Quero começar uma breve série de textos sobre canto coral, um tema que merece ser revisitado.
Nos últimos tempos, a palavra “coral” passou a designar
qualquer grupo de pessoas que canta junto, e isso acabou diluindo um conceito
que carrega história, técnica e propósito artístico. É importante recuperar o
sentido das coisas.
Há uma diferença essencial entre um orfeão e um coro: o
orfeão é um agrupamento mais amplo, coletivo, muitas vezes formado por pessoas
sem formação musical, reunidas pelo prazer de cantar e pelo valor social dessa
experiência.
O coro, por sua vez, pressupõe um trabalho técnico e
interpretativo mais apurado, vozes equilibradas, repertório pensado, ensaio
dirigido por um regente com intenção estética. O professor Ricardo Goldemberg* resume bem:
“O orfeão tem características próprias que o distinguem do
canto coral dos conjuntos eruditos. Trata-se de uma prática da coletividade em
que se organizam conjuntos heterogêneos de vozes e tamanho variável, sem
exigência de conhecimento musical ou treinamento vocal.”
Em contrapartida, o canto coral busca organização, precisão
e expressão. Não é apenas um conjunto de pessoas que canta; é um organismo
sonoro que pensa, respira e sente junto. E aqui não interessa se são duas,
três, quatro ou mais vozes.
Mas o canto coral não é privilégio da técnica, é também educação, convivência e escuta. Cantar em grupo, mesmo de forma simples, é um ato de encontro. E talvez, no fim das contas, seja isso o que nos mantém humanos: a capacidade de escutar o outro para fazer soar o mesmo som.
Nos próximos posts, sigo nessa conversa.
* GOLDEMBERG, Ricardo. Educação musical: a experiência do
canto orfeônico no Brasil. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8644264/11690>.
Acessado em: 17/10/2025.
2 comentários:
Parabéns pela explicação clara e didática 👏🏻👏🏻👏🏻
Descobri minha vida no canto coral. E não pretendo largar!
Belo trabalho, professor!
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