, levai-o e crucificai-o!
EVANGELISTA: Pilatos disse-lhes:
PILATOS: Hei de crucificar o vosso rei?
EVANGELISTA: Os sumo sacerdotes responderam:
CORO: Nós não temos mais rei que o César.

EVANGELISTA: Então, entregou-o para que fosse crucificado. Apoderaram-se de Jesus e levaram-no. Jesus, carregando a sua cruz, chegou ao lugar chamado Crânio, que em hebreu chama-se Gólgota.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Paixão (um instante de meditação após a flagelação) (6)

Uma curiosidade da Wikipédia: originalmente Bach planejou a Paixão segundo São João para ser apresentada na Igreja de São Tomás, em Leipzig, mas uma decisão de última hora do conselho municipal de música mudou a apresentação para a Igreja de São Nicolau. Bach rapidamente aceitou a mudança de serviço, mas apontou que, como as partituras já estavam impressas e o cravo de São Nicolau precisava de reparos, seria necessário um pequeno investimento no sentido de ampliar o espaço físico para os músicos dentro do coro além de conserto do cravo. O conselho aceitou a reivindicação de Bach e anunciou em toda a cercania de Leipzig a mudança de local, além de realizar todas as solicitações feitas pelo compositor.

A parte a seguir vem logo após o momento em que Pilatos envia o Cristo para a flagelação.      
 

ARIOSO (baixo): Contempla, alma minha, com doloroso gozo, com o coração oprimido por amarga complacência, teu bem supremo no sofrimento de Jesus, observa como os espinhos que o ferem abrem para ti as flores celestiais. De sua angústia obterás abundantes e doces frutos; por isso, observa-o.


ARIA (tenor): Observa como as suas costas ensangüentadas vão por todas as partes parecendo-se com o céu. E, quando a vaga de nossos pecados se extingue, o mais belo dos arco-íris aparece como signo da graça divina.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Os solistas das 7 Palavras

As 7 Palavras, de Hostílio Soares, é uma peça de força que confronta solistas e coro. A tensão obtida na sua execução depende da interação dos mesmos, o que descobri há muito tempo, logo nas primeiras apresentações da obra. Talvez essa interdependência tenha ensinado aos coristas a compartilharem integralmente os solos com os colegas. É necessário “cantar junto”.

Em se tratando de solistas, essa obra sempre foi responsável, no Madrigale, pela apresentação de várias belas vozes ao mundo musical. Como as apresentações foram, num certo momento da história do coro, realizadas de maneira funcional, ou seja, cantada em cerimônias, os solistas eram do próprio coro. Isso me ensinou a valorizar aqueles que se iniciavam, e iniciam, na carreira musical.

Dos solistas dessa apresentação, todos tiveram a oportunidade de começarem suas apresentações com uma boa participação na obra de Hostílio. Perguntem a eles se gostam das 7 Palavras? Nossa convivência, fortalecida pelas muitas apresentações, estreitou, ao longo do tempo, nossas relações. Dos cinco, quatro são meus amigos-irmãos. A quinta caminha para tal. Que é quem?

Aproveitando dessa justificativa, permitam que eu apresente os solistas sob a perspectiva do maestro:


Indaiara Patrocínio – entrou para o Madrigale no início dos anos 2000. Sempre se destacou como um soprano de personalidade e disposta a assumir os solos mais difíceis, principalmente porque era enganada pelo maestro e não tinha consciência da dificuldade dos solos. É, hoje, uma das principais cantoras de Belo Horizonte, atuando profissionalmente como solista e professora de canto. Destaco suas participações como solista na Missa em si menor, de J. S. Bach; no Requiem, de Mozart; e na Missa Afro-Brasileira, de Carlos Alberto Pinto Fonseca.



