A Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, é um dos grandes centros culturais e científicos da Europa. Criada em 1956, ela nasceu do legado do filantropo armênio Calouste Gulbenkian, e desde então se tornou referência em promoção das artes, da ciência e da educação.
Seu edifício-sede é cercado por jardins, abriga museus,
salas de concerto e uma das mais respeitadas bibliotecas do continente. Foi lá
que estive recentemente, em busca de documentos que revelassem um capítulo
pouco conhecido da história do Madrigal Renascentista: a sua passagem por
Lisboa, em 1970.
A experiência de pesquisa na Gulbenkian é, por si só,
memorável. Os arquivos são exemplarmente organizados, com fichas precisas,
digitalização criteriosa, agendamento exclusivo e atendimento atencioso e
silencioso. Tudo parece construído para acolher o pesquisador.
E então veio a surpresa: primeiro que, ao chegar lá, após
fazer meu cadastro imediato, uma funcionária imediatamente me levou a um computador onde
os arquivos que eu procurava já estavam separados à minha espera. Um dossiê com
arquivos selecionados com cartas e telegramas trocados entre Lisboa e Belo
Horizonte. Registros que revelam o caminho administrativo e diplomático que
permitiu ao coro mineiro cantar na Fundação.
O mais interessante é que essa apresentação não fez parte
das apresentações da turnê chanceladas pelo governo brasileiro. Foi, antes, um contrato
direto com uma das instituições musicais mais prestigiadas do mundo,
reconhecendo o Madrigal como um grupo de mérito próprio, respeitado e convidado
pela sua qualidade artística.
Esses documentos atravessaram o Atlântico há mais de meio século, e hoje voltam a respirar na tentativa de compreender a amplitude dessa história. Cada telegrama, cada assinatura, é uma prova de que a música, mesmo quando nasce em um canto distante, encontra sempre o seu caminho até o centro das coisas.
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