sábado, 11 de outubro de 2025

The Making of the Drum — 1. The Skin (A Pele)

 

Nos próximos posts, quero partilhar uma das obras corais que mais me marcaram nos últimos tempos: The Making of the Drum, de Bob Chilcott, sobre textos do poeta Edward Kamau Brathwaite. A peça narra o nascimento de um tambor, da preparação da pele até a celebração final, e, ao mesmo tempo, fala sobre algo maior: o próprio mistério da criação.

Chilcott transforma essas imagens em música coral de uma simplicidade rara, quase ritual, em que o som nasce da terra e termina no espírito. Mais do que uma obra sobre um instrumento, The Making of the Drum é uma meditação sobre a vida que pulsa dentro de cada som.

 

Este primeiro movimento fala da preparação da pele do tambor, um momento físico, mas também espiritual. É o instante do sacrifício e da transformação, quando a vida cede espaço à arte, e o que era corpo se torna som.

O poema descreve a retirada e o estiramento da pele de uma cabra. É um gesto duro, mas feito com reverência: a consciência de que toda criação nasce de uma entrega. A pele, agora transformada, vibra para dar voz ao tambor, e, por meio dela, o homem fala com os deuses.

Musicalmente, Chilcott traduz isso com gestos precisos: ritmos que lembram o toque do tambor, harmonias tensas que sugerem o estiramento da pele, e contrastes entre quietude e intensidade. É uma música feita de força e respeito, uma oração à própria matéria do som.

A cena inicial da obra é dura e sagrada. Não se trata apenas de fabricar um instrumento, mas de compreender o preço e o sentido da criação. O som que nasce dessa pele é memória e oferenda. Ouvir The Skin é reconhecer que todo canto verdadeiro carrega, em algum lugar, um gesto de entrega.

Vou sugerir a audição da bela interpretação Taipei Chamber Singers, sob a regência de Yun-Hung Chen. Esta primeira peça vai do minuto 0:00 até 2:10. E amanhã eu falo sobre a segunda peça: The barrel of the Drum.


🎧 The Making of the Drum (Bob Chilcott) - Taipei Chamber Singers / Conductor: Yun-Hung CHEN


The Skin

(Edward Kamau Brathwaite)

First the goat

must be killed

and the skin

stretched.

Bless you, fourfooted animal, who eats rope,

skilled

upon the rocks, horned with our sin;

stretched your skin, stretch

it tight on our hope;

we have killed

you to make a thin

voice that will reach

further than hope,

further than heaven, that will

reach deep down to our gods where the thin

light cannot leak, where our stretched

hearts cannot leap. Cut the rope

of its throat, skilled

destroyer of goats; its sin

spilled on the washed gravel, reaches

and spreads to devour us all. So the goat

must be killed

and its skin

stretched.

 

Tradução livre

Primeiro, a cabra

deve ser morta

e a pele

esticada.

Bendito sejas, animal de quatro patas,

que come corda,

ágil sobre as rochas, cornudo com nosso pecado;

esticamos tua pele, esticamos

bem firme, firme em nossa esperança;

nós te matamos

para criar uma voz fina

que alcançará

além da esperança,

além do céu, que chegará

até nossos deuses, onde a luz tênue

não pode penetrar, onde nossos corações esticados

não podem saltar. Corta a corda

da tua garganta, hábil

destruidor de cabras; teu pecado

derramado sobre a brita lavada se espalha

e nos devora a todos. Assim, a cabra

deve ser morta

e sua pele

esticada.

 


Vaso de cerâmica

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