 Patrícia Cardoso Chaves – conheci essa cantora nos cursos da Escola de Música da UEMG. Logo se mostrou portadora de uma voz impressionante e carismática. Conhecida e querida nos meios musicais de Belo Horizonte, hoje é professora de canto na Escola de Música da Universidade de Ouro Preto. Destaco sua participação em Dido e Aeneas, de Purcell; no Requiem, de Mozart; na Paixão segundo São João, de Bach; e única na interpretação da Ave Maria, de Caccini.


Joubert Oliveira – sem comentários. Joubert cantou na minha formatura. A peça? A própria 7 Palavras. Um cantor iniciante, à época, e que se tornou um tenor sensacional e especial dentro do Madrigale e no cenário artístico da capital. Hoje, é o mais antigo dos cantores atuantes no coro. Destaco: Missa em si menor, de J. S. Bach; no Requiem, de Mozart; Messias, de Haendel.


Mauro Chantal – foi apresentado ao mundo dos solistas pela Missa em Sol, de Hostílio Soares. Sempre participou das montagens das 7 Palavras. Hoje é um renomado cantor já tendo se apresentado em óperas diversas e montagens sinfônicas das mais variadas.  Além disso, é professor de canto na Escola de Música da UFMG. Um bom percurso, não? Nem destaco nada, pois ele sempre chama atenção pela sua bela e potente voz de baixo.



Mariana Redd – a caçula dos solistas. Dotada de uma voz de colorido único e expressividade natural, assume a responsabilidade dos solos de contralto. Essa vale a pena conferir na próxima terça-feira. Quem estiver lá, verá. Ah! Sim. Cantora formanda na Escola da UEMG e participante de concertos no Coro Lírico de Minas Gerais.


Ah! E não posso me esquecer de quem nos acompanhará. Patrícia Valadão é uma das mais renomadas pianistas do país. Dispensa apresentações.

Paixão (Pilatos... Barrabás... Flagelação) (5)

Aqui se inicia a segunda parte, mais longa do que a primeira. O papel do coro é essencial e intenso, o que já é determinado pela sua intervenção imediata. Nessa primeira cena, o Cristo confronta Pilatos, que tenta liberá-lo. Mas, no final, a turba exige a sua troca por Barrabás. E ele foi flagelado.

Notem como o coro participa da ação (representando a turba) cantando raivosamente, o que é interpretado por Bach em escala por semitons. Uma maneira simbólica, em música, de criar tensão. E como funciona!!!



CHORAL: Cristo que nos torna bem aventurados e que não fez mal nenhum, na noite foi por nós, como um ladrão, preso, apresentado ante pessoas ímpias e falsamente acusado, vexado, escarnecido e humilhado, como dizem nas Escrituras.

EVANGELISTA: Levaram Jesus da casa de Caifás ao pretório, onde não entraram para não se sujarem e poder comemorar a Páscoa. Pilatos dirigiu-se, então, a eles, dizendo:
PILATOS: Que acusação tendes contra este Homem?
EVANGELISTA: Eles responderam-lhe dizendo:
CORO: Se não fosse um malfeitor, não o estaríamos entregando.
EVANGELISTA: A isso Pilatos replicou:
PILATOS: Levai-o e julgai-o segundo a vossa lei!
EVANGELISTA: E os judeus disseram:
CORO: Não nos é permitido matar.
EVANGELISTA: Assim se cumpria a palavra de Jesus acerca de sua morte. Pilatos voltou a entrar no pretório, chamou Jesus e disse-lhe:
PILATOS: És Jesus, o rei dos judeus?
JESUS: Dizes isto por ti mesmo, ou te disseram outros de mim?
EVANGELISTA: Pilatos respondeu:
PILATOS: Sou por acaso judeu? O teu povo e os príncipes dos sacerdotes entregaram-te a mim; que fizeste?
EVANGELISTA: Respondeu Jesus:
JESUS: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, meus servos teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.

CHORAL: Ó, grande Rei, grande por todos os tempos! Como poderia eu aumentar esta fidelidade? Nenhum coração humano poderia conceber como corresponder aos teus dons. Com os meus sentidos não poderia alcançar o que possa ser comparado com a tua misericórdia. O que poderia oferecer-te para corresponder ao teu amor por mim?

