sexta-feira, 31 de outubro de 2025

O Centenário em ritmo brasileiro - a parte popular do concerto

Falei, no dia 09/10, do concerto comemorativo do Centenário da Escola de Música da UFMG. Depois da força ritual de The Making of the Drum, o concerto se abriu para outro tipo de celebração: a da música popular brasileira.

Era importante que, nesse marco de cem anos, a Escola também se reconhecesse em todas as suas linguagens, e a música popular é hoje uma parte essencial da sua identidade acadêmica e artística. Cantar esse repertório foi, portanto, uma forma de afirmar que o saber popular e o saber erudito convivem, dialogam e se completam dentro da mesma casa.

O repertório trouxe duas peças emblemáticas: Pra Machucar Meu Coração (Ary Barroso) e Lata D’água (Jerônimo Jardim / Luiz Antônio), ambas em arranjos corais que revelavam a força rítmica e a sutileza poética da canção brasileira.

Mais do que encerrar o programa, essas obras representaram um gesto simbólico: o Ars Nova, coral da UFMG, abria espaço para a canção que vem da rua, do morro, do corpo e da memória coletiva. E foi justamente a imagem da lata d’água que se tornou símbolo do concerto e da própria Escola.

Na canção, Maria sobe o morro equilibrando o peso e a coragem, como tantas mulheres brasileiras que sustentam o lar e a vida com dignidade. Essa imagem, tão simples e tão forte, também reflete o que é a nossa Escola de Música: uma instituição que há cem anos carrega, com esforço e honra, o peso da tradição e da esperança, mantendo viva a arte, a memória e o ensino musical em Minas Gerais.

A apresentação contou com participações especiais que deram ainda mais cor e vitalidade a essa parte do concerto:

Lucas Telles (violão), Fernando Rocha (percussão), Júlio Bastos (piano) e Davidson Inácio (baixo).

A presença deles trouxe o sabor da música feita em roda, com liberdade e escuta mútua, o encontro entre o rigor coral e a espontaneidade popular. Foi o encerramento perfeito para uma noite que celebrou não apenas a história da Escola, mas o seu presente.

Depois da percussão simbólica de Chilcott, veio a percussão real; depois do canto litúrgico, o canto da vida cotidiana. O Centenário terminou como devia: afirmando a pluralidade que faz da Escola de Música um espaço sustentado, todos os dias, por quem carrega, como Maria, a beleza e o peso de mantê-la viva.

https://youtu.be/9kaEEGlIarY?si=B10wS1XBv-wqZGYp&t=1452




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