terça-feira, 21 de outubro de 2025

Falando sobre Canto Coral

Quero começar uma breve série de textos sobre canto coral, um tema que merece ser revisitado.

Nos últimos tempos, a palavra “coral” passou a designar qualquer grupo de pessoas que canta junto, e isso acabou diluindo um conceito que carrega história, técnica e propósito artístico. É importante recuperar o sentido das coisas.

Há uma diferença essencial entre um orfeão e um coro: o orfeão é um agrupamento mais amplo, coletivo, muitas vezes formado por pessoas sem formação musical, reunidas pelo prazer de cantar e pelo valor social dessa experiência.

O coro, por sua vez, pressupõe um trabalho técnico e interpretativo mais apurado, vozes equilibradas, repertório pensado, ensaio dirigido por um regente com intenção estética. O professor Ricardo Goldemberg* resume bem:

“O orfeão tem características próprias que o distinguem do canto coral dos conjuntos eruditos. Trata-se de uma prática da coletividade em que se organizam conjuntos heterogêneos de vozes e tamanho variável, sem exigência de conhecimento musical ou treinamento vocal.”

Em contrapartida, o canto coral busca organização, precisão e expressão. Não é apenas um conjunto de pessoas que canta; é um organismo sonoro que pensa, respira e sente junto. E aqui não interessa se são duas, três, quatro ou mais vozes.

Mas o canto coral não é privilégio da técnica, é também educação, convivência e escuta. Cantar em grupo, mesmo de forma simples, é um ato de encontro. E talvez, no fim das contas, seja isso o que nos mantém humanos: a capacidade de escutar o outro para fazer soar o mesmo som.

Nos próximos posts, sigo nessa conversa.

 

* GOLDEMBERG, Ricardo. Educação musical: a experiência do canto orfeônico no Brasil. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8644264/11690>. Acessado em: 17/10/2025.

 




2 comentários:

Joao Sofal disse...

Parabéns pela explicação clara e didática 👏🏻👏🏻👏🏻

Phill disse...

Descobri minha vida no canto coral. E não pretendo largar!
Belo trabalho, professor!

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