EVANGELISTA: Pilatos disse-lhe:
PILATOS: És, então, um rei?
EVANGELISTA: Jesus respondeu:
JESUS: Tu o disseste, sou um rei. Nasci e vim ao mundo para isso, para dar testemunho da verdade. Todo aquele que busca a verdade, escuta a minha voz.
EVANGELISTA: Pilatos disse-lhe:
PILATOS: O que é a verdade?
EVANGELISTA: Depois de dizer isto, saiu de novo para dizer aos judeus:
PILATOS: Não encontro culpa alguma Nele. Mas, como tendes o costume de que vos solte um preso, quereis que deixe em liberdade o rei dos judeus?
EVANGELISTA: De novo gritaram,dizendo:
CORO: Não Esse, mas Barrabás!

EVANGELISTA: Barrabás era um assassino. Pilatos prendeu Jesus e mandou que o flagelassem.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Paixão (demais negações de Pedro...) (4)


No dia de hoje, convido-os a ouvirem o final da primeira parte da Paixão. Aqui são narradas as duas últimas negações de Pedro. Chamo a atenção para a maneira como Bach descreve musicalmente o “choro” de Pedro (1:47).

Atentem-se, também, para as reflexões bachianas sobre a ação na ária de tenor e no Choral final. As referências são sempre sobre o que está acontecendo nas cenas. Para nós, ouvir grandes Arias é, muitas vezes, difícil porque insistimos em buscar somente na música o entendimento e o embevecimento. Não. Não é assim. Principalmente quando tratamos de música com palavras, a compreensão do que acontece é essencial. Observem. Numa Paixão há partes narrativas e de reflexão. Como viver intensamente a música se você não entende o contexto, a intenção do compositor, a referência histórica, a ação em si... Percebam. Música é mais do que algo que “a arte de manifestar os diversos afetos de nossa alma mediante o som”. Isso pode estar correto, mas a alma deve estar preparada. E cada vez mais preparada.



EVANGELISTA: E Anás enviou-o, amarrado, ao sumo sacerdote Caifás. A Simão Pedro, que estava junto do fogo, foi-lhe perguntado:
CORO: Não és tu um dos seus discípulos?
EVANGELISTA: Mas ele o negou dizendo:
PEDRO: Não sou.
EVANGELISTA: Pedro negou uma vez mais, e naquele momento cantou o galo. Então, lembrou-se Pedro do que lhe dissera Jesus, saiu e chorou amargamente.

ARIA (tenor): Ai, alma minha! Aonde iria eu agora, onde encontraria eu repouso? Devo ficar aqui, ou fugir para o cimo das colinas e montanhas? Em todo o mundo não há repouso, e o meu coração está consumido de dor por meus pecados, pois o servo negou o seu Senhor.


CHORAL: Pedro, que não quer recordar, nega o seu Deus; mas pela sua séria mirada chora amargamente. Jesus, fita-me quando demore para arrepender-me; quando cometa uma falta, abala a minha consciência! 

quarta-feira, 16 de março de 2016

Paixão (Onde Pedro nega o Cristo...) (3)

Nesta parte do vídeo, é descrita a cena da primeira negação de Pedro e quando o Cristo é esbofeteado.  

Notem duas formas barrocas importantes, as quais aparecem nos oratórios e cantatas:
1) Aria da capo – uma introdução instrumental (0:13 – 0:32); a apresentação do tema A, pela solista e seu desenvolvimento (0:32 – 1:02); uma parte  contrastante em caráter com a primeiro tema (1:12 – 2:34); a recapitulação (volta à cabeça – CAPO) do tema A (2:35 até o fim). Forma ABA;
2) Choral (6:58 ao fim) – a melhor tradução em português é Hino Religioso. O texto é apresentado com uma melodia simples, cantada pela voz mais aguda e harmonizada pelas demais, o qual usualmente era cantado pela assembléia. Reflexivo, nas grandes formas serve para fechar seções (atos). Um mesmo hino (choral) pode ser harmonizado de muitas maneiras diferentes. Um exemplo muito conhecido de Choral é o “Jesus, alegria dos homens“, coro da Cantata 147: o hino é a parte que o soprano canta ao longo da música; a melodia instrumental e as outras vozes do coro são criação magistral de Bach. Ah, sim! Alguém ainda tem dúvidas de que Choral não é simplesmente aquela parte cantada pelo Coral (Coro)?



