Com o passar dos anos, quando já me encontrava diante do coro como jovem regente, percebi que algo silencioso acontecia ali dentro. O Coral Dom Silvério não era mais apenas a instituição que me formara, ele começava, pouco a pouco, a ser transformado por nós, aqueles mesmos meninos que haviam chegado tímidos, sopranos e contraltos, sem imaginar o destino que nos aguardava.
Éramos adolescentes assumindo responsabilidades de adultos, mas com a leveza e a coragem de quem acredita profundamente no outro. E foi essa confiança mútua que permitiu que eu modificasse, aos poucos, a estrutura do coro. Começamos a experimentar novos repertórios, buscar um refinamento vocal maior, trabalhar nuances, afinação, fraseado, tudo aquilo que, até então, parecia reservado a coros mais experientes.
Mas nós acreditávamos. Acreditávamos uns nos outros. Éramos atrevidos demais!!! E esse é um dos maiores segredos de qualquer grupo artístico: não é a idade que define a maturidade musical, mas a entrega.
Os mais velhos, crescemos juntos e tratávamos os mais novos como irmãos menores. Havia um cuidado silencioso, quase ritual: ajudá-los com as entradas, apoiá-los nos ensaios, ensiná-los a escutar, mostrar como se portar, e lembrá-los, sempre, de que eram parte de um corpo maior. Eles nos olhavam com admiração, e nós sabíamos disso. Carregávamos essa responsabilidade com orgulho e com uma alegria meio ingênua, mas muito verdadeira.
Aquele "Coral" era mais que um coro: era uma pequena comunidade afetiva, onde cada gesto moldava o caráter de todos nós. Era uma escola de humanidade. Os ensaios, as conversas, as risadas no intervalo, a disciplina, o cuidado com a pasta, o silêncio na hora certa, tudo era aprendizado. Vivemos juntos até os meus 20 anos. Foi quando minhas ideias sobre o que o coro poderia ser, e se tornar, começaram a divergir das do maestro titular. Não houve conflito aberto, apenas uma incompatibilidade que cresceu quieta, como uma fissura fina entre duas paredes que já não se encaixam. E aí chegou a hora de sair...
Sair dói, mesmo quando é necessário. Lembro-me de sentir o coração apertado ao me afastar daquele grupo que tinha sido meu mundo desde os treze anos. Mas a música é feita de ciclos, e eu já precisava seguir para outros caminhos.
O que ficou? As ideias!!! Aquelas que nasceram ali, na convivência com meus companheiros, na confiança construída, nos repertórios que ousamos tentar. Todas elas ficaram comigo. Foram sementes que carreguei para outros coros, para outros palcos, para a vida inteira.
Hoje, quando penso no Coral Dom Silvério, vejo um menino descobrindo a própria voz, um adolescente descobrindo a regência e um jovem descobrindo que o canto coral é, acima de tudo, um modo de estar no mundo. E assim, o que vivi ali não terminou quando deixei a sede do coro. Pelo contrário: foi ali que tudo começou a durar...
P.S. Para aqueles antigos que virem essa foto abaixo... ESSA TURMA, ESSE CORO, ERA MUITO BOM!!!
Em cima: Fabiano, Nivaldo, Zé Ronaldo, Geraldo, Éder,
Marcelo, Cleber José, Warley, Cleber de Castro, Moreno, Geraldo, Sérgio, Jacson
Meio: Rogério, Wagner, Ronilton, Eduardo, Goiaba, Andinho,
Robert, Evaldo, Fernando, Ricardo, Anderson, Carlos Saúva, Paulo Henrique,
Adelmo
Embaixo: Wagner, Ricardinho, Jeferson, Pablo, Rilton,
Ivisson, Ismar, Robert, Russifrank, Cláudio (Batuta), Carlitinho
Oi....E você não estava nessa foto????
ResponderExcluirSim, estou. Onde está o Wally?
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