terça-feira, 7 de outubro de 2025

Entre telas e vozes: o Madrigale virtual

Se o silêncio da pandemia foi duro, ele também nos empurrou para uma experiência que jamais imaginaríamos: cantar sem estar juntos. O Madrigale, assim como tantos outros coros, precisou se reinventar. E assim nasceram os nossos coros virtuais, mosaicos digitais que uniam vozes espalhadas pela cidade, cada uma gravada em sua casa, mas que, quando reunidas, formavam de novo um vitral colorido.

Era tudo novo. Cada cantor gravava como podia: celular, microfone improvisado, quartos transformados em estúdios. Havia ruídos, atrasos, inseguranças. E eu? Deixei de ser apenas maestro para virar também técnico de som, editor de paciência, orientador à distância. O gesto que sempre conduziu respirações coletivas virou instrução por e-mail, referência gravada, tentativa de recriar no virtual aquilo que só existe plenamente na presença.

E, no entanto, o resultado surpreendia. Não era o som vivo do ensaio, não havia aquela vibração imediata que preenche o corpo, mas havia uma força própria: a prova de que, mesmo separados, ainda éramos um coro. Cada vídeo lançado pelo Madrigale naquele tempo foi um lembrete de que a música não se deixa aprisionar por paredes, nem por telas, nem pelo medo.

Foi um aprendizado. De técnica, sim. De paciência, certamente. Mas, sobretudo, de vínculo. Descobrimos que cantar junto não é apenas estar lado a lado: é partilhar uma intenção, é confiar que a voz do outro também virá, mesmo que gravada horas depois, em outro canto da cidade.

Hoje, quando revejo aqueles registros, sinto como se fossem cartas enviadas de uma ilha distante. Mensagens que diziam, com todas as vozes juntas: “continuamos aqui”. E de fato continuamos. O Madrigale permaneceu vivo. Porque a música, mesmo confinada às telas, insistiu em nos unir.

 


👉 Vou convidar a todos a observarem o que foi uma evolução na produção dos coros virtuais. Esse primeiro, ou talvez o movimento dos CV, não existiria se não fosse a dedicação inicial da Manu, da Redd, do Gabriel e do Leandro. 

2 comentários:

Leandro Braga disse...

Agradeço muito por ter se lembrado de mim! Foi uma experiência triste pela distância, desafiadora porque não sabíamos o resultado, e atrevida, pois colocava um coro já conhecido pela sua qualidade aos olhos do mundo de um jeito diferente — algo que podia dar muito errado, mas que, felizmente, deu certo. Foi a forma que encontramos para manter o coro vivo, assim como a esperança da volta. Tenho certeza de que conseguimos tocar o coração de muitos naquela época.

Marília Ruas disse...

Foi uma experiência incrível, apesar de todas as incertezas vividas. Aquilo daria certo? Foi um questionamento que, quando da proposta inicial, me veio muito na mente. Como assim? Gravar uma música à distância, sem referência das outras vozes, sem a presença do maestro? Tudo muito novo e desafiador. Era, praticamente, uma exposição da sua voz. Era como fazer um solo, em muitos casos, sem ser solista. Bateu um medo/insegurança enormes em mim. A princípio falei que não ia participar, mas vendo o vídeo “exemplo” e com o incentivo do Arnon, me animei e acabei gravando. Difícil demais ouvir a sua própria voz, ali sozinha, “exposta”. Grava uma, duas, três, vinte vezes, para chegar à conclusão, na maioria das vezes, que as primeiras foram sempre as melhores. O resultado foi maravilhoso! A cada coro virtual realizado o resultado só melhorava e temos a certeza de que tudo aquilo nos marcou profundamente no campo técnico e, principalmente, no campo espiritual. O Madrigale seguiu firme emocionando e sendo, interiormente, emocionado.

Entre telas e vozes: o Madrigale virtual

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