EVANGELISTA: Simão Pedro e outro discípulo seguiram Jesus.

ARIA (soprano): Eu também te sigo com passo alegre e não te abandono, minha vida, minha luz. Faz com que meu passo se anime, que não me detenha, impulsiona-me, empurra-me!

EVANGELISTA: Este discípulo era conhecido do sumo sacerdote e entrou com Jesus no palácio do sumo sacerdote. Mas Pedro ficou do lado de fora, na porta. O outro discípulo, o conhecido do sumo sacerdote, saiu, falou com a porteira e introduziu Pedro. Então, a serva, a porteira, disse a Pedro:
SERVA: Não és tu um dos discípulos desse Homem?
EVANGELISTA: Ele disse:
PEDRO: Não sou.
EVANGELISTA: Como fazia frio, os criados e os servos acenderam uma fogueira para se esquentar. E Pedro estava entre eles esquentando-se. O sumo sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e seus ensinamentos. Jesus respondeu-lhe:
JESUS: Falei aberta e publicamente ao mundo. Sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde se congregam todos os judeus, nada fiz em segredo. Por que me interrogas? Pergunta aos que me escutaram o que eu lhes disse! Eles sabem o que eu falei.
EVANGELISTA: Quando disse isto, um dos servos que lá se encontravam deu em Jesus uma bofetada e disse-lhe:
SERVO: Assim respondes ao sumo sacerdote?
EVANGELISTA: E respondeu Jesus:
JESUS: Se falei mal, dize-me o que foi; e se falei bem, por que me golpeias?


CHORAL: Quem te golpeou, meu Salvador, e tão rudemente maltratou? Tu não és um pecador como nós e nossos filhos,  nenhuma falta cometeste. Eu, eu e meus pecados tantos como grãos de areia há nas praias, somos os causadores da pena que te aflige, do martírio que padeces.

terça-feira, 15 de março de 2016

Paixão (Onde o Cristo é preso) (2)


Seguindo o post de ontem e ouvindo a Paixão São João, de Bach, é importante entender a diferença entre Recitativo, Aria e Coro. O Recitativo é descritivo, criando tensões musicais de acordo com o texto narrado; é melodia acompanhada por um conjunto de cravo, ou órgão, e violoncelo, chamado de baixo contínuo. A Aria é formal, com tema bem definido, e de dimensões longas; na maioria das vezes, a Aria é reflexiva, expondo sentimentos individuais. O Coro tece reflexões coletivas, profissões de fé de atos pontuais ou de fé coletiva, ou representa o povo, dentro da narração. Tanto a Aria, quanto o Coro reflexivo (Choral), aparecem como elementos de suspensão da narração.

Nesta parte, o Evangelista, solista tenor, narra a ação a partir do momento em que o Cristo é traído por Judas e preso pelos soldados, sendo levado aos sumo-sacerdotes. Participam da ação o Cristo (baixo), o coro (representando a turba e cantando hinos reflexivos – Choral), e o solista contralto (reflexão sobre a ação). Sigam:



EVANGELISTA: Jesus dirigiu-se com os seus discípulos ao outro lado do arroio Cedro, onde havia um horto onde entraram Jesus e os seus discípulos. Judas, o que o trairia, conhecia também o lugar, pois Jesus e os seus discípulos tinham-se reunido lá em outras ocasiões.
Então, Judas chegou com uma coorte de soldados, com os servos dos sacerdotes e com os fariseus, carregando tochas, lanternas e armas. E Jesus, sabendo o que estava acontecendo, adiantou-se e disse-lhes:
JESUS: Quem estais buscando?
EVANGELISTA: Eles responderam-lhe:
CORO: Jesus de Nazaré!
EVANGELISTA: Jesus disse-lhes:
JESUS: Sou eu.
EVANGELISTA: Judas, o que o estava traindo, também estava com eles. Quando Jesus lhes disse: sou eu, retrocederam e caíram no chão. Então, voltou a perguntar-lhes:
JESUS: Quem estais buscando?
EVANGELISTA: E disseram:
CORO: Jesus de Nazaré!
EVANGELISTA: Jesus disse-lhes:
JESUS: Já lhes disse que sou eu; se me estais buscando, deixai que estes partam.

CORAL: Ó grande amor, ó amor sem limites, que te leva a caminho do martírio!
Eu vivia entregue ao prazer e às alegrias mundanas, e Tu tens de sofrer.

EVANGELISTA: Assim se cumpriu a palavra que dizia: “Não perdi nenhum dos que me encomendaste”. Então, Simão Pedro, que tinha uma espada, a desembainhou e feriu com ela um servo do sumo sacerdote, cortando a sua orelha direita. O servo chamava-se Malco. Então, disse Jesus a Pedro:
JESUS: Guarda a tua espada na sua bainha! Por que não hei de beber do cálice que o meu Pai me oferece?

CORAL: Faça-se a tua vontade, Senhor Deus, assim na terra como no céu.
Dá-nos paciência no sofrimento, obediência no amor e na dor;
Defende-nos e conduz a carne e o sangue que contra a tua vontade agem.

EVANGELISTA: A coorte, o tribuno e os servos dos judeus prenderam Jesus, ataram-no e levaram-no, primeiro, ante Anás, sogro de Caifás, que era sumo sacerdote naquele ano. Era Caifás o que tinha dito aos judeus que seria bom que um homem morresse pelo povo.


ARIA (contralto): Para desatar os laços dos meus pecados é amarrado o meu Salvador; para sarar a minha ferida, deixa-se golpear.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Que tal ouvir uma Paixão?

Faltam 12 dias para a Sexta-Feira Santa, dia em que nos lembramos da morte do Cristo. Normalmente, neste dia, reflito sobre este momento trágico e ouço as paixões de Bach. Nem todo o mundo se anima a tal, pois, além de serem grandes para uma audição leiga, também têm o inconveniente de serem em alemão.

Pois bem, convido àqueles que leem este post a me seguirem numa audição conta-gotas da belíssima Paixão segundo São João. Eu falarei aos poucos da mesma e emendarei com as traduções das partes sendo cantadas. Para tal, escolhi uma gravação, no mínimo, inusitada: um coro japonês, maestro japonês, com solistas europeus, e músicos de orquestra japoneses. Que tal? Garanto que é uma execução primorosa. Se gostarem, quem sabe não nos animemos a ouvir a Paixão segundo São Mateus no próximo ano, que é muito maior e mais complexa. Vamos lá, comecemos imediatamente.

Como primeiro elemento, lembro que as paixões são ORATÓRIOS. Simplificando, oratórios são óperas sem encenação, as quais eram apresentadas nas igrejas, aos fiéis, nos dias específicos de comemoração. Paixões = Semana Santa = Morte do Cristo.

A Paixão segundo São João, BWV 245, foi composta em Leipzig, para a Semana Santa de 1724.  Na primeira parte, a primeira cena se localiza no Vale do Cédron. A obra tem início com o Coro:
 “Herr, unser Herrscher, dessen Ruhm in allen Landen herrlich ist” (Senhor, soberano, teu nome glorioso em toda a terra é maravilhoso!)

Boa audição e até amanhã. 


Bach Coleguium Japan
Regente: Massaki Suzuki